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HABITATS DESTRUÍDOS

Cacatuas estão aprendendo a abrir lixeiras para buscar alimentos para sobreviver

17 de setembro de 2021
Donna Lu (The Guardian) | Traduzido por Cibele Garcia
4 min. de leitura
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Foto: Barbara Klump/Max Planck Institute of Animal Behavior

As cacatuas-de-crista-amarela estão aprendendo umas com as outras a abrir lixeiras em busca de comida, e esse comportamento está se espalhando rapidamente por Sydney, segundo um novo estudo.

Com a ajuda do público, ecologistas australianos e alemães registraram cacatuas aprendendo a vasculhar lixeiras por meio de interações sociais, com relatos de avistamento do comportamento crescendo por Sidney nos últimos anos.

Os pesquisadores pediram aos australianos para relatarem quando presenciassem cacatuas abrindo lixeiras. Antes de 2018, o ato de vasculhar lixeiras foi avistado em apenas três subúrbios na grande Sydney e Wollongong: Barden Ridge, Helensburgh e Sutherland.

A habilidade de abrir lixeiras difundiu-se amplamente ao fim de 2019, com relatos de avistamento em 44 subúrbios.

Drª Barbara Klump do Instituto de Comportamento Animal Max Planck, na Alemanha, uma das principais autoras do estudo, disse que o comportamento se espalhou mais rapidamente para áreas vizinhas do que para subúrbios mais distantes, sugerindo que as cacatuas estavam aprendendo ao observar outras, ao invés de descobrirem sozinhas como abrir lixeiras.

“Não está aparecendo aleatoriamente ao mesmo tempo nesses 44 subúrbios, mas está seguindo…. o layout geográfico dos subúrbios”, afirma Klump.

Foto: Barbara Klump/Max Planck Institute of Animal Behavior

A cacatua-de-crista-amarela é uma espécie de papagaio extremamente inteligente, notória na Austrália por seu grito alto e, às vezes, comportamento destrutivo. É uma das poucas espécies não humanas conhecidas capaz de dançar no ritmo da música, como no caso da sensação viral Snowball, a cacatua dançante.

Dando procedimento à pesquisa, os pesquisadores marcaram e observaram 486 cacatuas. Nas observações diretas, eles descobriram que apenas 10% dos pássaros, a maioria machos, eram capazes de abrir as lixeiras. O restante das cacatuas esperava até que fossem abertas para partilhar dos restos.

O processo de uma cacatua abrir uma tampa de lixeira é “bem complicado tanto de uma perspectiva motora como de força física”, Klump realçou. “É uma sequência muito complexa e de diversos passos que elas têm que aprender.”

Klump hipotetiza que cacatuas machos foram mais capazes de abrir com sucesso as lixeiras porque, potencialmente, são maiores, ou mais dominantes e “restringem o acesso à comida”.

A pesquisa, publicada na revista Science, também descobriu diferenças nas técnicas de abertura de lixeiras das cacatuas entre diferentes subúrbios, provindas de “subculturas locais”.

“Descobrimos que se olhássemos, por exemplo, para todos os pássaros do Stanwell Park – mesmo que alguns deles tenham diferenças individuais – e se comparássemos eles com os pássaros em Sutherland … a diferença [na técnica] é maior do que dentro de cada um desses lugares.”

As cacatuas também pareceram diferenciar entre lixeiras de tampas vermelhas para lixos gerais e lixeiras de tampas amarelas para reciclagem, se baseando nas cores. Quando observados, 88.8% do tempo os pássaros abriram as lixeiras de lixos gerais.

A ideia para o estudo surgiu quando um dos coautores, Drº Richard Major do Museu Australiano, observou o comportamento um dia a caminho do trabalho.

Os pesquisadores não sabem ao certo como o comportamento começou, mas o coautor Drº John Martin, da Sociedade de Conservação Taronga, disse que pode ter se originado de cacatuas vasculhando lixeiras que estavam superlotadas ou que foram abertas pelo vento.

“Esses tipos de oportunidades de vasculhamento pode ter sido um catalisador para os pássaros começarem a explorar lixeiras”, afirmou Martin.

Os pesquisadores também perceberam que uma cacatua em Narraweena, no norte de Sidney, parece ter ensinado a si mesma, espontaneamente, o comportamento no fim de 2018. “Aquela não podia ser explicada por aprendizado social porque estava muito longe [de outros casos documentados], disse Klump. “Daquele subúrbio aos em torno, o comportamento foi obtido por observação.”

“A questão interessante agora é se continua a propagar-se.”

Foto: Barbara Klump/Max Planck Institute of Animal Behavior

Martin disse que havia relatos do comportamento em Victoria que estavam planejando investigar. “Nós adoraríamos receber mais informação para confirmar quando e se esse comportamento está ocorrendo em outras áreas da Austrália.”

Os pesquisadores estão realizando a pesquisa novamente e estão procurando respostas online de australianos se eles viram cacatuas abrindo lixeiras. “Obter uma resposta que diga ‘Não, isso não acontece aqui’ é tão importante para a pesquisa quanto para nós.” Martin disse.

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