EnglishEspañolPortuguês

AVENTURA

Cadelinha resgatada viaja mais de 3.600 km até deserto na Bolívia em bike adaptada com novo tutor

25 de julho de 2024
5 min. de leitura
A-
A+
Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Uma dupla animada vai pedalar cerca de 3.600 quilômetros em uma bicicleta adaptada entre Vila Velha, no Espírito Santo, e o deserto de sal Salar do Uyuni, na Bolívia. Quem vai encarar esse desafio é o designer de produtos José Barbosa, de 56 anos, junto com sua cadela Ayla, que morava na rua e foi resgatada por ele. Serão aproximadamente 40 dias de viagem passando por trilhas, estradas secundárias, ecovias e estradas de cavalgadas.

A ideia de embarcar nesse aventura surgiu em junho do ano passado e, desde então, um ano de muito planejamento se passou. O ponto de partida será a Praça do Ciclista, em Vila Velha, na última semana de julho.

Para conseguir fazer a partida a tempo, o designer de produtos precisou colocar a mão na massa. Ele teve que criar uma bicicleta especial, adaptada para conseguir levar a companheira. Como designer, ele mesmo desenhou, desenvolveu e criou a bicicleta.

José também correu atrás e conseguiu todos os materiais para a viagem, além de planejar um roteiro que não fosse tão desgastante para os dois.

Ayla e José se conheceram em 2023 enquanto o ciclista pedalava em Vila Velha. Ele encontrou abandonada e, desde então, os dois são inseparáveis. Ele passou a cuidar da cadela e agora vão encarar uma viagem diferente.

Confira alguns números da viagem:

🗺️135 cidades
📍 35 paradas
🚴 3.600 km no total, sendo 100 km pedalados por dia
🎒 20 quilos a mais na bicicleta levando todo o equipamento necessário

Preparativos

Para poder dar início a esse sonho, José se deparou com um primeiro desafio: fazer um veículo que fosse compatível para a Ayla e que pudesse percorrer todos os terrenos pelos quais eles vão passar até o deserto.

“Ela não tinha andado de bicicleta comigo antes e então eu pensei: ‘Vou colocar uma caixinha de cachorro atrás e vou dar conforto para a Ayla'”, disse José.

Para isso, ele precisou começar do zero um projeto de uma bicicleta adaptada. Todo o desenho do projeto foi feito pelo próprio José e a construção foi feita por oficinas especializadas

“Tem carrinhos de animais para vender, mas ele tem duas rodas e eu corria o sério risco de cair em uma canaleta ou em um trajeto que não dá para passar em duas rotas. Então, muitos cicloturistas que já fizeram esse trajeto falaram para descartar o carrinho de duas rodas, por ser muito mais arriscado. Você está carregando uma vida no carrinho, então além de tombar o carrinho, eu tombaria com a bike. Então, foi onde eu comecei a buscar esse carrinhos de uma roda para poder fazer essa viagem. Só que para pet específico não existe, então veio esse ímpeto do design. Já que não tem, vou buscar”, relatou José.

Com a chegada do transporte para a dupla, algumas outras etapas restavam, entre elas conseguir a documentação da Ayla e todos os laudos veterinários para que ela pudesse viajar.

“Nem todos os veterinários no estado estão aptos para dar um laudo para viagem internacional. Então, depois de muita busca, consegui um laudo, mas como ele só vale 30 dias, e a nossa viagem dura mais, ela vai precisar fazer uma última consulta veterinária no Brasil próximo à fronteira da Bolívia, para renovar por mais 30 dias o documento”, explicou.

Ayla precisou estar com a carteira de vacinação e todos os vermífugos em dia. E por questões sanitárias, José precisou mudar o roteiro algumas vezes até chegar a versão final com passagem pelo pantanal.

Para encarar mais de um mês na estrada, o ciclista vai levar alguns itens básicos de sobrevivência, como duas bolsas com espaços para roupas que secam rápido, uma panela básica caso precisem fazer comida e também barracas de dormir.

Todo o equipamento necessário acrescenta 20 quilos a mais na bicicleta.

A ideia de se aventurar na estrada e conhecer um deserto é antiga, mas vários empecilhos deixaram o sonho de José para trás, entre eles dois acidentes que ele sofreu, e um deles que o impossibilitou de andar de bicicleta por um tempo.

“Em 2021, eu sofri um outro acidente de moto, me preparando para ir para o Atacama, e com esse acidente o problema na minha coluna na lombar melhorou e eu voltei a pedalar. Eu tinha uma fratura no punho, da moto, voltei a pedalar não para competir, mas achei esse outro paraíso, que é o cicloturismo. Mas eu faço um cicloturismo um pouco diferente, eu faço uma viagem extrema onde eu vou de um ponto a outro no menor tempo possível”, comentou.

Encontro animal

Ayla e José se encontraram na Rodovia do Sol, em Vila Velha, em fevereiro de 2023, e hoje os dois estão sempre juntos.

“Eu estava voltando de um treino, e encontrei ela na contramão com um saco preto amarrado nas costas, duas garrafas pet enfiada nas pata traseiras e com dois cortes profundos abaixo dos olhos. Para minha surpresa maior, depois que a gente fez todo o resgate, eu só soube no dia seguinte que o que estava no saco preto eram os filhotes mortos que foram amarrados junto ao corpo dela. Isso é muito chocante. Depois disso eu prometi para ela mesma que ela jamais sofreria maus-tratos novamente”, disse.

Para que Ayla pudesse embarcar na rotina de aventura da vida de José e, principalmente, encarasse a viagem até o deserto na Bolívia, a cachorrinha precisou entrar em uma vida regrada.

“A gente treinou muito antes da viagem. Corremos na praia 6 km a cada três dias, porque a ideia não é ela ficar a viagem toda no carrinho. Quando passarmos por trilhas na mata eu vou soltar ela e ela vai me acompanhando correndo. E enquanto ela estiver no carrinho, eu tenho uma câmera lá dentro que eu consigo monitorar pelo celular ou relógio. E a gente já se comunica, ela já dorme dentro do carrinho também”, disse.

Fonte: G1

    Você viu?

    Ir para o topo