Se existe o céu dos cachorros, Lobão não vai para lá. O akita deverá encontrar seu tutor, morto num acidente de carro, em outro céu depois de 14 anos de espera. É o que os moradores da servidão Vilmar Sotero de Farias, no Rio Tavares, falarão para suas famílias ao redor da mesa de natal.
A lealdade incomum nos homens tornou célebre o cão. Lobão, com sua pelagem de neve e cara de boa praça, conquistou muitas amizades no bairro. Dificilmente alguém não se comovia com a história. Noite após noite esperava. Muitos tentaram adotá-lo. Sem êxito. A viúva do seu tutor tentou carregá-lo com a mudança, mas Lobão saltou do caminhão.
Há muito tempo ele viveu com um homem, que teve o nome esquecido pela vizinhança, mas não por ele, que guardou mais que isso. Dormia na porta da casa que morou. Se convidado para entrar, recusava. Não queria abrigo, queria reencontro, que não aconteceu (não em vida, dizem por lá).
Lobão não é o único. O akita que todos os dias, no mesmo horário, esperava seu tutor na estação de trem, virou lenda no Japão. O homem tinha morrido há 10 anos. Em Edimburgo, capital da Escócia, Bobby, um terrier, ficou conhecido no século 19 por cuidar do túmulo de seu tutor, John Gray. Bobby tem uma estátua em Edimburgo.
Em Florianópolis, o akita não ganhou busto de ouro ou prata, mas um adeus ripongo pintado com tinta num poste de luz: “Paz e amor, Lobão”. O corpo foi enterrado no terreno de Adriano Peixoto. Sem cruz, porque o peludo não tinha religião, mas com flores para declarar o quanto era querido num cantinho do Sudeste da Ilha.
Fonte: Notícias do Dia