No último dia 09/02, a equipe do Rancho dos Gnomos foi acionada pela munícipe Mônica Di Ciamo para resgatar um macaco bugio, a quem demos o nome de Nico, com graves queimaduras causadas por eletrocussão na rede aérea de energia, acessada pelo animal devido ao desmatamento na região. O estado dele era gravíssimo, pois várias partes do seu corpo foram afetadas, principalmente a cabeça, mão e braço esquerdos.
Após o resgate, a equipe saiu em busca de atendimento veterinário nos órgãos oficiais que, segundo o IBAMA, deveriam prestar toda assistência aos animais silvestres. Naquele momento não estava presente no Rancho a veterinária da equipe.
A primeira orientação dada na Secretaria foi a de que a equipe do Rancho contatasse a Polícia Militar Ambiental, sendo que o atendimento veterinário não é e nunca foi atribuição daquela instituição. Aliás, não só a Polícia Ambiental como outras instituições comumente encaminham estes casos ao próprio Rancho dos Gnomos. Uma funcionária da Secretaria afirmou que “isto nunca aconteceu”, referindo-se ao fato de o animal ter sido levado àquela secretaria, em uma demonstração clara de que é um órgão meramente burocrático. Os funcionários da Secretaria indicaram a inexistência de qualquer projeto que pudesse atender casos envolvendo animais. A equipe do Rancho solicitou então a indicação de um veterinário parceiro que atendesse o animal naquela emergência e que, posteriormente, traria as notas fiscais para reembolso.
Mas a Secretaria, por intermédio do Secretário do Meio Ambiente de Cotia, Dr. Laércio Camargo, negou-se a custear o atendimento dizendo que o animal deveria ser deixado lá para que aquele órgão chamasse a Polícia Militar Ambiental. Com extrema indignação informamos ao senhor secretário que o animal necessitava de um médico veterinário e não de polícia. Neste momento, a funcionária Patricia relatou que este era o procedimento padrão: chamar a polícia que esta levaria o animal para um veterinário na cidade de Embu das Artes. Novamente com indignação, questionamos quem pagaria o atendimento e informamos que os animais atendidos na cidade do Embu e outras da região recorrem ao Rancho dos Gnomos para acolhimento dos mesmos. Ficamos sem resposta. Obviamente a equipe do Rancho não aceitou tal encaminhamento e dirigiu-se rapidamente a uma clínica em Cotia, para que o macaco recebesse os cuidados médicos emergenciais o mais rápido possível.
Após alguns dias de tratamento no Rancho, quando se buscou estabilizar o quadro de saúde de Nico, mantido sob fortes analgésicos como a morfina, o bugio foi submetido a uma junta médico-veterinária. Cogitou-se inicialmente amputar-lhe o braço como medida derradeira para conter uma infecção muito forte que havia se instalado em seu membro carbonizado até os ossos. Porém, após avaliações mais apuradas, diagnosticou-se que, além dos ferimentos até então identificados, alguns danos irreversíveis haviam ocorrido. Os globos oculares estavam totalmente queimados, houve o derretimento da orelha esquerda comprometendo seriamente seu ouvido e, ainda pior, havia ocorrido a perda da massa encefálica. Diante da total falta de perspectiva de medidas médicas que garantissem um mínimo de qualidade de vida ao Nico, a junta médica decidiu abreviar seu sofrimento realizando a eutanásia, uma vez que nem mesmo a entubação para uma cirurgia seria possível devido às graves queimaduras em sua boca, que impossibilitavam sua abertura.
Os órgãos oficiais e os animais
Os problemas com os órgãos oficiais não se restringem ao atendimento aos animais. Este bugio é mais uma vítima do desmatamento desenfreado e da ocupação desordenada que tem devastado os habitats. Em Cotia e região é assustador o número de empreendimentos imobiliários e outras obras que surgem em áreas onde até pouco tempo havia mata fechada. E não se tem conhecimento de qualquer investimento em estrutura ou convênios que atendam os animais vitimados por esta destruição. Por que os passivos e compensações ambientais não têm sido usados para tal? Quais suas destinações?
O Ministério Público e a imprensa devem ajudar a esclarecer esta situação. A criação desta estrutura é exigida por lei.
