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VITÓRIA

Caçador que matou ursa é condenado na França; defensores de animais celebram julgamento

Um caçador que matou uma ursa acompanhada de seus filhotes nos Pireneus franceses, em 2021, foi condenado, nesta terça-feira (6), a quatro meses de prisão com suspensão condicional da pena

7 de maio de 2025
RFI
3 min. de leitura
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Urso fotografado em Auzat, no Parque Natural dos Pirineus, na França. Foto: Imagem ilustrativa/Association Pays de l’ours

O incidente aconteceu em uma área onde a caça é proibida, a Reserva Estadual de Mont-Valier, de acordo com a promotoria. Todos os réus terão de pagar coletivamente mais de € 60 mil (cerca de R$ 388 mil) em danos às associações ambientais que se juntaram ao processo como partes civis. A sentença imposta ao atirador, de 81 anos, responsável pela morte da ursa Caramelles, está de acordo com as exigências da promotoria, feitas em 19 de março.

Fanny Campagne, advogada de 14 dos 16 caçadores que pediram absolvição, questionou “a legalidade da criação da reserva” onde ocorreu o incidente de caça e denunciou “a falta de sinalização da proibição” da atividade. Ela não comentou sobre um possível recurso. Os caçadores deixaram o tribunal sem fazer nenhuma declaração.

Para a associação Pays de l’Ours, que está trabalhando com o Escritório Francês para a Biodiversidade (OFB) para monitorar ursos, a decisão é “satisfatória”. “Todos os caçadores foram considerados culpados, isso é o mais importante para nós”, disse Sabine Matraire, presidente da associação. A entidade pede que mais ursos sejam soltos na natureza, acreditando que a população da espécie ainda não é viável. “Esperamos que esse julgamento seja seguido por uma conscientização na comunidade de caçadores”, acrescentou ela.

“Legítima defesa”

No tribunal criminal de Foix, a 766 quilômetros ao sul de Paris, o principal réu admitiu ter atirado na ursa, considerando que agiu em “legítima defesa”. Caramelles, uma fêmea de 150 kg, estava acompanhada de dois filhotes.

“Ela agarrou minha coxa esquerda, entrei em pânico e disparei um tiro com meu rifle. Ela recuou, rosnando, passou por mim e mordeu minha panturrilha direita. Eu caí, ela estava comendo minha perna. Engatilhei novamente meu rifle e disparei. Ela morreu cinco metros abaixo”, contou ele na audiência.

Além da prisão de quatro meses com suspensão condicional da pena, o tribunal também condenou o homem ao pagamento de uma multa de € 750, ao confisco de seu rifle e à retirada de sua licença de caça.

Em 2008, outro caçador foi julgado por atirar em um urso no sudoeste da França quatro anos antes. Absolvido em primeira instância, ele foi condenado em apelação a pagar indenização a diversas associações de proteção da natureza no valor de € 10 mil.

A associação local de caça à qual ele pertencia foi condenada a pagar € 53 mil de indenização pela morte de Caramelles.

Repovoamento da espécie

Ameaçada de extinção no início da década de 1990, a população de ursos pardos cresceu consideravelmente nos Pireneus graças a um programa de restauração de espécies lançado na década de 1990, incluindo a libertação de ursos da Eslovênia.

De acordo com o Escritório Francês para a Biodiversidade, que identificou formalmente 96 ursos com base em suas impressões genéticas, a cordilheira agora tem entre 97 e 127 indivíduos.

Um dos participantes da caçada que levou à morte de Caramelles, sentiu que o Escritório Nacional de Florestas (ONF) deveria ter alertado os caçadores: “O ONF”, disse ele, “permitiu que as caçadas continuassem por 40 anos nesta reserva”.

Embora existam muitas diferenças de opinião entre caçadores e ambientalistas, as partes civis reconheceram a natureza acidental do tiro fatal, assim como a promotoria. O promotor enfatizou, contudo, que o caçador octogenário “conscientemente assumiu o risco de um confronto com o urso na reserva, que é uma área tranquila” para este animal.

Fonte: RFI

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