Moradores de diversas cidades da China estão sendo colocados em isolamento compulsório após testarem positivo para Covid-19 sem terem a oportunidade de encontrarem locais seguros para deixar seus animais domésticos. Tutores de animais estão denunciando que são forçados por agentes de saúde a abandonar seus cães e gatos à própria sorte e não recebem nenhuma notícia dos animais. A maior preocupação é que eles sejam condenados à morte como um corgi que foi espancado até a morte por funcionários públicos em novembro de 2021 após a tutora ser internada depois de ser diagnosticada com Covid-19.
A política de tolerância zero contra a doença está propagando a desinformação que animais que tiveram contato com seres humanos infectados são uma ameaça e precisam ser mortos, pois supostamente contaminarão pessoas, dado já negado por especialistas e pela Organização Mundial da Saúde. A ativista Erin Leigh, responsável por organizar uma força-tarefa para salvar animais que foram deixados sozinhos, afirma que é procurada frequentemente por tutores de animais em pânico.
Ela conta que eles imploram que ela resgate seus animais ou, pelo menos, os alimente para que não morram de fome. Erin está montando uma rede de pessoas que oferecem lares temporários a esses animais. Ela entra em apartamentos vazios, salva cães, gatos, coelhos e hamsters e os leva para as cidades onde voluntários possam acolhê-los. É um trabalho exaustivo e delicado, mas garante que esses animais não sejam mortos pela ignorância humana e possam reencontrar seus tutores no futuro.
Recentemente, Erin salvou um gatinho que estava sozinho há dias. “Ele não teria sobrevivido se agentes sanitários tivessem aparecido para desinfetar o apartamento. O gato estava em condições sombrias e sem alimento. Para alguns animais de estimação na cidade, tudo se resume à vida ou à morte”, disse a ativista. Ela denuncia que até mesmo animais vendidos em pet shops estão sendo resgatados e enviados para lares temporários. Apesar de avanços recentes, a pandemia colocou o bem-estar de animais domésticos em situação vulnerável.
Onda de abandono
A organização em defesa dos animais Hong Kong Dog Rescue denuncia que desde o anúncio de tolerância zero contra a Covid-19, muitas pessoas partiram da região administrativa chinesa e abandonaram covardemente seus animais, que correm o risco de serem mortos por agências sanitárias. Até o momento, mais de 100 mil pessoas já sairam de Hong Kong. Animais não estão sendo aceitos em voos comerciais. Para retirar animais domésticos, é preciso fretar aeronaves particulares, esperar em longas listas de espera e podem custar milhares de dólares.
Aqueles que não querem seguir os protocolos de combate à Covid-19 e não podem retirar seus animais pelos meios legais, estão optando por abandoná-los. Abrigos de Hong Kong estão superlotados e já ultrapassaram a capacidade de funcionamento. Um porta-voz da Hong Kong Dog Rescue conta que um dos casos mais emblemáticos foi o de uma funcionária doméstica que foi levar os dois cães dos ex-patrões para o abrigo, porque eles se mudaram para o Reino Unido e deixaram os animais para trás. “Ela chorou muito, porque obviamente ela os amava muito”, disse.
O número de certificados de saúde animal, emitidos pelo governo para permitir que animais viajem, subiu de 3,7 mil para 9 mil, mas os abandonos também cresceram em proporções aterradoras. A Pet Export Vet, uma agência de viagens autorizada a transportar animais, afirma que recebeu tantas solicitações que não está mais realizando reservas. Com o aumento da demanda e a valorização do serviço, os preços não param de subir. A Hong Kong Dog Rescue afirma que recebe, no mínimo, 10 animais por dia. Um aumento de mais de 100% em comparação a antes das políticas sanitárias.
Kirsten Mitchell, fundadora do Kirsten’s Zoo, outro centro de acolhimento de animais, afirmou que a situação é crítica e atípica. “Todas as instituições de caridade estão sobrecarregadas. As pessoas entregam seus peixinhos dourados, suas tartarugas, não apenas gatos e cachorros”, disse. A australiana Claire McLennan está tentanto sair de Hong Kong e levar sua cadela, mas esbarra em trâmites burocráticos. “Ela é um membro da nossa família. É muito triste. É difícil para as crianças”, lamentou em entrevista ao Daily Mail.