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ESPÉCIE SENSÍVEL

Bugio-ruivo é reintroduzido na Ilha de SC após 260 anos de extinção

Equipe do Silvestres SC soltou cinco famílias da espécie em áreas de mata no Parque Estadual do Rio Vermelho e no Monumento Natural Municipal da Lagoa do Peri

4 de julho de 2024
Mariana Barcellos e Lucas Amorelli
4 min. de leitura
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Foto: Lucas Amorelli

Depois de mais de dois séculos de extinção, os bugios-ruivos voltaram a balançar as árvores da Ilha de Santa Catarina. Nesta semana, o projeto Silvestres SC terminou de soltar uma leva de cinco famílias da espécie em áreas de mata no Parque Estadual do Rio Vermelho e no Monumento Natural Municipal da Lagoa do Peri, em Florianópolis.

Naturais da Mata Atlântica, os bugios-ruivos são uma das 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo. Na Ilha de Santa Catarina, eles haviam sido registrados pela última vez em 1763, segundo um levantamento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com o Instituto do Meio Ambiente (IMA SC) e a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram).

— O bugio é uma espécie extremamente sensível a doenças, como a febre amarela, e também às ações humanas, como o desmatamento. Acredita-se que há mais de 260 anos, eles sofreram algumas pressões comuns da época, como a caça, a perda de habitat por causa do desmatamento e talvez alguma doença, mas não temos certeza sobre o motivo específico que levou à extinção deles na Ilha — explica a pós-doutora em Ecologia, Vanessa Kanaan, diretora do Silvestres SC e presidente do Instituto Fauna Brasil.

Os bugios que foram soltos viviam em cativeiro no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas), localizado no Rio Vermelho, e têm origens diversas. A maioria foi resgatada em outras partes de Santa Catarina após sofrerem acidentes, como atropelamentos e choques elétricos, ou serem vítimas de caça. Outros nasceram e cresceram no Cetas.

Para serem reintroduzidos na natureza, os bugios tiveram que passar por várias etapas de reabilitação, incluindo exames clínicos, vacinação e avaliação comportamental. Depois, ficaram um período dentro de viveiros montados nas unidades de conservação, na fase de ambientação.

— O processo de reabilitação durou mais de quatro anos e meio para algumas famílias. Eles tiveram que atender a critérios genéticos e mostrar que tinham habilidades comportamentais, ou seja, que conseguiam viver em família, que conseguiam reconhecer os seus alimentos naturais e que conseguiam se locomover no ambiente — explica a diretora.

O momento da soltura

A última família a voltar à natureza era composta pelo filhote Moçamba, sua mãe Nariz, seu pai Mike e a fêmea Covid. O local onde o viveiro deles estava instalado, nas matas da Lagoa do Peri, é acessível apenas por um trajeto de barco e trilha. Durante todo o período de adaptação, que durou semanas, a equipe do Silvestres SC ia até lá diariamente para monitorá-los.

No dia da soltura, foram horas acompanhando os bugios de perto. Quando a porta do viveiro finalmente foi aberta, eles atravessaram “caminhos” de corda e bambu que os levavam até as árvores do entorno. O momento emocionou a equipe.

— A soltura é uma mistura de emoções. De um lado, é a realização de um sonho para todos que trabalhamos com esses animais em cativeiro. Ao mesmo tempo, há um medo do que pode acontecer com eles na natureza. Mas depois que a gente vê as famílias ficando juntas, se alimentando e se protegendo, é uma sensação de missão cumprida — resume Vanessa.

Monitoramento

Agora, a família de Moçamba passará pela última fase do projeto, de monitoramento. Nestes primeiros dias, a equipe do projeto está levando diariamente comida até o local, até que os animais se acostumem. Conforme o tempo for passando, eles começarão a receber visitas mais espaçadas. Se não se adaptarem, poderão retornar à reabilitação antes de passar por outra tentativa de soltura.

Depois de ambientados, os bugios passarão a ser monitorados de outras formas. O Silvestres SC usa um drone de visão térmica, que captura o calor dos bugios nas copas das árvores, além de armadilhas fotográficas e gravadores para registrar o som dos bugios. Os pesquisadores também incentivam as pessoas que circulam pelas unidades de conservação a entrarem em contato caso avistem um bugio.

— A participação da comunidade no monitoramento dos bugios é fundamental para o sucesso do projeto — ressalta a diretora do Silvestres SC.

Soltos, os bugios são importantes não apenas para a conservação da espécie, que está ameaçada de extinção, mas também para o equilíbrio do ecossistema. Por se alimentarem de frutos, esses animais atuam na dispersão de sementes e, portanto, na regeneração da floresta.

O Silvestres SC planeja soltar outra leva de famílias, mas ainda não iniciou os processos de reabilitação. As solturas devem ocorrer somente daqui a mais ou menos três anos, segundo Vanessa.

— Agora, esses indivíduos têm a chance de cumprir seus papéis ecológicos. As florestas de Florianópolis estão em período de restauração vegetal e, por se tratar de uma Ilha, muitas espécies não voltaram naturalmente. O bugio vem com esse propósito. Poder contribuir para a conservação desta espécie ameaçada e trazê-la de volta é algo realmente fenomenal — conclui a pesquisadora.

Fonte: NSC Total

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