Quem encontra Hope com o rabo balançando o tempo inteiro não imagina que ela tenha sido retirada de um buraco, a meio metro do chão, 24 horas antes, em Canoas, na Região Metropolitana (RS). Resgatada por agentes do 15º Batalhão de Polícia Militar, na tarde de terça-feira (13/09), a cadelinha estava enterrada, enquanto ainda respirava. Embarrada, com o corpo gelado e uma ferida profunda e já necrosada no pescoço. Ela foi levada às pressas ao Hospital Veterinário da Ulbra.
“Ela estava debilitada, com baixa consciência, quase que em estado de coma. Com fome e subnutrida, sinal de que deve ter ficado alguns dias sem comer. O termômetro nem marcou na primeira medição, de tão baixa que estava a temperatura”, relata a médica-veterinária residente Anna Carolina Marques.
O nome Hope, que traduzido do inglês significa “esperança”, foi escolhido em decisão conjunta da equipe enquanto a cachorrinha se recuperava após o primeiro atendimento: ela chegou à instituição com a corda que servia de coleira atada com força, a investigação apura se teria sido esganada, antes de colocada na vala do pátio da casa do suspeito, no bairro Guajuviras.
Na UTI, a crueldade foi substituída por carinho: virou xodó das médicas, que acompanham de perto a recuperação, considerada acima da média, pelo pouco tempo desde que foi resgatada.
“É inesperada a evolução da nossa princesa”, complementa Anna Carolina.
Se o quadro de Hope se mantiver estável, ela deverá ganhar alta nos próximos dias.
Reencontro
Na quarta-feira (14/09), enquanto posava para fotos e filmagens, Hope reencontrou seus salvadores: sargento Rodibeldo Ohlweiler e soldado Lucas Camara Goldani, este último, decidido a cuidar da cadelinha permanentemente.
“Eu abri o buraco e vi a cachorrinha ainda se mexendo. Não tem como não se comover ao lembrar da cena. Liguei pra minha esposa e ela concordou em adotar. Foi o que aprendi com a minha mãe, resgatar os animais em situação da rua”, complementa o soldado.
Hope está cheirosa e com pomada na ferida aberta no pescoço. Tem um curativo na pata direita e veste roupa rosa com estampa de ossos coloridos. É de pequeno porte, tem pelo preto e manchas caramelo. Estima-se que ela tenha menos de um ano de idade.
Não demonstra espanto ou qualquer reação contrária a chamegos, fica no colo pelo tempo que a pessoa quiser, encantos que mexeram com a médica-veterinária Marthyna Schuch.
“Me apaixonei. Mas aí o policial fez contato comigo e disse que também queria adotar”, lamenta Marthyna, que cedeu a guarda para Goldani.
Investigação
Segundo a delegada Tatiana Bastos, da 4ª Delegacia da Polícia Civil de Canoas, o brigadiano poderá ser o fiel depositário e prover lar temporário enquanto o caso corre na Justiça. A investigadora prevê concluir o inquérito em dez dias, com indiciamento por crueldade contra animais, na forma qualificada. Se o judiciário decidir por retirar a guarda do tutor, é iniciado o processo de adoção.
O autor dos maus-tratos, um homem de 27 anos que não teve o nome divulgado, aguardou, na quarta-feira, audiência que pode converter a prisão em flagrante em preventiva ou colocá-lo em liberdade. O acusado que abriu a cova e sepultou a animal diz que ela parecia estar morta.
A Lei 14.064 de 2020, sobre maus-tratos a cães e gatos, trouxe ampliação das penas por estes delitos, que agora ficam entre dois e cinco anos de reclusão, bem como a possibilidade de conversão dos flagrantes em prisão preventiva.
Denúncias podem ser feitas pelo telefone 190.
Fonte: GZH