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RECOMEÇO

Cães resgatados da indústria de carne de cachorro na Coreia do Sul são levados para abrigo nos Estados Unidos

A decisão foi tomada pois os abrigos sul-coreanos não estão dando conta de abrigar e cuidar de todos os animais resgatados 

13 de maio de 2025
Júlia Zanluchi
4 min. de leitura
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Cão resgatado de uma fazenda de carne canina na Coreia chega ao centro de cuidados e reabilitação da organização em Maryland (EUA). Foto: Humane World for Animals

Após anos de confinamento em gaiolas sujas e à espera de um destino cruel, 67 cães resgatados de uma fazenda de carne de cachorro na Coreia do Sul na semana passada, chegaram nesta segunda-feira (12/05) em um abrigo especializado nos Estados Unidos, onde receberão os devidos cuidados e passarão pelo processo de adoção.

Entre eles estavam Ginger e Cinnamon (Gengibre e Canela, em português), dois cães confinados a uma gaiola de arame suja e apertada em uma fazenda de carne de cachorro, na Coreia do Sul, conheciam apenas dificuldades. Mas suas vidas melhoraram quando finalmente foram resgatados daquela existência sombria.

“Este filhote branco é o Ginger, e o marrom se chama Cinnamon. Eles são irmãos, mas muito diferentes. Por algum motivo, Ginger não suporta quando Cinnamon come sua comida, então precisamos vigiá-los após a alimentação”, disse Lee Sang-kyung, gerente de campanha do escritório coreano da ONG Humane World for Animals, sediada nos EUA, que visitou o local várias vezes desde fevereiro.

No momento em que viram Lee, os filhotes latiram alegremente e abanaram o rabo. Como qualquer outro cachorro, Ginger e Cinnamon são brincalhões e amigáveis, mas suas vidas foram marcadas pela tragédia. Tudo o que conheciam — os cheiros, sons e imagens — estava limitado a uma pequena fazenda de carne de cachorro na zona rural da Coreia.

“Os filhotes em breve embarcarão em uma longa jornada para uma nova vida, deixando a Coreia para trás e encontrando uma família definitiva”, disse Lee.

Lee Sang-kyung, gerente de campanha da Humane World for Animals Korea, interage com um cachorro em uma fazenda de carne canina em Cheongju. Foto: Humane World for Animals

O local abrigava centenas de cães há mais de 40 anos. Foi fechado após um cidadão denunciar a estrutura ao governo em fevereiro, mas dezenas de cães permaneceram trancados em gaiolas enferrujadas e imundas, com instrumentos de abate ainda pendurados por perto.

A maioria dos cães eram mestiços da raça Jindo com menos de 3 anos. Alguns pareciam assustados, mas a maioria recebeu estranhos abanando o rabo e latindo animadamente.

O ator coreano-americano Daniel Henney, um amante de animais que já adotou três cães resgatados de fazendas de carne na Coreia, participou da missão. “O único contato que tiveram com humanos foi muito agressivo e doloroso, mas mesmo assim são gentis e ficam animados ao ver pessoas. O espírito deles é muito forte, e isso me deixa muito feliz”, disse.

O resgate foi realizado com precisão e discrição.

Lee entrou na gaiola, acalmando os cães enquanto os prendia com cuidado e os guiava para fora. Enquanto isso, Henney recolhia as tigelas de comida e água. Juntos, carregaram os animais em um caminhão com destino ao Aeroporto Internacional de Incheon, onde um novo capítulo de suas vidas começaria.

Na segunda-feira, os cães chegaram com segurança ao abrigo da organização em Maryland, onde receberão cuidados e treinamento enquanto aguardam adoção por uma família definitiva.

Consumo de carne de cães no país

O consumo de carne canina na Coreia, uma prática secular que alguns acreditavam trazer benefícios à saúde, diminuiu drasticamente nas últimas décadas. Essa mudança se deve à maior conscientização sobre os direitos animais. Historicamente, a prática existia em uma área cinzenta, nem totalmente legalizada nem proibida.

Após aprovar a proibição da carne canina em janeiro de 2024, a Coreia tem tomado medidas para eliminar completamente o comércio, seguindo exemplos de vizinhos como Taiwan, Filipinas e Cingapura, onde a prática já é banida.

Com a proibição — que, a partir de 2027, prevê pena máxima de três anos de prisão ou multa de até 30 milhões de won (US$ 21,364) —, quatro em cada dez fazendas de carne canina no país fecharam voluntariamente, com apoio de subsídios governamentais para transição de emprego.

Segundo o Ministério da Agricultura, Alimentos e Assuntos Rurais, até agosto do ano passado, 1.537 fazendas (com cerca de 466 mil cães) haviam se registrado no governo e apresentado planos para reduzir operações e eventualmente fechar.

Até fevereiro, cerca de 40% dessas fazendas (abrigando aproximadamente 151 mil cães) já haviam encerrado atividades, e a expectativa do ministério é que esse número chegue a 60-70% até o fim do ano.

No entanto, isso ainda deixa pelo menos 315 mil cães em risco — seja para o comércio ilegal de carne ou eutanásia pelas autoridades.

Cheongju ainda tem 35 fazendas em operação, com cerca de 9.600 cães. Embora o governo local tente salvar o máximo possível, o abrigo público já está superlotado, com 200 animais (40 a mais que sua capacidade máxima).

“A lei foi aprovada, mas cães ainda estão sendo criados e mortos em fazendas como esta. Temos um ano e nove meses até fevereiro de 2027 (quando a lei entra em vigor), e acho que precisamos acompanhar de perto sua implementação”, disse Lee. “Estamos ficando sem tempo, dinheiro, espaço e mão de obra. Não podemos salvar todos, mas acredito que devemos continuar trabalhando, discutindo e tentando salvar o máximo de vidas possível, rumo a um caminho melhor.”

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