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Cães ganham psicólogos, creches e tratamento especial no Rio

26 de outubro de 2011
6 min. de leitura
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Uma família que se acostumou a uma rotina que envolve lidar com profissionais de uma creche. Ou outra que tem que resolver alguns problemas domésticos com a ajuda de um psicólogo. Até mesmo encontrar um acupunturista para dores “incuráveis”. Até aí, nada demais, se tudo isso não fosse para um cachorro. Os serviços para cães e gatos cada vez mais se assemelham aos elaborados para os tutores, que, muitas vezes tratam o cachorro de casa como filho.

Casa do Simbad recebe cachorros para creche e para hospedagem (Foto: Divulgação/Casa do SImbad)

A estudante de arquitetura Juliana Acar comemora o fato de seu weimaraner Ziggy ir à creche três dias por semana. “Ele é uma peste, quando volta de lá não está mais endiabrado. No dia seguinte ele fica em casa, cansado”, contou. Ziggy vai duas vezes por semana para o sítio Casa de Simbad. Pelo serviço, os tutores pagam R$ 30 por dia. Lá os cachorros correm à vontade, comem, brincam e “deixam por lá toda a energia acumulada no apartamento”, segundo Juliana.

O dono do espaço Daniel de Freitas Mesquita explica que o diferencial do lugar é que os bichos ficam soltos o dia inteiro. “A gente só põe eles no canil na hora de comer e de dormir, quando eles vão para passar a noite. Os cachorros maiores gostam muito de ficar na piscina, os menos não ligam muito. A gente joga bolinha com eles, põe eles para correr. A mangueira com água também faz sucesso”. Daniel disse que o sítio também funciona para hospedagem, em que o cachorro dorme por alguns dias. Para este serviço o preço é, em média R$ 50, dependendo do tamanho do cão e do número de dias que ele ficará hospedado.

Ele e a mulher, Jacqueline César Thompson, têm o local há três anos. E é lá onde eles moram também. “Temos uma limitação de estrutura, por isso só aceitamos 15 cachorros por vez. Geralmente ficamos com uns sete.” E as brigas não são tanto frequentes quanto se pode imaginar: “Só me lembro de duas, geralmente cachorros grandes nem ligam para os pequenos. Até quando os menores ficam pulando nos grandes”, relatou.

Psicólogos para cachorros

O comportamento não-saudável de um animal, que antes muitas vezes era resolvido de maneiras politicamente incorretas, agora tem soluções mais embasadas: a zoopsiquiatria, terapia comportamental e antrozoologia (relação entre humanos e animais). Cristiane Moll é especialista nos três temas.

“A gente observa o animal. Vou para a casa da pessoa, procuro falar com uma ou mais pessoas da família, vejo como cada um vê o comportamento do animal. Dependendo do caso, posso fazer prescrição de remédios. O trabalho é identificar através do tutor comportamentos que não são desejados. Vamos identificar quais são próprios e normais dos animais. Por exemplo, fazer xixi e latir são normais, mas não em qualquer lugar e não o tempo todo”, explicou. “Às vezes o animal está querendo passar alguma coisa, e o tutor não percebe”, concluiu.

Quem não mede esforços para cuidar de seus dois cachorros é Marco Antônio, mais conhecido como Totó. Ele tem uma vira-lata e um golden retriever, que “só falta falar”. Para ele, tratar cachorros como filhos é uma tendência mundial. “É a descrença no ser humano. As pessoas se apegam ao bichinho, porque ele só traz alegrias. Só traz tristeza quando fica doente ou quando morre. As pessoas não confiam mais tanto nos humanos”, disse. Ele explicou que o mercado pet atualmente é um mercado em crescimento constante. Há bolsas de joias de luxo, que custam fortunas, elaboradas por grande marcas especialmente para cachorros. “E essas bolsas têm uma grande procura, são feitas sob encomenda e tem fila de clientes”, ressaltou.

Xampu caro para o ‘filho’

Os “filhos” de Totó dormem na cama com ele. “No frio eles esquentam meu pé. Quando eu viajo, levo a nécessaire deles, com xampu, escovas, condicionador e até o perfume francês. O perfume deles custa R$ 79. O xampu custa mais caro que o meu próprio. Eu gosto de dar banho neles no meu banheiro. E quando viajo só vou para lugares que aceitem cachorros. Já deixei de viajar porque eles não poderiam ir junto”, contou.

O cachorro da médica Marta Galvão tem todas as regalias que pode ter dentro de casa. Até uma rampa para Tevez – o buldogue francês da família Galvão – enxergar a rua de cima de um tablado foi construída na janela do apartamento onde mora, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. “Embora as atividades como passeio, alimentação e banho semanal fiquem por minha conta, todos contribuem de alguma forma. Tevez nunca esteve em uma petshop para banho, faço questão de fazê-lo e tem sido um momento prazeroso para nós, onde brincamos e “conversamos” bastante. Escovo seus dentes pelo menos duas vezes por semana. Seguimos cuidadosamente o calendário de vacinações e as visitas ao veterinário. Alimenta-se quase exclusivamente de ração e de alguns petiscos que só compro se não tiverem em sua composição conservantes ou corantes. Quase porque Felippe compartilha um ou outro pedaço de carne.”

Tablado foi contruído para Tevez enxergar a rua (Foto: Arquivo Pessoal/Marta Galvão)

‘Adora ver o movimento dos caminhões da Comlurb’

“A ideia da rampa veio a partir da observação que ele adorava quando o levávamos à janela, no colo. Projetamos uma bancada com largura e comprimento suficientes para mantê-lo confortavelmente deitado para apreciar a rua. Construímos uma rampa, adequamos a inclinação e a forramos com material emborrachado para evitar escorregões e quedas. Surpreendeu-nos quando ficou pronta e Tevez imediatamente a subiu, sem esforço e sem qualquer manifestação de medo.

E a reação de Tevez foi a melhor possível: “Pareceu-nos que esperava por aquilo há muito tempo. Observa o mundo lá fora, ora com atenção, ora com desprezo, e chegando mesmo dar as costas para a rua, mas lá de cima. É seu ponto de observação, gosta de tomar sol ali e parece se divertir com seus semelhantes que passam lá fora. Adora ver o movimento noturno dos caminhões da Comlurb”, explicou.

A médica disse que Tevez se tornou da família. “Mora conosco, nos emociona, nos diverte, nos preocupa, tem sua caminha, sua rampinha, passeia pela casa sem cerimônia, conhece as regras. É sociável e gentil com as visitas. Parece compreender perfeitamente sua posição no grupo. Todos, sem exceção, o amam. Tornou cada um de nós mais paciente, mais observador, mais cuidadoso e também mais humanos, nos obrigando a nos debruçarmos sobre sua fragilidade, dependência e inocência para percebermos o quanto é importante, insubstituível e amado”, completou.

Fonte: G1

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