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Brigid Brophy: “Temos a obrigação de reconhecer e respeitar os direitos dos animais”

26 de dezembro de 2017
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“Uma vez que reconhecemos a vida e a sensibilidade nos outros animais, somos obrigados a reconhecer o que se segue” (Foto: Kate Levey)

Brigid Brophy foi uma escritora britânica que conquistou notoriedade com seus romances “The King of a Rainy County”, “The Finishing Touch” e “In Transit,” e também pela sua dedicação às questões humanas e não humanas. O seu trabalho contra a exploração animal é considerado tão relevante, que ela, assim como o psicólogo e escritor Richard R. Ryder, é apontada como importante personagem da fundação do movimento moderno pelos direitos animais na Inglaterra; inclusive influenciando filósofos como Peter Singer.

Um dos seus artigos mais famosos em defesa dos animais foi publicado em 10 de outubro de 1965 no jornal britânico The Sunday Times. No texto intitulado “The Rights of Animals”, Brigid Brophy diz que a relação dos seres humanos com os animais é de incessante exploração e pede que nos empenhemos em mudar esse cenário. Não simplesmente não contribuindo com isso, mas também tomando parte nessa luta. “Nós os forçamos a trabalhar; os comemos e os usamos. Nós os exploramos para servir às nossas superstições: costumávamos sacrificá-los para os nossos deuses e rasgávamos suas entranhas para prever o futuro, agora os sacrificamos em nome da ciência e fazemos experiências com suas entranhas na esperança – ou sem qualquer chance – de enxergar mais claramente o presente”, escreveu.

Para Brigid, a vivissecção, mesmo que endossada pela ciência com pretensos “bons propósitos”, não deixa de ser um tipo moderno de sacrifício expiatório de animais; já que matamos criaturas que não querem morrer sob a justificativa de um “bem maior” que ignora qualquer interesse não humano. “Você não pode fazer uma aritmética que troque seis direitos de um tipo por dois de outros tipos. Se fosse justificável sacrificar um animal de laboratório pelo bem dos humanos, seria justificável sacrificar um humano de laboratório pelo bem de uma centena de seres humanos”, comparou.

Foi a romancista quem colocou o psicólogo, escritor e ativista pelos direitos animais Richard D. Ryder em contato com Rosalind Godlovitch, Stanley Godlovitch e John Harris, três estudantes de pós-graduação da Universidade de Oxford que editaram o livro “Animals, Men and morals: An Inquiry into the Maltreatment of Non-Humans”, uma coleção de ensaios sobre direitos animais lançada em 1971, e que conta com a participação de Brigid Brophy e Ryder. O livro, considerado a obra pioneira do movimento moderno pelos direitos animais, teve grande influência sobre Peter Singer no desenvolvimento do livro “Animal Liberation”, de 1975.

Pelo seu empenho contra o uso de animais em experiências laboratoriais, Brigid chegou a ser presidente da histórica National Anti-Vivisection Society, fundada em Londres em 1875. Foram também as suas contrariedades em relação às experiências com animais que a motivaram a escrever o romance satírico “Hackenfeller’s Ape”, publicado em 1953. Na obra, o professor Darrelhyde, que estuda os hábitos do casal de macacos Percy e Edwina, que vivem no Regent’s Zoo (London Zoo), faz de tudo para evitar que Percy seja enviado para o espaço dentro de um foguete com fins experimentais. Como sua campanha não recebe nenhum tipo de apoio, nem de cientistas e jornais, nem mesmo de uma liga que supostamente deveria coibir práticas cruéis contra os animais, o professor Darrelhyde decide sequestrar o macaco Percy:

“Eu não sustento que os animais são superiores ou iguais aos seres humanos. Todo o caso de que devemos tratar os animais decentemente subsiste no fato de que somos uma espécie superior. Temos a capacidade da imaginação, racionalidade e escolha moral, e é precisamente por isso que temos a obrigação de reconhecer e respeitar os direitos dos animais.”

Em seu artigo “The Rights of Animals”, Brigid Brophy escreveu também que o toureiro que atormenta um touro até a morte e depois remove a sua orelha se engana se acredita que está provando ou ampliando a própria virilidade com essa prática bárbara. “Ele simplesmente demonstra que é um carniceiro com tendências performáticas”, criticou.

Brigid Brophy, que era vegetariana, e naturalmente defendia o não consumo de animais, declarou que nem mesmo quando evitamos ao máximo causar dor aos animais temos o direito de matá-los visando o consumo. Ou seja, ela reprovava qualquer forma de abate de animais, e certamente condenaria o que chamam hoje, e estrategicamente, de “abate humanitário”. A escritora acreditava que nenhum “bom tratamento” seria capaz de justificar a morte seguida da mercantilização da carne.

“Sei que eu não teria o direito de te matar, por mais indolor que isso fosse, só porque gosto do seu sabor, e não estou em posição de julgar que sua vida vale mais para você do que a de um animal para ele”, ponderou a escritora no Sunday Times em publicação de 10 de outubro de 1965.

Foram também as suas contrariedades em relação às experiências com animais que a motivaram a escrever o romance satírico “Hackenfeller’s Ape”, publicado em 1953 (Foto: Reprodução)

Ao longo de décadas, muitas das frases de Brigid Brophy foram usadas em panfletos e campanhas a favor dos animais na Inglaterra e também em muitos outros países. Excerto de um de seus discursos mais famosos foi publicado pela Voice for Ethical Research at Oxford, e que pode ser confirmado no próprio site da Vero:

“Uma vez que reconhecemos a vida e a sensibilidade nos outros animais, somos obrigados a reconhecer o que se segue; o direito à vida, à liberdade e a busca da felicidade.” Em 9 de outubro de 2015, no aniversário de 50 anos do artigo “The Rights of Animals”, foi realizada na Inglaterra a Brigid Brophy Anniversary Conference, um evento com duração de dois dias que contou com presenças ilustres, como a do seu amigo e defensor dos direitos animais Richard D. Ryder.

A conferência coordenada pelo professor Richard Canning, da Universidade de Northampton, e que teve o apoio da Vegan Society, foi pautada na literatura de Brigid, na sua luta pelos direitos animais, pelo humanismo e pelo feminismo. Na ocasião, o discurso de abertura da conferência foi marcado, entre outras lembranças, pelo incômodo de Brigid Brophy ao ter certeza de que a pesca não era uma preocupação das entidades de bem-estar animal, e exortou mudanças nesse sentido. Graças a ela, surgiu em Londres o Council for the Prevention of Cruelty by Angling (Conselho para a Prevenção da Crueldade da Pesca). Em 1981, na posse do conselho, Brigid fez um discurso celebrando essa conquista: “Este é um dia feliz para os peixes.”

Saiba mais

Brigid Brophy nasceu em Ealing, Londres, em 12 de junho de 1929, e faleceu em 7 de agosto de 1995.

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