Uma cadela foi esfaqueada após fugir de sua casa em Ilha Comprida, no litoral do estado de São Paulo. Na noite do mesmo dia em que fugiu, Yumi, de cinco anos, retornou para a residência com um ferimento profundo na região da coxa. O animal sofria ameaças por parte da vizinhança e, segundo o veterinário que o socorreu, foi esfaqueado.
No momento em que a cadela fugiu, sua tutora Eloisa Rodrigues Diniz, de 54 anos, estava viajando e o marido dela estava no trabalho. De acordo com a família, Yumi desapareceu após se assustar com uma tempestade.
Depois de passar horas na rua, a cadela encontrou o caminho de casa e voltou. Para a surpresa de seus tutores, Yumi tinha sido esfaqueada. Eloisa contou ao G1 que a cadela havia sido ameaçada recentemente porque vizinhos a confundiram com um cachorro em situação de rua que estava revirando lixo na rua. “Confundiram ela com o cão em situação de rua, mas ela não sai de casa sozinha”, disse.
Diante dos fatos, a família entrou em contato com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) do município, que enviou, no último sábado (27), uma equipe à casa onde a cadela mora.
O médico veterinário Ricardo Birolli Coutinho relatou ter dado oito pontos no ferimento da cadela. Segundo ele, o corte era profundo, mas não trará sequelas ao animal caso seja tratado corretamente. “Não descarto que pode ter sido uma faca, pela região e pelo jeito do corte. Tem muitos casos de abuso de cão e agressões com faca na mesma região onde ela mora”, lamentou o veterinário ao G1.
A afirmação do profissional foi confirmada pelo protetor de animais Fábio Santos. Membro do grupo Plantão Animal, que resgata cães e gatos em situação de vulnerabilidade, ele relatou que frequentemente são resgatados na região animais com ferimentos ocasionados por facadas, pauladas e “todo tipo de agressão”.
Na última semana, segundo Santos, um gato enterrado vivo foi resgatado. O protetor contou ainda que uma média de seis animais são salvos por mês na região após maus-tratos. A instituição da qual Santos faz parte mantém atualmente 36 animais retirados de situações de violência e abandono.
“Animais reviram o lixo porque humanos lhes viram as costas”
O ser humano tem sua humanidade colocada à prova em diversas situações, inclusive quando está diante de animais em situação de vulnerabilidade. A realidade dos cachorros e gatos que reviram o lixo colocado na rua por pessoas que têm onde morar deveria comover as pessoas e fazê-las refletir. “O que eu, que tenho um teto sobre minha cabeça, posso fazer para amenizar o sofrimento de um ser vivo que não tem uma casa para abrigá-lo?”, deveria ser esse o questionamento feito por essas pessoas, seguido de atitudes caridosas.
“De que maneira posso espantar, ferir e me vingar desse pobre animal faminto?” não deveria nunca ser uma pergunta a fazer para si mesmo diante da miséria que impõe tanto sofrimento a animais abandonados. Não só por ser cruel, mas por configurar crime de maus-tratos, com pena de dois a cinco anos de prisão, além de multa e da proibição de tutelar animais.
Cachorros e gatos que reviram o lixo o fazem porque os humanos lhes viram as costas. Se as pessoas não os descartassem na rua como se fossem objetos, eles não precisariam lutar para sobreviver a ponto de buscar comida em lixeiras.