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CASO BROTAS

Búfalas debilitadas e desnutridas eram submetidas a processos de inseminação artificial

5 de janeiro de 2022
Vanessa Santos | Redação ANDA
6 min. de leitura
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Foto: Instagram | @bufalas_de_brotas

O laudo técnico ambiental realizado na Fazenda Água Sumida, em Brotas, no interior de São Paulo, foi divulgado nessa semana. A perícia concluiu que as mais de mil búfalas que vivem na propriedade foram vítimas de crueldade ao serem expostas à fome e à sede. Vários animais foram encontrados mortos em valas dentro da fazenda.

O delegado responsável pelo caso, Douglas Brandão do Amaral, e o Ministério Público da cidade receberam o documento produzido pela Universidade de São Paulo (USP) em conjunto com a Universidade Estadual Paulista (Unesp). É apontado no relatório que os búfalos passaram por mais de um episódio de estresse, causado por fome e sede, em um período recente, constatando que os animais eram submetidos a situações de ausência de alimentos frequentemente.

Foto: Instagram | @bufalas_de_brotas

No laudo, é solicitada a abertura de um novo inquérito policial para apurar crime contra a saúde pública, já que os locais onde as búfalas eram exploradas para produção de leite eram inapropriados.

A condição física dos animais é divergente das requeridas para manter o bem-estar dos animais durante a exploração na fazenda, todos os animais apresentaram quadro de desnutrição severa. O laudo também responsabiliza o pecuarista Luiz Augusto Pinheiro de Souza, por negligência, pois em período de estiagem, como registrado no ano passado, os fazendeiros devem realizar a rotação de pastagem, para evitar que os animais passem fome. Nas propriedades vizinhas que exploram animais, as vacas apresentaram uma saúde muito mais elevada que as búfalas, após enfrentarem a mesma estiagem.

Segundo os peritos, mesmo esquálidas, as búfalas continuaram sendo submetidas a processos de inseminação artificial para gerar filhotes, o que sugere indícios de crueldade. A necropsia feita nas búfalas que morreram recentemente apontou atrofia, indicando que os animais passaram fome por meses antes de morrerem por inanição.

Flagrante e prisão

Em 6 de novembro, a Polícia Ambiental visitou a Fazenda São Luiz da Água Sumida após receber uma denúncia da ONG ARA (Amor e Respeito Animal). Durante a vistoria, as equipes constataram centenas de animais presos e abandonados em uma área inóspita, a maioria visivelmente apática e faminta. Os policias também encontraram na visita, 22 cadáveres enterrados em uma vala aberta. Dias depois, as autoridades flagraram o pecuarista Luiz Augusto destruindo uma área de pastagem. Na ocasião, o delegado Douglas Brandão solicitou a prisão do fazendeiro, que também foi multado no valor de R$ 2 milhões, porém, Luiz pagou uma fiança de R$ 10 mil e foi liberado.

O caso ganhou repercussão nacional e muitas entidades em defesa dos direitos animais se mobilizaram para tratar dos animais abandonados.

Foto: Instagram | @bufalas_de_brotas

No final de novembro, a Justiça estabeleceu a ONG ARA como depositária dos 1.056 búfalos e 72 cavalos encontrados na fazenda. Em dezembro, o MP denunciou o dono da fazenda por crime de maus-tratos contra 991 bubalinos e cavalos vivos, além de 137 animais encontrados mortos. Ele também foi acusado de ameaça, falsidade ideológica e falsificação de documentos. A promotoria pediu sua prisão preventiva, mas a decisão não foi acatada pelo juiz local, sendo mais tarde determinada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

A defesa do pecuarista informou que a denúncia é improcedente, pois não houve crime de maus-tratos, alegando que “não há elementos para a prisão de Luiz Augusto”. Os advogados ainda não se pronunciaram sobre a divulgação da perícia.

Esperança

Nasceu essa semana, a primeira bezerrinha desde que começaram os trabalhos de recuperação dos animais. As equipes médicas e ativistas comemoraram a chegada do pequeno animal, que está sob os cuidados da ONG ARA.

Vídeos compartilhados no Instagram que acompanha o tratamento das búfalas, é possível ver o filhote mamando. “Mãe e filhote estão em uma área denominada de maternidade pela equipe, onde em breve outros filhotes recém-nascidos devem estar”, disse Alex Parente, presidente da ONG.

A previsão é que centenas de animais venham a nascer nas próximas semanas e meses, já que a maioria das búfalas estavam grávidas quando foram encontradas. Segundo Parente, a ONG vai precisar que as doações continuem para a segurança alimentar dos animais e os tratamentos médicos. Nas redes sociais, o público tem participado de enquetes para escolher o nome da bezerrinha, que será Aurora, Frida ou Luz.

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