Na Estrada Geral da Barra do Itapocu, em Araquari (SC), ninguém sabe de nada. Mas todos conhecem a cachorra grande, um dog alemão de pelo escuro, que está com os ossos saltados na pele e um ferimento arredondado e profundo no lado direito do corpo.
Difícil achar um morador que não a tenha visto vagando pela estrada de chão, à procura de água e comida. Só que dizem desconhecer quem a teria abandonado. O caseiro Pedro Natali, de 48 anos, diz que tem cuidado da cadela.
Ele acha que o bicho é de um vizinho que veraneia numa casa à beira do rio Itapocu. Prendeu o cão com uma corda numa cerca.
— Para que o dono viesse pegar — justifica.
Nesta sexta ele soltou a cadela e a alimentou com pães.
— Ela come como um leão. Natali não pode ficar com a cadela porque os donos da casa não querem.
Mas não adianta manda-la embora.
— Sempre volta.
Ao voltar de uma pescaria, Raulino Hoffmann, de 60 anos, viu o bicho na quinta. Ainda estava presa.
— Qualquer um se comove. Está pele e osso — diz o aposentado que mora em Joinville.
Ao chegar em casa, dormiu mal. De manhã procurou uma emissora local de TV, que lhe informou o contato de uma voluntária que cuida de animais. Uma coisa levou a outra, e a Polícia Militar de Araquari chegou a enviar uma viatura ao Itapocu.
— Não tem nada a ver com a PM, mas a Prefeitura não tem quem faça — diz o soldado Fabrício da Silva Anselmo.
A ideia era que a cachorra fosse para o pátio do Corpo de Bombeiros, para ser alimentada até que alguém a levasse. Mas os policiais não acharam o bicho. Segundo Antônio Lúcio Filho, de 65 anos, morador do local há quatro décadas, a Estrada Geral é sempre escolhida por pessoas que abandonam animais.
A história da cadela de raça pode ser a mesma de vários bichos.
— Sempre vejo caixas com filhotes. Esses dias largaram duas cadelas, até bonitas. Ou fica na rua ou o pessoal envenena — diz ele, que adotou um cão da rua.
Sem lugar
Nem a Prefeitura de Araquari nem a de Joinville tem espaço adequado para cuidar de animais domésticos abandonados. ONG Abrigo Animal, de Joinville, continua sem receber animais, por conta de dívidas e falta de espaço.
Fonte: A Notícia