Este atendimento é a rotina do Santuário, vergonhosamente sem qualquer apoio oficial. Um trabalho em defesa da vida que conta com o suporte apenas de voluntários e associados. Há anos o Rancho dos Gnomos enfrenta desafios como estes, sempre experimentando a indiferença do Poder Público, que não só não ajuda como muitas vezes causa entraves ao trabalho com seus empecilhos burocráticos usados muitas vezes como instrumentos políticos de pressão contra o Rancho.
Manifeste-se!
Pedimos aos protetores de animais, simpatizantes e pessoas conscientes que se manifestem ao Ministério Público Federal e aos órgãos de imprensa para que aprofundem este questionamento sobre a destruição ambiental na região e o descaso imoral e ilegal com os animais, refletido na falta de estrutura para o atendimento a eles.
Sugerimos aos internautas um modelo de mensagem a ser enviada para:
Secretaria Estadual de Meio Ambiente
Conselho Estadual de Meio Ambiente
Setor de Denúncias do MPF em SP
Assessoria de Comunicação do MPF em SP
Adriana Zawada Melo – Procuradora Federal Tutela Coletiva
Adilson Paulo Prudente do Amaral Filho – Procurador Federal Tutela Coletiva
Adriana da Silva Fernandes – Procuradora Federal Tutela Coletiva
Analice de Novais Pereira – Superindentende do Ibama em São Paulo
Américo Ribeiro Tunes – Presidente do Ibama
Assessoria de comunicação Ibama nacional
Deputado estadual dr. Feliciano Filho
Deputado estadual dr. Fernando Capez
Deputado federal dr. Ricardo Tripoli
Prefeitura Municipal de Cotia
Prefeito Municipal de Cotia
Ouvidoria Geral da Prefeitura Municipal de Cotia
Portal Cotia Todo Dia
Jornal D’aqui
Gazeta de Cotia
Diário de São Paulo
Jornal do SBT
TV Record
Rede TV
TV Bandeirantes
Carta Capital
Revista Veja
Revista Isto É
Revista Época
Rádio CBN
André Trigueiro – Jornalista CBN
Jornal Nacional
E-mails:
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Assunto: Devastação ambiental e descaso com animais
Exmo. srs. Procuradores Federais de Justiça e órgãos de imprensa
Novos empreendimentos de construção civil têm surgido da noite para o dia na região de Cotia/SP, em uma velocidade espantosa e arrasando áreas de mata, forçando assim os animais silvestres a buscarem os espaços urbanos. Esta reprovável destruição quase invariavelmente resulta em danos irreparáveis ou mesmo na morte destes animais, como no caso do macaco bugio eletrocutado na rede aérea de energia e resgatado pela ONG Rancho dos Gnomos, de Cotia/SP (vide foto em http://bit.ly/dIRBS2).
Solicito informações de Vs. Ex.as sobre os motivos de não estarem ocorrendo investimentos em estrutura para resgatar, triar e encaminhar para reintrodução os animais destas áreas, tão pouco em espaços para eventualmente abrigar os animais inaptos para a reintrodução, como muitos que chegam ao Rancho dos Gnomos.
Os passivos e compensações ambientais e suas destinações não têm atendido a esta demanda. Desconhecemos a existência de estrutura pública ou convênio que permitam os cuidados aos animais vitimados pela devastação da mata nativa na região, responsabilidade esta do Poder Público conforme legislação vigente.
Certo da atenção de V. Ex.as., aguardo informações.
Respeitosamente
(nome)
(cidade/estado)
A equipe do Rancho dos Gnomos, com apoio de um grupo de veterinários especializados e de voluntários, se empenhou garantir uma vida minimamente decente ao Nico. Mas não foi possível, ele está livre.
Agradecemos aos envolvidos neste atendimento: a munícipe Mônica de Ciamo, que socorreu o Nico logo após o “acidente”, aos veterinários dr. Salvador Fellis, dr. Fábio Futema, dr. Augusto César Dias dos Santos, dra. Sandra Cássia dos Santos Braga, dr. Luís Arthur Giufrida e dra. Kelli Spitaletti, e também à voluntária Beatrice Barabas de Okada.
Familia Rancho dos Gnomos
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