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DOR IMENSA

Cachorra morre em clínica veterinária após série de contradições no atendimento em São Paulo, segundo a tutora

A tutora e seu filho autista enfrentam um luto devastador, com a ruptura de um vínculo essencial para o bem-estar emocional da família.

25 de agosto de 2025
Redação ANDA
5 min. de leitura
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Foto: Divulgação

Uma cachorra de nove anos chamada Rosa faleceu após três dias de internação em um centro veterinário em São Paulo (SP). A tutora, Maria de Nazaré Lima Menezes, relata uma sequência de supostas negligências, informações contraditórias e, por fim, a morte solitária e dolorosa da chow-chow.

Em 17 de julho, Rosa, cachorra cujo único problema de saúde na vida havia sido uma infecção tratada com sucesso, começou a apresentar incontinência urinária. Preocupada com a idade avançada da companheira, a tutora procurou a clínica para um check-up completo.

No local, foi atendida por uma veterinária que sugeriu deixar Rosa internada por um dia para realização de exames. A profissional mostrou as instalações, prometeu enviar fotos e atualizações constantes. Com o coração apertado, Maria deixou a chow-chow na clínica, marcando visita para o dia seguinte.

O primeiro sinal de alerta apareceu no dia seguinte (18/07), quando, ao chegar para a visita, a tutora se deparou com Rosa confinada em uma baia minúscula, onde mal cabia a própria caminha que ela havia levado.

Foto: Divulgação

Maria decidiu levar Rosa para casa imediatamente. A equipe tentou impedi-la, alegando que havia iniciado um tratamento com medicamentos que necessitavam de “desmame” e que a cachorra deveria receber a próxima dose às 20h. A tutora concordou em voltar para o centro veterinário com a chow-chow no horário indicado.

Em casa, Maria notou que Rosa mancava. Ao ligar para a clínica, ouviu que nada havia acontecido, mas que fariam um raio-X mais tarde. Na volta à clínica, à noite, a veterinária de plantão convenceu a tutora a deixar a cachorra internada novamente, prometendo cuidados redobrados e uma “ótima estrutura”.

Desfecho trágico

No sábado (19/07), Rosa foi encontrada apática, triste e sem conseguir andar. Apesar dos sinais evidentes de sofrimento, disseram que haviam realizado procedimentos para retirar urina com sonda, mas nunca mencionaram qualquer problema grave.

No domingo (20/07) pela manhã, a tutora recebeu uma ligação da veterinária pedindo autorização para acupuntura. Minutos depois, um novo chamado dizendo que era para Maria ir à clínica urgentemente.

Em choque, Maria ouviu, ao telefone, um uivo de dor e descobriu que era Rosa, que “uivara a noite toda”. Ela questionou a falta de comunicação, mas não foi respondida.

Ao chegar de Uber, acompanhada do filho, Maria encontrou Rosa entubada em uma maca. A cachorra abriu os olhos, olhou para a tutora e sofreu uma parada cardíaca.

Autorizada a remoção para uma UTI particular, Rosa não resistiu e faleceu na ambulância.

Ao solicitar a documentação após a morte de Rosa, Maria descobriu que os remédios administrados eram simples e não exigiam o desmame que equipe usou para justificar manter a chow-chow internada.

A necropsia realizada aponta que Rosa apresentava insuficiência renal aguda secundária à retenção de urina, quadro que poderia ter sido revertido com tratamento e encaminhamento corretos, segundo a perita médica veterinária. O documento também cita falhas no manejo da dor, ausência de monitoramento e demora na adoção de medidas que poderiam salvar sua vida.

Uma perícia grafotécnica contratada pela família de Rosa identificou indícios de adulteração de prontuário, com alteração de doses de medicamentos. O laudo de necropsia revelou inflamação grave na bexiga e uretra, além de edema pulmonar intenso, indicado como causa da morte.

A família de Maria precisa lidar com a dor da perda. A morte é natural e chega para todos, mas é impossível não se indignar.

Foto: Divulgação

Maria perdeu a irmã gêmea faz um ano e Rosa foi seu principal apoio. Agora ela tem que lidar com a morte revoltante e completamente evitável de sua cachorra. “Choro todos os dias, me revolto todos os dias e tento ser ouvida todos os dias”, declarou a tutora.

Para o filho autista de Maria, a perda de Rosa é o colapso de um pilar fundamental de seu mundo. Sem ela, ele está em profunda crise, manifestando uma angústia que vai além das palavras, perdido na ruptura de uma rotina essencial para seu equilíbrio e privado de uma de suas companhias preferidas.

Agora Maria está procurando outro apartamento para morar pois é impossível para ela viver em um local que remete a presença de Rosa.

“Eu estou desde do dia 20 de julho até agora investigando, cobrando a rede, postando e vivendo em função de ter justiça. Também estou intensificando terapia e remédios para depressão, pois a morte dela me levou a um lugar que não gostaria de estar: o fundo do posso”, afirmou Maria. “Saber que ela sofreu para morrer, me deu o comando de que queria sair daquele lugar e fui impedida de tirá-la, me dói muito e causa enorme revolta.”

Após juntar todas essas provas, Maria realizou um Boletim de Ocorrência e o caso será levado à Justiça para a devida apuração de responsabilidade civil e criminal dos envolvidos.

Para a advogada animalista Evelyne Paludo, que representa a família, “nos casos que, em tese, houve falha no atendimento médico, as famílias têm o direito de buscar o Judiciário para serem indenizadas pelo sofrimento causado à elas e aos animais. Essas ações têm caráter reparador, punitivo e, principalmente, pedagógico, para evitar que outros animais e suas famílias passem pelo mesmo sofrimento.”

Os profissionais envolvidos, mesmo após denúncia formal no CRMV (Conselho Regional de Medicina Veterinária), continuam trabalhando na unidade.

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