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Caçadores de tartarugas agora protegem os animais nos mares das Filipinas

15 de janeiro de 2012
3 min. de leitura
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Pessoas observam um animal da espécie Eretmochelys imbricata, seriamente ameaçada de extinção Foto: Reuters

A majestosa tartaruga marinha dos mares das Filipinas encontrou proteção nos caçadores que antes ameaçavam sua sobrevivência e que agora, arrependidos, salvam a cada ano milhares de ovos das garras dos traficantes.
“Sou um ex-criminoso, não posso descrever o que fiz de outra forma. Me arrependo por ter comido e vendido milhares de ovos de tartaruga”, disse à Agência Efe Manolo Ibias, diretor do centro de conservação Pawikan de Morong, uma localidade do litoral do Mar da China Meridional, a 200 quilômetros de Manila.
Ibias e outros 25 companheiros que também se dedicavam à caça dos ninhos patrulham diariamente a praia de Morong durante a temporada de desova, entre setembro e março, para recolher e salvar os ovos deixados por dezenas de fêmeas.
“Calculo que salvamos cerca de 47 mil animais desde que viramos protetores”, comentou.
Para prosseguir com o projeto de reconversão, Ibias e os outros ex-caçadores reivindicaram ao Governo uma ajuda para buscar um novo emprego e, após as experiências frustradas com a pesca e com um posto de gasolina, Manolo se tornou diretor do centro de conservação, financiado com dinheiro público e doações.
“Não temos um salário fixo, isso depende do número de visitantes e da necessidade de controle do local. Recolhemos ovos, patrulhamos a área, guiamos turistas e limpamos a praia para que os animais não se asfixiem com sacos plásticos”, explicou.
Até 1999, eles também percorriam a praia todas as noites, mas com o propósito de colher os ovos, muito apreciados na região e por isso mesmo valiosos no mercado negro.
“Um ovo de galinha custava 1,5 pesos (US$ 0,03) e vendíamos os de tartaruga pelo dobro desse preço”, contou.
“Em cada ninho, uma tartaruga deixa em média 100 ovos. Se encontrávamos três ninhos, ganhávamos muito dinheiro. Hoje os ovos são vendidos por oito pesos”, destacou Ibias, de 59 anos.
Ao completarem 25 anos, estes répteis nadam milhares de quilômetros de volta à praia onde nasceram para enterrar seus ovos. A partir dessa idade, retornam ao mesmo lugar aproximadamente a cada três anos para a desova.
Suas visitas costumam durar somente o tempo necessário para enterrar os ovos 50 centímetros abaixo da areia e voltar ao mar, deixando seus descendentes à mercê de outros animais como caranguejos.
Após uma incubação de 40 a 75 dias, os filhotes quebram a casca dos ovos e percorrem a duras penas os poucos metros que os separam do mar.
“Cada animal deixa cerca de 100 ovos e desova três vezes em um período de seis meses. Pode parecer muito, mas não é. Os peixes, por exemplo, deixam milhões de ovos por temporada”, disse Ibias.
Os funcionários do centro construíram um cercado de 45 metros quadrados ao redor de 30 ninhos, informando a data do nascimento de cada um deles.
Ibias caminha entre os ninhos com cuidado para não pisá-los, até que vê um buraco na areia: “É algum caranguejo querendo comer os ovos. Por mais que tentemos, não podemos controlar tudo”, lamentou.
Então, cava com as mãos por alguns segundos e respira aliviado ao ver que os ovos, parecidos com uma bola de ping pong, continuam intactos.
Em um pequeno tanque próximo ao cercado, três tartarugas doentes nadam tranquilamente e se aproximam dos turistas, que podem tocá-las sem nenhuma restrição.
“Esta daqui – explica Ibias apontando para um animal que inclina para frente – tem ar dentro da carapaça e não consegue nadar direito. Estamos pensando, com ajuda do nosso veterinário, em colocar um pequeno contrapeso na parte de trás para compensar o desequilíbrio”.
Apesar dos esforços, Manolo lamenta que em aldeias próximas a este santuário, os moradores continuem caçando os ovos de tartaruga.
“Fico muito triste, mas ainda há muita gente que os come sem pensar nos danos que fazem à natureza”, concluiu.
Fonte: Terra

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