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VIDAS DESCARTÁVEIS

Búfalos no Brasil: vítimas de uma introdução forçada, esses animais podem ser mortos pelos erros humanos

Há 70 anos, eles foram deixados à própria sorte longe de seu habitat e agora o MPF propõe a erradicação dos búfalos como solução dos problemas causados ao ecossistema 

18 de fevereiro de 2025
Júlia Zanluchi
2 min. de leitura
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Búfalo se refresca em águas na Reserva Biológica Guaporé. Foto: ICMBio/Divulgação

Cerca de 5 mil búfalos vivem hoje na Reserva Biológica (REBio) Guaporé, em São Francisco do Guaporé (RO). A falta de controle sobre esses animais tem gerado impactos ambientais, como a formação de áreas desérticas na região. No entanto, a responsabilidade por essa situação não pode ser atribuída aos búfalos, que foram trazidos ao local por decisões humanas equivocadas há mais de 70 anos.

A história dos búfalos na região remonta a 1953, quando administradores do antigo Território Federal do Guaporé (atual Rondônia) decidiram transferir 60 animais da Ilha de Marajó (PA) para a Fazenda Pau D’Óleo. A ideia era utilizar os búfalos para o desenvolvimento da área, especialmente para a produção de carne, leite e derivados. No entanto, o projeto foi abandonado anos depois, e os animais, deixados à própria sorte, se multiplicaram e se espalharam pela região.

Hoje, a população de búfalos na REBio Guaporé é estimada em 5 mil indivíduos, com projeções de que esse número chegue a 50 mil até 2030, segundo o Ministério Público Federal (MPF). A presença desses animais tem causado problemas ao ecossistema local, mas é importante lembrar que eles não escolheram estar ali. Foram introduzidos por humanos, em um projeto mal planejado e posteriormente abandonado.

A criação da REBio Guaporé, em 1982, visava proteger a rica biodiversidade da região, que abriga 34 espécies ameaçadas. No entanto, desde sua fundação, a presença dos búfalos já era apontada como um problema. Apesar disso, pouco foi feito para resolver a situação de forma ética e sustentável. Entre 1991 e 1994, cerca de 3 mil búfalos foram retirados da área, mas a ação foi isolada e ineficaz, permitindo que a população voltasse a crescer.

Agora, diante do descontrole, o MPF propõe a erradicação dos búfalos como solução. No entanto, essa medida ignora o fato de que esses animais são vítimas de uma introdução forçada e de décadas de negligência humana. Matá-los seria puni-los por erros que não cometeram.

A solução para o problema deve considerar os direitos animais e a responsabilidade humana. Em vez de erradicação, é urgente buscar alternativas éticas, como a relocação dos búfalos para áreas onde possam viver sem causar danos ambientais, ou a implementação de métodos de controle populacional não letais. Os búfalos não são invasores por escolha; são seres sencientes que merecem compaixão e proteção.

A história dos búfalos na REBio Guaporé é um exemplo claro de como decisões humanas mal planejadas podem ter consequências devastadoras para a fauna e o meio ambiente. Agora, cabe à sociedade e aos governos assumirem a responsabilidade por esses erros e buscar soluções que respeitem a vida e os direitos desses animais.

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