Quem entra apressado na sede do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), no Bom Retiro, na região central de São Paulo, pode passar despercebido por Farinha, a cachorrinha que dorme acomodada em um cobertor rosa em um cantinho da recepção. Como ela, muitos animais encontram em delegacias e batalhões da polícia um abrigo e o carinho que não recebiam nas ruas. “Ela é uma alegria disso aqui”, resume o delegado Antonio de Olim, divisionário do Núcleo de Apoio e Proteção à Escola (Nape).
Farinha vive no Denarc há cinco anos. Ela recebe comida e água dos policiais que trabalham no departamento. “Ela é bem tratada. A Farinha dorme o dia todo e, durante a noite, fica acordada tomando conta. É um cão de guarda”, conta Olim. A cachorra também faz sucesso com o público. “Tem gente que vem só visitar a Farinha, traz comida e cobertor.”
Até poucos meses atrás, ela tinha a companhia de outro animal, um gatinho apelidado de Baseado. “A Farinha não fazia nada com ele. Há alguns meses, alguns cães entraram aqui e o machucaram. A gente levou no veterinário, mas não teve como salvar”, lembra o delegado. Para Olim, é uma obrigação cuidar dos animais. “Quem não trata bem animal, não trata bem ninguém”, acredita.
O 2º Distrito Policial de Santo André, no ABC, é o abrigo de dois vira-latas, um macho e uma fêmea. A cachorra Lilica nasceu na casa antes mesmo desta virar uma delegacia, em 2002, e permanece lá até hoje, segundo os funcionários. Já o cão Lino chegou ao local há quatro anos, acompanhando um rapaz que havia sido preso na ocasião.
O jovem foi transferido para uma outra cadeia, mas o cão ficou. Ele perambulou pela rua e redondezas durante algum tempo, mas acabou sendo adotado pelos funcionários. E ganhou um cantinho só dele. Só não se chegou a um consenso quanto ao nome dele. Lino, Felipeli, Fuinha e Máscara são alguns deles.
Ambos entram e saem da delegacia na hora que lhes convêm e recebem comida e carinho de todos os funcionários, mas são verdadeiros xodós da agente de telecomunicação Marisa Rosa. “Eu cuido mais, dou mais atenção, porque adoro cachorro. Mas todo mundo cuida, todo mundo dá atenção para eles, inclusive o delegado”, conta, sobre o titular do distrito, Oswaldo Fuentes Júnior.
Há quase um ano, a vira-lata Carla vive no 3º Distrito Policial de São Bernardo do Campo, também no ABC. Os policiais dizem que ela pertencia a um catador de papelão que circulava pela região. Depois de um tempo, apareceu sozinha na delegacia e recebeu comida e água. Acabou ficando. Alguns meses depois, trouxe um amigo, um cachorro que ainda não tem nome definido.
Os dois circulam pelo pátio da delegacia e recebem carinho de quem passa. Carla toma banho em pet shop, vai ao veterinário e é conhecida por aprontar bastante. Os policiais contam que ela ganhou uma cama para dormir, mas ela acabou destruída pela cachorra brincalhona. No último Natal, poucos enfeites permaneceram inteiros no distrito. A delegada Teresa Alves de Mesquita Gurian diz que os cachorros podem ser adotados por famílias, desde que sejam bem tratados. “A delegacia não é lugar para criar animais. A gente deixa aqui porque tem dó. Se aparecer alguém que cuide direitinho, a gente deixaria adotar”, conta.
Polêmica do Pirata
No início de abril, a história do cão Pirata provocou muita polêmica. O cachorro cego de um olho viveu durante nove anos em um batalhão da Polícia Militar no Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo, mas foi retirado do local. Sem saber o paradeiro do cachorro, muitas pessoas protestaram na internet e enviaram centenas de e-mails para a corporação.
Pirata era muito conhecido no bairro. “Ele esperava fechar o sinal e atravessava na faixa de pedestre. Era bem tratado, os policiais levavam no veterinário e, quando os guardas iam correr, ele acompanhava”, lembra uma comerciante da região, que pediu para não ter o nome revelado.
A PM divulgou uma nota sobre o caso e esclareceu que a nova comandante da companhia queria dar “um lar de verdade” para o cão. Pirata acabou doado para uma família que mora no bairro do Pari, na região central de São Paulo. Ele recebe “o amor de duas crianças, que já afirmaram que amam e não vão devolver o cãozinho”, diz a nota.
Fonte: G1