A chegada de um cãozinho numa casa geralmente é motivo de alegria. Recebidos com festa, em alguma data comemorativa ou como agrado a um ente querido, eles logo ganham um nome e recebem atenções regadas de carinhos. Mas, com o passar do tempo, aquele lindo filhotinho aumenta de tamanho, ganha alguns quilos, fica mais forte e deixa de ser novidade. Suas brincadeiras já não são mais encaradas com bom humor, suas características começam a “incomodar” e nem mesmo suas orelhas empinadas conseguem evitar os xingos. É assim que muitas histórias de abandono têm início.
O número de animais deixados nas ruas todos os anos é grande. Só em 2010, 690 animais foram colocados à doação, pelo Centro de Controle de Zoonoses de Itu, em SP. “Enquanto é pequenino, o cão é bonitinho. Depois que cresce e começa a exigir alguns cuidados, as pessoas os abandonam”, afirma o coordenador do Centro de Controle de Zoonoses de Itu, Dr. Sérgio Castanheira de Souza.
A mudança de casa também é um motivo que leva muitos tutores a deixarem seus cães sem lar, mas segundo Castanheira não justifica a ação. “O cão é fiel e não abandonaria o seu tutor. Já o tutor o abandona como se fosse um objeto.”
Deixados sozinhos nas ruas ou largados em frente ao portão da casa, os animais chegam a esperar pela volta do tutor. “Eu já vi casos de cachorros ficarem andando pela rua do antigo lar e também correrem atrás do carro, após terem sido deixados numa rua qualquer”, conta Castanheira. No entanto, a esperança desses animais raramente se confirma.
Abandonar é crime!
Presenciar agressões e abandonos a animais pode não ser comum para a maioria da população, porém casos assim acontecem todos os dias. “Os abandonos ocorrem tanto em cidades grandes, como no interior e durante todo o ano”, explica Castanheira. Mas o que nem todos sabem é que esses atos são considerados crimes e por Lei podem levar à prisão do tutor.
Garantir esse direito também depende de você! A denúncia de negligência ou abuso é muito importante e ajuda a evitar histórias tristes.
Ao observar maus-tratos a qualquer animal, a população deve entrar em contato com a Polícia Militar pelo telefone de emergência 190. Para facilitar a ação da polícia, a pessoa deve informar detalhes que sejam essenciais ao caso, como características e localização do autor e do animal, bem como testemunhas e se possível, fotos ou filmagens da agressão, que ajudariam na identificação e punição do agressor. “Para tanto, caso queira, não será necessário se identificar”, afirma o Capitão PM Chefe da Seção de Relações Públicas e de Recursos Humanos do 50º Batalhão de Polícia Militar do Interior.
Segundo o Capitão, apesar de não ser em grande número, não é raro o acionamento da PM para atendimento desse tipo de ocorrência. Nesses casos, para o auxílio dos animais o Centro de Controle de Zoonoses de Itu é acionado.
A Zoonoses também recebe diretamente as denúncias de maus tratos pelo telefone (11) 4013-1401 ou 4023-1505. Após a ligação, uma equipe do Centro realiza o trabalho de averiguação do caso e se confirmado, abre um Boletim de Ocorrência na PM para que o agressor do animal seja indiciado pelo crime de maus-tratos.
O cão da comunidade
Ver os mesmos cães, todos os dias, circulando pelo bairro onde mora já é comum para muitos moradores. Esses amigos tanto aparecem que acabam cativando a população local. Com um agrado de uma casa aqui e outro de um comerciante ali, o cão passa a conseguir alimento e proteção mais fácil. Sentindo-se “aceitos”, os cachorros decidem fincar as patas naquele lugar e proteger seus novos tutores. Assim, surgem os “cães de comunidade”.
Para evitar que fiquem doentes, esses cães recebem tratamentos de prevenção, como castração e vacinas, e depois são devolvidos a comunidade para que continuem no local. Dessa forma, eles deixam de ter apenas um responsável, para ser cuidado por todos.
A medida é vista como benéfica aos animais e política adotada pela Secretaria de Saúde de São Paulo. “É preferível deixar aquele animal castrado e vermifugado, que irá seguir sua vida ali sem incomodar ninguém, do que deixar esse espaço para que surjam outros cães”, explica Castanheira.
Em Itu, os exemplos são muitos. Como no caso do cão Cafú, um vira-lata que vive nas imediações de uma padaria no bairro Vila Padre Bento. “Ele surgiu na Copa do Mundo de 1994 e já possuía uma aparência de velho. E assim como o jogador de futebol Cafú, que se aposentaria naquele ano, eu achei que ele estaria em fim de carreira! Mas ele está aqui até hoje”, brinca o comerciante Valdir Guidini, um dos responsáveis por dar alimento e carinho ao animal.
Segundo Valdir, os clientes da padaria já se acostumaram com a presença do cão, que ganhou até uma foto na parede do comércio. O proprietário ainda conta que Cafú recebe muita atenção e gosta disso. “Hoje ele já ganhou um lar”, afirma.
Para a segurança da população local, o Dr. Castanheira explica que o bichinho já passou por cuidados da Zoonoses e sempre que preciso, recebe as vacinas necessárias.
Após anos de atenção, Cafú já se tornou parte da comunidade do bairro. Mas histórias de abandono como a sua não param de aumentar. “Eu vejo muitos casos de negligências. É triste ver os cães sendo abandonados, mas não podemos cuidar de todos”, conta Valdir.
Quando um focinho se encontra com um coração!
“Eu estava saindo do serviço quando vi o cãozinho no meio da rua. Ele estava bem assustado, corria de um lado para outro e estava com medo de tudo. Foi então que mexi com ele e ele me acompanhou por uma boa parte do caminho, me olhava e parecia que pedia para levá-lo comigo”, narra a assistente fiscal Luciane Gagliardi.
Chegando a sua casa, Luciane não esqueceu o animalzinho e após conversar com seu marido resolveu abrir seu coração e as portas da casa para um novo companheiro. “Resolvemos retornar ao local onde o encontrei. Ele ainda estava lá e rapidamente veio em nossa direção como se já soubesse que o levaríamos para casa”, conta.
Em sua nova família, o cãozinho ganhou o nome de Scooby “por ser muito medroso, comilão e também muito amável”, explica Luciane. Segundo ela, a experiência de pegar um cão abandonado é gratificante. “A todo momento ele parece nos agradecer de o ter salvo dos perigos da rua”.
Scooby entrou para a estatística de cães de rua adotados. Porém nem todos têm tempo de ganhar uma nova família. Ao serem deixados sozinhos, muitos cães ficam agitados e saem transitando pelas ruas. Sem conhecer os perigos, eles acabam sendo atropelados e mortos. “Ao avistar o corpo de um animal a pessoa pode ligar para o Centro de Zoonoses da cidade, pois é nosso trabalho fazer o recolhimento desse corpo das ruas ou mesmo das casas”, conta Castanheira.
Mas, se andando pelas ruas de sua cidade, você avistar um cão que mexa com o seu coração… Pare! E se puder lhe dar o mínimo de atenção, com certeza ele ganhará o dia. Agora, se você puder fazer mais, ADOTE um animal de rua e descubra o quão feliz pode ser essa relação.
Fonte: Itu.com.br