Nos pelos sujos, os animais exibem as marcas da luta pela sobrevivência no ambiente urbano e a agressividade de alguns cidadãos. “Tem trabalhador que, para espantar os cachorros, espalha veneno na frente da casa ou na barraca onde trabalha”, garante Patrícia.
Diretora do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Regina Perezino afirma que não há como estipular o número de animais que vivem nas ruas, porque é uma estatística flutuante, mas diz que a quantidade é alta. Somente no CCZ existem 130 cachorros e gatos aguardando por novos tutores. O recolhimento é realizado através de denúncia por telefone disponibilizados pela instituição. “O cidadão liga, narra o caso e nós saímos para resgatar o animal”, explica Regina. Sobre a presença deles em espaços públicos, a diretora afirma que o prejuízo não é apenas estético e higiênico. “Abandonados, eles podem causar acidentes de trânsito, mordeduras, além de transmitirem doenças que vão desde verminoses à raiva, caso estejam infectados”.
Para o feirante Lucimar Castro, que trabalha no bairro do Guamá, outro problema é o descaso de alguns tutores. “Muitos desses cachorros têm onde morar, mas não são alimentados corretamente e saem às ruas atrás de comida”, explica.
Maus-tratos
Para evitar maus-tratos destes animais, o Centro de Zoonose também atua na averiguação de denúncias. Caso o tutor do animal seja reincidente na infração, é acionada a Delegacia do Meio Ambiente (Dema) para que seja feito o resgate desse animal. Após receber tratamento veterinário adequado e considerado saudável, o Centro disponibiliza-o para adoção. Porém, se ele estiver em estado terminal, sem condições de sobrevivência, é sacrificado.
Na Universidade Federal do Pará (UFPA), o espaço livre e verde atrai dezenas de cachorros. Muitos estudantes e funcionários, apegados aos bichanos, criaram uma relação de carinho e se revezam para cuidar deles. “Cada dia alguém fica responsável em colocar água e comida. A gente já tem até ajuda dos vendedores que trabalham por perto”, conta a universitária Melissa Cavalcante.
Já para a aposentada Ieda Moraes, a vontade de fazer algo pelos animais surgiu há cinco anos. Recém-aposentada, ela percebeu que muitas instituições não levavam a sério o trabalho de proteção dos animais e convocou outras representantes da causa. Hoje, em uma casa de passagem na Região Metropolitana de Belém, aproximadamente 120 cães e gatos são tratados pelos voluntários. As dificuldades em manter o grupo, entretanto, têm crescido.
“Antes conseguíamos distribuir rações, mas há três meses paramos por falta de verbas. O CCZ nos apoia na castração de animais, mas toda a alimentação, transporte, cuidados e medicamentos é feita com o nosso dinheiro. Com certeza faríamos mais, se tivéssemos mais condições”.
Fonte: Diário do Pará