A Polícia Civil divulgou na manhã desta quinta-feira (15) os resultados dos exames feitos em cinco filhotes de cães encontrados mortos e armazenados no freezer de um canil mantido pela União Protetora dos Animais (UPA), em Campinas (SP), na manhã desta quarta-feira (14). Os laudos apontaram que os animais morreram de parvovirose, uma doença grave que leva a maior parte dos cachorros a óbito e é altamente contagiosa. Os filhotes estavam armazenados com uma quantidade de carne moída estragada, além de remédios vencidos. A UPA foi fundada pelo deputado estadual Feliciano Filho (PEN).
A titular da delegacia do Meio Ambiente de Campinas, Rosana Mortari, afirmou que ainda aguarda o resultado do laudo necroscópico dos cinco cachorros que morreram, mas garantiu que, por terem parvovirose, os cães não poderiam estar na geladeira. “É uma doença muito contagiosa e eles tinham que ter sido isolados muito antes, não poderiam ter contato com outros cães. Agora vamos aguardar o laudo necroscópico”, explica.
Por terem sido vítimas de uma virose contagiosa, os cães encontrados no refrigerador deveriam ter sido incinerados. Sobre isso, o vice-presidente da UPA, o ex-vereador de Campinas Vicente Carvalho e Silva, admitiu que a entidade acumulava animais mortos no freezer para economizar os gastos com cremação. “Como são animais pequenos, dá para colocar na geladeira. Há um preço mínimo para descarte dos animais, que é R$ 30. Então, um animal de 2 kg, a gente paga R$ 30. Se a gente leva quatro animais, pesando 12 kg, pagamos R$ 36”, alegou o vice-presidente.
Ele e o caseiro da propriedade prestaram depoimento à delegada Rosana Mortari, responsável pelo caso, na tarde de quarta-feira. À polícia, o caseiro do canil falou sobre a carne que estava acondicionada junto com os cães mortos. “Aquilo era carne velha. Ia levar os animais para cremar e a carne iria junto”, afirmou Luís Eduardo Silva. Os investigadores cumpriram um mandado de busca e apreensão na fazenda localizada próxima à Rodovia Anhanguera, após denúncia de maus-tratos.
Segundo a delegada Rosana Mortari, foram apuradas diversas irregularidades no local, entre elas, a falta de isolante térmico no chão e o acondicionamento errado da ração. “A comida estava em uma caixa d’água. Além disso, está com uma quantia muito grande, então perde o cheiro e ficava exposta a ratos”, explicou a policial. A Prefeitura informou, em nota, que os departamentos de Vigilância em Saúde (Devisa) e de Controle do Uso do Solo farão vistoria no canil mantido pela UPA, nesta quinta-feira (15), para verificar as condições sanitárias e do alvará de funcionamento.
Sobre a crítica do deputado, a administração disse que o Centro de Zoonoses só recolhe cachorros que oferecem risco à população e que planeja criar um departamento de proteção aos animais, vinculado à Secretaria do Verde. O projeto precisa da aprovação do Legislativo. Por meio de assessorias, a Sanasa e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) informaram que não receberam denúncias sobre o caso.
Maus-tratos
Dos 44 cães encontrados no local, dez estão em estado de saúde gravíssimo, segundo os veterinários que realizaram os exames. “A gente vai aguardar os prontuários dos médicos veterinários e, caso não estejam sendo acompanhados, eles serão recolhidos para tratamento”, explicou a delegada Rosana.
O vice-presidente da UPA, responsável por retirar os animais das ruas, negou que eles sejam submetidos a maus-tratos. “Nós só resgatamos os que estão em alto grau de sofrimento. Então, tudo isso que está acontecendo, para mim, não procede”, reiterou Silva.
Risco ambiental
Como o canil foi construído próximo de um córrego, numa área de preservação, a polícia também vai apurar se a entidade cometeu crimes ambientais. A delegada informou que pedirá à Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) um laudo para saber se os dejetos dos cães são lançados no rio. “Se ficar constatado que ele está inapropriado, então tem que fazer uma caixa de retenção para que isso não aconteça e tratamento”, afirmou o fundador da ONG, o deputado estadual Feliciano Filho (PEN). Ele alegou que o galpão já existia, há três anos, quando a UPA recebeu a área, em comodato, para montar o canil.
O parlamentar justificou que o funcionamento no local deveria ser provisório, mas se estendeu por falta de recursos. “Como a Prefeitura não faz a parte dela, que é recolher, eu não posso deixar o animal sofrendo na rua à mingua’, criticou.
Fonte: G1