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Cães são animais carnívoros ou onívoros?

25 de janeiro de 2011
5 min. de leitura
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Por Sérgio Greif  (da Redação)

Há assuntos que continuamente ressurgem entre vegetarianos, defensores dos direitos animais e o público em geral. Um desses assuntos se refere ao status de cães em relação aos seus hábitos alimentares: Se cães são carnívoros ou onívoros. Já tive a oportunidade de manifestar minha opinião em relação ao assunto, para pessoas que me questionaram individualmente. Porém, considerando ser um assunto recorrente e com o qual creio que não se deva despender muito mais energia, escrevo o presente texto.

Para efeitos de classificação, cães são animais mamíferos pertencentes à Ordem Carnívora. Essa é uma ordem bastante diversificada de mamíferos, mais de 260 espécies, que partilham entre si um ancestral comum próximo, além de algumas características físicas comuns a quase todas as espécies (pés com quatro ou cinco dedos, unhas em forma garras, dentes adaptados para cortar, com a presença de caninos fortes, cônicos e pontiagudos).

Taxonomistas tem consciência de que o termo aplicado à Ordem – Carnivora – está defasado. A denominação até hoje presente é antiga (1821) e se baseia no hábito alimentar predominante dentro do grupo.  Hoje se reconhece que chamar a uma ordem de mamíferos Carnívoros gera confusão, porque se por um lado o nome permite agrupar familias aparentadas, por outro ela pretende nos dizer o que esses animais comem, o que não pode ser generalizado.

Não existe uma ordem de mamíferos chamada herbívora e uma outra chamada onívora. Animais são classificados com base em seus ancestrais comuns e suas características físicas, não com base em seus hábitos alimentares. Assim, dentro da maioria das ordens de mamíferos há animais que consomem carne ou insetos e por outro lado há, dentro da Ordem Carnívora, animais que nunca ou quase nunca consomem carne.

Há Mamíferos Carnívoros que pelo seu hábito alimentar na natureza são carnívoros obrigatórios (felinos,  furões, ursos polares, focas, etc), outros consomem parte de sua dieta em carne e parte em vegetais e por isso devem ser considerados  taxonomicamente carnívoros, embora com hábitos onívoros (ursos, guaxinins, quatis, canídeos, etc) e alguns deles, inclusive, alimentam-se basicamente de vegetais (urso-panda)

O lobo cinzento (Canis lupus), espécie da qual deriva o cão doméstico, é uma espécie carnívora com hábitos alimentares onívoros. Animais que habitam regiões temperadas do hemisfério norte alimentam-se principalmente da carne de caça, mas  grupos que habitam regiões mais quentes e com maior disponibilidade de vegetais consomem também vegetais, embora não exclusivamente.

O lobo guará (que apesar do nome não é um lobo) é um canídeo brasileiro cuja dieta, em sua maior parte, é constituída de frutas, tubérculos, cana-de-açúcar e mel. Pequenos animais, ovos e insetos também são consumidos, mas representam um papel secundário na alimentação como um todo.

Cães domésticos são taxonomicamente mamíferos carnívoros da família canídae. Isso não diz nada sobre sua dieta.  Há cães que se adaptam bem ao consumo de frutas e legumes, cereais, leguminosas e sementes. Outros preferirão uma dieta exclusivamente constituída de carne, quanto muito aceitarão arroz ou algum legume se estiver muito bem misturado à mesma. Tudo isso tem mais a ver com o costume do que com uma necessidade biológica.

Cães domésticos podem ser acostumados ao consumo de alimentos exclusivamente vegetais.  Para isso, porém, faz-se necessário que este alimento lhes seja oferecido em composição de nutrientes balanceada para atender às suas necessidades fisiológicas.  O alimento deve ser preparado de modo a conter todos os aminoácidos essenciais que não são sintetizados pelo organismo do animal. Deve conter, ainda, todos os lipídeos, vitaminas e minerais necessários para a manutenção de sua boa saúde. O alimento deve, também, estar disponível em uma versão sensorialmente agradável ao animal. Isso pode ser conseguido de diferentes formas.

Há uma discussão pseudo-ética e pseudocientífica em relação à nossa prerrogativa em alterar os hábitos alimentares de cães domésticos. Se temos esse direito ou não pode-se realmente discutir, mas a verdade é que todas as pessoas que mantém esses animais alteram seus hábitos. Na natureza cães/lobos perseguiriam bois almiscarados, veados, coelhos e aves diversas. Os abateriam e consumiriam sua carne, especialmente os órgãos moles, sem limpar.

Uma pessoa que crie cães, mesmo que os alimente com carne, não estará o alimentando com a carne de caça, com os cortes que eles naturalmente escolheriam. Não estará lhes permitindo caçar, consumir o conteúdo estomacal do animal, sua pele e os tendões. A dissonância é ainda maior nos casos em que se alimenta o animal com rações comerciais e em lata, que são de qualquer forma constituídas de sobras de matadouros, farelos de milho e soja, quirera de arroz, cenoura, ervilha e muitos conservantes.

A alteração do comportamento não se encerra por aí. Não permitimos aos cães expressarem seu comportamento natural quando os criamos em chãos cimentados ou de piso, quando não os permitimos cavocar na terra, rolar na carniça, entrar em lagoas, ter contato com outros cães ou copular segundo seu próprio arbítrio. Contrariamos sua natureza quando mandamos que parem de latir, quando lhes damos banhos, quando escolhemos aonde que eles devem defecar e urinar, quando limitamos sua movimentação e seu acesso à relva.  Não me entendam mal, sei que esse é o preço da domesticação. Se não fizéssemos todas essas coisas, a convivência com cães não seria tão fácil.

Então sim, entendo a aflição das pessoas que se opõe à manutenção de cães com dietas vegetarianas. Entendo e questiono, pois essa é uma aflição não refletida. Ninguém que conheço, vegetariano ou não, permite aos seus cães expressarem seu comportamento de maneira natural. Há mais de 20 anos que não conheço alguém que crie cães com outra coisa que não seja ração. Rações podem ser boas ou ruins, mas isso nada tem a ver com serem rações vegetarianas ou não. Rações precisam ser balanceadas, elas precisam ter uma quantidade adequada de carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas e minerais. Isso pode ser feito utilizando-se ingredientes de origem animal ou não. De toda forma não é a dieta natural que o animal seguiria, se tivesse a opção.

O presente texto encontra correlação com artigo publicado na Pensata Animal

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