O javalis são completamente desrespeitados e até odiados na França. Infelizmente a caça da espécie para consumo de sua carne é normalizada no país e fazendeiros ainda afirmam que eles causam cerca de 1 milhão de euros em prejuízos às colheitas todos os anos. Mas uma fêmea chamada Rillette despertou a empatia de muitos franceses.
Uma ameaça das autoridades locais em Aube, no leste do país, de matar a javali fêmea gerou uma campanha internacional para salvar Rillette, apoiada pela ativista pelos direitos animais e ex-atriz, Brigitte Bardot.
A repercussão da campanha tem sido impressionante, com um YouTuber francês chamado Monsieur Seby (903 mil inscritos) compondo uma música para salvar o sanglier (javali).
Élodie Cappé, que administra um estábulo, encontrou Rillette, aparentemente órfã, remexendo no lixo perto de sua fazenda em abril de 2023. Ela contatou as autoridades locais para relatar o animal, mas, após não conseguir encontrar um santuário ou parque disposto a aceitar Rillette, construiu para ela um cercado de 1,2 km². Cappé afirma que, com os vizinhos mais próximos a três quilômetros de distância, ela não representa ameaça a ninguém e se tornou parte da família.
“Eu liguei para várias organizações, mas todas empurraram o problema. Disseram para eu dar um tiro nela”, contou à emissora de televisão France 3. “Tentamos encontrar um lugar para ela em um parque de animais, mas ninguém a quis. Agora ela é uma de nós. Vive nos estábulos, tem sua própria cama e dorme no feno. Ela é como um cachorro e vem quando a chamamos.”
“Recebi apoio de todo o mundo… pessoas dizendo que isso é inaceitável, abjeto, inadmissível”, acrescentou.
Uma petição para salvar Rillette já foi assinada por mais de 170 mil pessoas ao redor do mundo. Agora, moradores próximos à fazenda de Cappé estão planejando uma marcha silenciosa no próximo fim de semana.
“Este adorável javali é muito próximo dos humanos e merece viver em condições tão próximas quanto possível do seu habitat natural. Embora a Sra. Cappé esteja fazendo o máximo para manter essas condições, sem apoio adicional o futuro do nosso javali é incerto”, diz a petição.
Em dezembro, Bardot entrou na luta, escrevendo uma carta aberta. “Socorro! Exijo que Rillette seja poupada. Que monstros estão exigindo que ela seja sacrificada… este pequeno animal tem direito à vida, é um dever. Ela é inocente. A eutanásia é um crime! Somos governados por assassinos”, escreveu a ativista.
As autoridades de Aube permanecem inflexíveis, afirmando que a situação é “irregular” e que o javali representa um risco sanitário como possível portador de “doenças, incluindo peste suína e tuberculose bovina”.
Foi determinado que Rillette seja colocada em um “santuário adequado”, sob pena de morte, e que Cappé seja “fortemente aconselhada” a cumprir esta ordem para evitar que a javali seja morta e ações legais sejam tomadas contra ela.
Nota da Redação: a crescente hostilidade contra javalis e o tratamento injusto dado a Rillette são reflexos preocupantes de uma visão que desumaniza os animais e os trata como meros incômodos ou recursos. Javalis, como qualquer ser senciente, possuem o direito à vida e ao respeito, independentemente dos danos que possam causar às atividades humanas. A história de Rillette, um animal órfão que encontrou abrigo e afeto em meio à indiferença, deveria inspirar empatia, não condenação. Ameaçar sua vida em nome de regras burocráticas ou medos infundados é um ato desproporcional e cruel.