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Cães maltratados e abandonados em clínica veterinária são adotados

22 de novembro de 2013
4 min. de leitura
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Sem água nem alimento, muito magros, presos em pequenos compartimentos de cimento e grades de metal, em meio a urina e fezes espalhadas pelo chão. Essa era a situação de nove cães resgatados no último dia 01 pela Polícia Militar de Meio Ambiente de Belo Horizonte em uma clínica veterinária no Bairro Tirol, no Barreiro (BH).

Quatro voltaram para os tutores e cinco foram encaminhados para adoção. A boa notícia é que todos encontraram novo lar. O último da fila foi a rotweiller Gaia, entregue ontem ao técnico em informática João Carlos Felisberto. A casa tem quintal grande, onde o animal pode correr entre árvores.

Ao decidir adotar Gaia, João Carlos não sabia dos maus-tratos. “É triste saber de algo assim. A gente acaba sofrendo por tabela”, lamentou. O fato de a fêmea ser adulta (dois anos e meio) foi uma das razões para o rapaz acolhê-la. “Sei que seria muito complicado alguém pegá-la, já que as pessoas geralmente preferem filhotes. Além disso, muita gente fica com receio de criar um rotweiller por achar que é um cão bravo, têm uma visão meio deturpada”, afirmou. Na nova casa, no Bairro Buritis, Região Leste, a cadela dividirá com outros sete cães os 700 metros quadrados do quintal. “É quase uma chácara. Vou tratá-la com muito carinho”, disse.

Gaia estava na Clínica Cães e Amigos, no Bairro Aeroporto, Belo Horizonte (MG), onde ficaram também os outros cães resgatados cujos tutores não apareceram: um dálmata macho e quatro fêmeas (uma pitbull, duas SRD e a rotweiller). Eles passaram por exames médicos. Gaia estava com câncer de mama em estágio avançado. “A doença não havia sido tratada. Tivemos de retirar as mamas com tumores”, contou Janine Ramos, diretora da ONG Asas e Amigos da Serra, mantida pela clínica.

Quando chegaram à clínica, os cães demonstraram muito medo, segundo Janine. “Eles estavam subnutridos, dava para ver todos os ossos da costela. Tiveram de tomar complementos polivitamínicos. Assim que chegaram à clínica, comeram bastante. Todos teriam morrido em poucos dias se tivessem continuado naquele abandono”, contou.

A pitbull tinha uma ferida na boca que deixava exposta parte da dentição. O dálmata estava com ferimentos recentes em duas patas. Como eram cães com sinais de maus-tratos, não se esperava que fossem adotados tão cedo. A primeira a receber novo lar foi uma cadela manca sem raça definida. “Uma das patas está torta, como se tivesse sido fraturada e o osso não tivesse calcificado corretamente”, afirmou.

A cadela coxa foi batizada como Chuchu pela nova tutora, a jornalista Janine Horta, de 43 anos. “No início, ela estava muito magra e medrosa, mas ficou à vontade quando viu que estamos cuidando dela. Estava quase pele e osso, mas já engordou bem”, afirmou Janine, que tem cinco cães em casa, no Bairro Concórdia, Nordeste de Belo Horizonte (MG), todos de raça indefinida e resgatados da rua. Chuchu está morando no apartamento da mãe da jornalista, com outros dois cachorros e três gatos.

Dificuldade
Os cães resgatados da clínica no Tirol foram adotados em menos tempo que o normal, ajudados pela divulgação que o caso teve na imprensa e na internet. Alguns animais colocados para adoção, porém, nem chegam a arrumar novo lar. “A maior dificuldade é em relação aos adultos. A maioria das pessoas só quer filhote”, informou Mailce Mendes, presidente da ONG BastAdotar.

A situação pode estar mudando, a julgar pelo resultado de uma feira de adoção realizada pela ONG no câmpus Pampulha da UFMG, em parceria com a ONG Asas e Amigos da Serra e o Hospital Veterinário da universidade. Dos cerca de 20 cães expostos, nove ganharam novos donos. “Foi um número fantástico, bem superior ao esperado, considerando que são animais adultos”, aponta.

A estudante de ciências sociais Pricilla Caixeta, de 21 anos, decidiu adotar Amarelinho, de dois anos. “Ele é dócil, lindo, ruivo”, elogiou a moça. O cão vai morar na casa da mãe de Pricilla, em Patos de Minas, no Alto Paranaíba. “Ele é muito agitado e lá tem um quintal grande”, diz. E acrescentou: “É difícil cuidar de cachorro, mas vale a pena. Ele é companheiro, tem um amor incondicional. Acaba fazendo parte da família”.

Veterinário está foragido
O dono da clínica no Bairro Tirol, veterinário Orlando Antônio de Oliveira Júnior, está foragido. Ele fugiu depois de saber que havia um mandado de prisão contra ele por não pagamento de pensão alimentícia, segundo a delegada de Meio Ambiente Andrea Pochmann.

O crime de maus-tratos a animais domésticos pode ser punido com detenção de três meses a um ano, e multa, prevê a Lei 9.605, de 1998. O Conselho Regional de Medicina Veterinária poderá instaurar processo ético contra Orlando Júnior, segundo o chefe do setor de fiscalização do órgão, Messias Francisco Lobo Júnior.

“Estamos levantando informações na Polícia Civil, Centro de Controle de Zoonoses de BH e Vigilância Sanitária. Se tiver ocorrido falta de ética profissional, os conselheiros e a diretoria executiva do conselho abrirão o processo”, explicou. Orlando já é investigado em outro processo, baseado na “denúncia feita por uma pessoa que usou os serviços dele”, disse, que não informou detalhes.

Fonte: Diário de Pernambuco

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