Cachalotes foram identificados como seres que vivem em clãs culturalmente distintos, revela pesquisa conduzida por Hal Whitehead, cientista de cachalotes da Universidade Dalhousie, no Canadá. O estudo, publicado na revista Royal Society Open Science, empregou microfones subaquáticos e drones para analisar os sons e hábitos alimentares dos animais, constatando que esses mamíferos marinhos se agrupam em clãs compostos por até cerca de 20 mil fêmeas.
A pesquisa destacou que as vocalizações, semelhantes a códigos Morse e conhecidas como “codas”, distinguem os clãs. No Oceano Pacífico, foram identificados sete desses clãs, totalizando aproximadamente 300.000 cachalotes. Surpreendentemente, embora os clãs possam se encontrar, eles nunca cruzaram, evidenciando uma espécie de identidade tribal entre os animais da mesma espécie.
Os cachalotes, conhecidos por terem os maiores cérebros do planeta, atingindo até 15 metros de comprimento e pesando até 45 toneladas, têm um comportamento social que sugere semelhanças intrigantes com as sociedades humanas. Whitehead observou que esses clãs pareciam ser predominantemente compostos por fêmeas, com os machos visitando ocasionalmente apenas para transferência de esperma. O cuidado aloparental, onde fêmeas designadas cuidam dos bezerros enquanto suas mães buscam alimento, foi notado como uma característica marcante.
A dinâmica social das cachalotes também chamou a atenção. Ao contrário de uma liderança centralizada, elas parecem utilizar o consenso para tomar decisões comunitárias, uma abordagem que Whitehead descreve como “lenta e confusa”, semelhante à democracia humana.
O estudo sugere que a atividade humana, como a caça de cachalotes nos séculos XVIII, XIX e XX, pode ter afetado esses mamíferos marinhos. A população de cachalotes se recuperou desde a moratória de 1982, mas a pesquisa indica possíveis impactos a longo prazo, como evidências de fertilidade reduzida e unidades familiares fragmentadas em populações sujeitas à caça moderna.
Whitehead, que estuda cachalotes desde 1985, enxerga a escala dos clãs como verdadeiras “nações baleias”. Ele destaca a necessidade de compreender a evolução dos cachalotes ao olhar para a história e a pré-história humana, identificando semelhanças em clãs isolados e compartilhados. A pesquisa, embora reconheça os desafios na investigação da pré-história profunda dos cachalotes, aponta para a possibilidade de desvendar padrões através da genética, linguística e medidas de mudança ambiental, revelando uma história fascinante e única desses mamíferos marinhos.