Três anos atrás, em uma rua movimentada de Macaé, no interior do Rio de Janeiro, a protetora Lujan Quintal Souza viveu um daqueles encontros que mudam destinos, o dela e o de uma cachorrinha sem raça definida, magra, suja e infestada de parasitas, que atravessava com dificuldade entre os carros.

Movida pela empatia, Lujan percebeu que não podia virar as costas. “Senti que era um chamado”, recorda. A cachorra, que na época atendia pelo nome de Nega, carregava no olhar o reflexo do abandono. Havia sido deixada para trás pelos antigos tutores, que, ao se mudarem, pediram a um vizinho que a segurasse para impedir que os seguisse. Desde então, permanecia deitada diante do portão, à espera de um retorno que nunca aconteceu.

Uma senhora, dona Cida, oferecia algum cuidado, como comida e abrigo no quintal, mas a presença de outro cão tornava o ambiente inseguro para a cachorra, que preferia manter distância. A menina também mencionou suspeitas de que Nega pudesse estar gestante, um agravante comum para fêmeas não castradas que vivem à mercê da sorte.

Lujan conversou com dona Cida e, mesmo diante da incerteza, tomou a iniciativa que mudaria a vida da cachorrinha. “São Francisco de Assis mandou que eu te levasse, e eu não posso desobedecer ao meu amigo”, disse à cachorra, que, como se compreendesse, caminhou em sua direção sem hesitar.

Transformação

O primeiro passo foi a castração, um cuidado essencial que evita filhotes indesejados e protege a saúde e o bem-estar dos animais. Durante a recuperação, Lujan acompanhou cada detalhe, garantindo conforto, alimento e amor. Em pouco tempo, o olhar antes triste da cachorrinha deu lugar à serenidade de quem finalmente se sente segura.

Mesmo sem condições de adotar, já que cuida de treze animais, Lujan seguiu em busca de um lar responsável. Foi então que seu ex-aluno, Alexandre, aceitou acolher Maria Alice, novo nome dado à cachorrinha. O que seria um lar temporário acabou se tornando definitivo.

Desde então, já se passaram três anos. Maria Alice vive cercada de carinho e respeito, e teve sua vida transformada pelo amor e pela solidariedade.