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MÉRITO

Brasileiro vence prêmio por projeto de conservação do tatu-canastra

Biólogo Gabriel Massocato trabalhou como guia turístico no Pantanal, onde teve a oportunidade de observar animais ameaçados, caso do tatu-canastra

8 de junho de 2022
Gabriela Garcia
4 min. de leitura
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Biólogo brasileiro vence prêmio internacional (Foto: Reprodução/ Gabriel Massocato)

O tatu-canastra não é tão popular quanto a onça-pintada, a arara ou lobo-guará. Mas ele é fundamental para o equilíbrio ecológico de diferentes biomas brasileiros. E por isso, diversas iniciativas visam preservar a espécie, ameaçada pela perda de habitat e outros fatores, como incêndios florestais e atropelamentos em estradas do país. Entre as ações está o Programa de Conservação do Tatu-Canastra, do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), que recentemente ganhou destaque internacional.

Em maio, o biólogo Gabriel Massocato, que coordena o Programa no Pantanal, foi contemplado com o prêmio de 50 mil euros do Future for Nature Awards 2022, promovido pela organização holandesa The Future For Nature Foundation. A premiação, que teve mais de 250 inscritos, reconhece iniciativas inovadoras para proteção de animais e plantas silvestres em todo o mundo.

Natural de Ribeirão Preto, no interior paulista, Gabriel passou sua infância nas áreas verdes da Universidade de São Paulo (USP), onde seus pais trabalhavam. O contato com a natureza o levou a cursar biologia na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul.

Ao final da graduação, ele trabalhou como guia turístico no Pantanal, onde teve a oportunidade de observar animais ameaçados, caso do tatu-canastra. “Costumamos dizer que o Pantanal é o nosso laboratório, pois é uma paisagem com a parte verde bem preservada. É nesse bioma que descobrimos as informações básicas da ecologia e testamos as metodologias para se trabalhar com o animal”, relata. E foi lá também onde ele entendeu a importância de preservar o tatu.

Herói de carapaça

Por ser uma espécie pouco conhecida, o tatu-canastra estava caindo no esquecimento. Foi por meio do programa coordenado por Massocato — e fundado pelo zoólogo francês Arnaud Desbiez — que iniciaram as investigações sobre as principais ameaças vividas pelo mamífero.

Sua presença no ecossistema é fundamental. Conhecido como “engenheiro ecológico”, o tatu-canastra auxilia na sobrevivência de outros animais. Isso porque ele constrói buracos grandes e fundos onde passa o dia, e que à noite são usados por indivíduos de outras espécies. Segundo o biólogo, já foram registrados mais de 70 animais utilizando os buracos do tatu-canastra. Alguns deles entram no local para dormir ou procurar alimento, e outros descansam na areia fresca que fica à frente do buraco.

Por isso, os especialistas buscam retratar esse tatu como um embaixador da biodiversidade. E para torná-lo mais carismático, brincam inclusive com sua aparência. “Costumamos dizer que o tatu-canastra se assemelha a um pequeno dinossauro”, diz Massocato. “Observando a morfologia externa do animal, ele possui uma carapaça protetora e garras gigantes que lembram o réptil jurássico. Então sempre buscamos falar dessa maneira para chamar a atenção das pessoas.”

O tatu gigante é considerado um engenheiro ecológico (Foto: Reprodução/Kevin Schafer )

Todos pelos tatus

O programa de conservação ao tatu-canastra começou no Pantanal e se espalhou para outros lugares do Brasil e da América do Sul. Na região pantaneira, as maiores ameaças à espécie são incêndios florestais. Para impedir as mortes, os conservadores criaram uma brigada de incêndio junto a aproximadamente 10 fazendas parceiras.

No Mato Grosso do Sul, a iniciativa Canastras e Colmeias veio para acabar com um conflito entre tatus e apicultores. É que os animais estavam destruindo as colmeias para se alimentar das larvas de abelhas. Os especialistas entraram em cena para elaborar métodos que permitissem a coexistência de todos na região, ou seja, eles tiraram as colmeias do alcance do animal. Isso pode ser feito por meio da instalação de cercas em torno de apiários e da disposição de caixas em cavaletes altos. O apicultor que usa esses métodos recebe o selo “Amigo do tatu-canastra”, que permite comercializar o mel com um valor mais alto.

Já na Mata Atlântica, o projeto visa proteger as áreas do entorno do Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais. Por lá, foram criados corredores ecológicos para que os tatus consigam circular em segurança.

O tatu-canastra mede cerca de 1,5 metros e possui garras de até 20cm. (Foto: Reprodução/Gabriel Massocato)

Por essas ações de conservação e pelas descobertas feitas pela equipe, o projeto do ICAS contribuiu para a construção do Plano Nacional de Conservação do Tatu-Canastra, do Ministério do Meio Ambiente.

Gabriel Massocato espera destinar seu prêmio a projetos no Cerrado do Mato Grosso do Sul que visam proteger regiões isoladas onde vivem esses animais. “Se nós não fizermos isso, em alguns anos o tatu-canastra corre o risco de ser extinto nessas áreas”, afirma o biólogo. E com isso, não só os animais, mas todos nós temos muito a perder.

Fonte: Revista Galileu

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