Há nove anos, a vida da família Moreira ganhou um novo ritmo com a chegada de Branquinho José, um cão branco de olhos expressivos e uma característica singular: a surdez. Sua presença não apenas preencheu um espaço afetivo, mas também desafiou a todos a enxergarem a comunicação, e a conexão, para além dos sons.
Manuel Moreira, um dos filhos do casal que adotou Branquinho, contou em entrevista ao Pets in Town que o cachorro foi encontrado vagando pelas ruas da periferia de Aveiro, cidade em Portugal, próximo ao local de trabalho de seu pai. Uma funcionária de uma empresa da região avistou o cachorro, que se aproximava de estranhos, e decidiu resgatá-lo, batendo de porta em porta em busca de um lar.
Foi o irmão de Manuel, que trabalhava com o pai, o primeiro a ser apresentado ao cachorro. “Ligaram à minha mãe para perguntar, porque é ela que decide tudo. Ela mal viu o cão, disse que ia buscá-lo”, lembrou.
A descoberta da surdez
As suspeitas surgiram cedo. Branquinho chegou cheio de medos — de vassouras, aspiradores, água — e, no início, era difícil discernir se ignorava comandos por trauma ou por não ouvi-los. Alguns sinais chamavam a atenção: dormia profundamente, mesmo com barulho, e nunca atendia quando chamado.
Manuel disse que com o tempo, a família percebeu que Branquinho sente vibrações. “Se dermos um passo mais pesado, ele sente e olha para nós”, explicou.
Meio ano depois, o veterinário confirmou a surdez, provavelmente congênita ou desenvolvida nos primeiros meses de vida. “Não souberam precisar porque é que ele é surdo. Deve ter sido uma má formação quando nasceu ou que se desenvolveu nos primeiros meses de vida”, afirmou o tutor.
A dinâmica com o cachorro não mudou muito e a preocupação da família quanto à ele era uma só: “o que importa é que ele esteja bem”.
Adaptação
A família não viu obstáculos na criação de Branquinho, apenas um novo jeito de se comunicar. Margarida, irmã de Manuel, assumiu o desafio: ensinou o cachorro a sentar, deitar, rolar e latir usando gestos. Criaram sinais para avisá-lo sobre passeios (dedos imitando pernas), refeições e até banhos.
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A surdez, porém, trouxe um traço defensivo. “Quando vem alguém de fora nota-se que ele fica estressado, e que não é tão afável quanto poderia ser”, disse Manuel.
Manuel já não vive com os pais e o Branquinho, mas continua a visitá-los e a ver o cão com frequência. Recentemente, compartilhou um vídeo em seu Instagram, onde demonstra como diz a Branquinho que vai levá-lo a passear.