A maioria dos brasileiros reconhece que o aquecimento global e as mudanças climáticas são reais, causadas pela ação humana e já afeta o cotidiano, mas apenas uma parcela reduzida afirma compreender bem esses fenômenos. É o que mostra a 4ª edição da pesquisa “Mudança do clima na percepção dos brasileiros”, realizada pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) em parceria com a Ipsos-Ipec.
Segundo o levantamento, 93% da população brasileira com 18 anos ou mais afirma que o aquecimento global está acontecendo. Sete em cada dez brasileiros atribuem o fenômeno principalmente à ação humana. O nível de preocupação é elevado: 79% dizem estar preocupados ou muito preocupados com a mudança do clima.
Apesar disso, o conhecimento declarado sobre o tema é limitado. Apenas 23% dos brasileiros afirmam que sabem muito sobre aquecimento global e mudança do clima. Outros 42% dizem saber “mais ou menos”. Entre os jovens de 18 a 24 anos, essa proporção sobe para 53%, indicando maior familiaridade parcial, mas não aprofundada.
A pesquisa também aponta um avanço na conscientização ambiental. Em um cenário hipotético em que meio ambiente e economia estivessem em conflito, 80% dos brasileiros afirmam que é mais importante proteger o meio ambiente, mesmo que isso resulte em menos crescimento econômico e menos empregos. Em 2022, esse percentual era de 74%.
“O Brasil é singular: temos poucos negacionistas e uma preocupação com o clima que atravessa diferentes espectros políticos. A percepção de que é preciso agir é clara em toda a população”, afirma Fabro Steibel, diretor-executivo do ITS Rio. Segundo ele, a COP30 também teve repercussão positiva, com a percepção de que o evento pode trazer contribuições efetivas para enfrentar a mudança do clima.
Impactos já sentidos no cotidiano
Os efeitos do aquecimento global são percebidos diretamente no dia a dia: 94% dos brasileiros notaram aumento no preço dos alimentos nos últimos anos, e 65% deles acreditam que essa alta está relacionada à mudança do clima.
A percepção sobre alterações no regime de chuvas varia por região. Em média, 73% dos brasileiros dizem que as chuvas diminuíram. No Centro-Oeste, esse índice chega a 83%. Já no Sul, 47% da população acredita que está chovendo mais; no total do país, essa percepção é de 29%.
COP30: conhecimento e expectativa
Até 11 de novembro, início da conferência climática da ONU, 56% dos brasileiros já tinham ouvido falar da COP30. O conhecimento é maior na região Norte (73%), entre pessoas com ensino superior (75%) e nas classes A/B (72%). Metade da população (50%) acredita que a conferência poderá reduzir os impactos negativos da mudança do clima. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o otimismo é maior: 60%.
Mulheres demonstram maior preocupação
A preocupação com os efeitos futuros da crise climática também é elevada: 87% dos brasileiros acreditam que o aquecimento global pode prejudicar muito as próximas gerações, e 70% dizem que o fenômeno pode afetar gravemente a si próprios e suas famílias. Entre as mulheres, esse percentual chega a 91%, contra 76% entre os homens.
Quem deve agir
Para 35% dos entrevistados, empresas e indústrias são as principais responsáveis por enfrentar a mudança do clima. Governos aparecem logo atrás, com 34%. Considerando a margem de erro, não há diferença estatística significativa entre esses dois grupos. Já 20% apontam os próprios cidadãos como principais responsáveis.
“A maior percepção de que o aquecimento global é causado pela ação humana leva a população a cobrar tanto empresas, pela redução de emissões, quanto governos, pela regulamentação e fiscalização ambiental”, explica Rosi Rosendo, diretora de opinião pública da Ipsos-Ipec.
Para Aloísio Lopes, secretário nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), a percepção dos impactos diretos da crise climática tende a ampliar a cobrança sobre o poder público. “Isso é positivo e contribui para consolidar avanços como a redução do desmatamento e a priorização da agenda climática em diferentes áreas da ação governamental”, afirma.
Atitudes individuais e energia limpa
Quando perguntados sobre ações pessoais, 76% dos brasileiros dizem separar lixo para reciclagem e 63% afirmam já ter compartilhado informações ou notícias em defesa do meio ambiente. 56% deixaram de comprar ou usar produtos prejudiciais ao meio ambiente, e 45% dizem ter votado em algum candidato por causa de propostas ambientais. Esses percentuais permanecem estáveis ao longo das quatro edições da pesquisa.
Um dos dados que mais avançaram diz respeito ao uso de energia limpa em residências. A proporção de pessoas que afirmam utilizar energia solar ou outra fonte não poluente passou de 11% em 2020 para 18% em 2025. Rosi Rosendo pontua que a eficiência energética residencial contribui para reduzir a demanda por fontes mais poluentes e, no caso brasileiro, pode aliviar a pressão sobre usinas hidrelétricas e reduzir custos de geração.
A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas telefônicas com 2.600 pessoas com 18 anos ou mais, de todas as regiões do país, abrangendo diferentes níveis de escolaridade, sexo, faixas etárias, raça/cor, posicionamento político, classe socioeconômica e religião. A coleta de dados ocorreu entre 10 de outubro e 11 de novembro de 2025. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.
Fonte: Um só Planeta