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RIO DE JANEIRO

Cadela que estava enterrada na casa de adestrador era mantida em condições precárias e morreu de hipertermia

27 de fevereiro de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: Arquivo pessoal

O corpo da cadela Mia, da raça golden retriever, foi encontrado enterrado no quintal de um hotel para adestramento de cães em Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro, após a tutora do animal, Francine Branchi, descobrir que o estabelecimento havia ocultado a verdade sobre sua morte. Mia morreu vítima de hipertermia, condição causada pela exposição excessiva ao calor, que levou a um aumento fatal da temperatura corporal. A tragédia ocorreu no local conhecido como Mansão Pet, onde outros três animais também foram encontrados em situação de possível negligência e maus-tratos.

Francine havia deixado Mia no hotel para adestramento, mas dias depois recebeu uma ligação do proprietário do local, Sergio Dornelas, informando que a cadela havia fugido. A tutora, no entanto, desconfiou da história, já que Dornelas só entrou em contato horas após o suposto desaparecimento e demonstrava uma calma incomum diante da situação.

“No dia em que ele me ligou para falar da fuga, já fiquei desconfiada. Ele disse que ela fugiu de manhã, mas só me avisou à tarde. Imediatamente fomos para Guaratiba, e ele parecia muito tranquilo. Se eu perdesse o cachorro de um cliente, ficaria desesperada”, relatou Francine.

Ao investigar o caso, a tutora descobriu, por meio de câmeras de segurança de vizinhos, que Mia não havia fugido no horário informado por Dornelas. A suspeita aumentou quando o proprietário do hotel bloqueou seu perfil no Instagram após a divulgação do desaparecimento da cadela nas redes sociais. Francine também recebeu relatos de outros tutores sobre possíveis maus-tratos cometidos por Dornelas contra animais sob seus cuidados.

A verdade veio à tona quando uma responsável por uma ONG de proteção animal se aproximou de Dornelas e conseguiu que ele confessasse a morte de Mia. Segundo ele, a cadela morreu devido à hipertermia, causada pela exposição prolongada ao calor. Dornelas ainda revelou o local onde havia enterrado o corpo do animal.

“Ele confessou que a Mia morreu pelo calor e disse onde ela estava enterrada”, contou Francine. “Foi então que acionamos a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) e a 43ª DP”.

Hipertermia: um sofrimento evitável

A hipertermia é uma condição grave que ocorre quando a temperatura corporal de um animal aumenta de forma anormal, geralmente devido à exposição a ambientes quentes sem acesso a água ou sombra. Em cães, os sintomas incluem respiração ofegante excessiva, salivação, fraqueza, vômitos, diarreia, confusão mental e, em casos extremos, convulsões e colapso. Se não tratada rapidamente, a hipertermia pode levar à falência múltipla de órgãos e à morte.

No caso de Mia, é provável que ela tenha sofrido esses sintomas de forma agonizante antes de falecer. A tutora acredita que a negligência e a falta de cuidados adequados no hotel foram responsáveis pela tragédia.

Investigação e responsabilização

O delegado André Prates, da DPMA, confirmou que Sergio Dornelas responde a um inquérito policial pela morte de Mia. A polícia aguarda o resultado da necrópsia para indiciá-lo formalmente. Além disso, outros três cães foram encontrados em condições que sugerem maus-tratos, e o caso está sob investigação.

“Aguardamos as peças de inquérito dos outros três cachorros encontrados para verificar se há indícios de maus-tratos”, afirmou Prates.

O secretário de Proteção e Defesa dos Animais, Luiz Ramos Filho, acompanha o caso e destacou que Dornelas pode ser indiciado por maus-tratos e pela morte de Mia, com pena que pode chegar a cinco anos de prisão.

“Falei com a delegada titular de Guaratiba, e ela informou que o suspeito não foi preso porque não houve flagrante, mas ele será indiciado”, explicou Ramos Filho.

A morte de Mia expõe a necessidade de maior fiscalização e regulamentação de estabelecimentos que cuidam de animais. Para Francine, a perda da cadela é uma tragédia que poderia ter sido evitada, e ela espera que o caso sirva de alerta para que outros animais não passem pelo mesmo sofrimento.

“Mia era parte da nossa família. Ela não merecia morrer dessa forma”, desabafou a tutora. “Espero que justiça seja feita e que isso nunca mais aconteça com outro animal”.

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