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INCÊNDIOS FLORESTAIS

Brasil tem 200 milhões de hectares queimados em 39 anos, um a cada 4 hectares do país

Levantamento do MapBiomas mostra Cerrado como bioma mais atingido, seguido pela Amazônia; Pantanal é o mais prejudicado em relação a área proporcional

18 de junho de 2024
Marco Britto
8 min. de leitura
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Foto: Paulo Brando/IPAM

As queimadas e incêndios florestais no Brasil atingiram quase 200 milhões de hectares no país (199,1 hc) nos últimos 39 anos, levando-se em conta incêndios naturais e causados pelo homem. O número é equivalente a um a cada quatro hectares no país, aponta levantamento apresentado nesta terça-feira (18) pelo MapBiomas, iniciativa que reúne ONGs, universidades e empresas de tecnologia para mapeamentos de caráter ambiental.

Efeitos da mudança climática, como secas prolongadas, aliadas ao uso do fogo para renovar pastagens na agropecuária, vêm intensificando a amplitude das queimadas no país, que, quando fora de controle, passam a atingir áreas cada vez maiores, prejudicando a biodiversidade de biomas como o Cerrado e a Amazônia, que juntos concentram 86% da área queimada pelo menos uma vez no Brasil no período analisado (1985-2023).

Segundo dados do MapBiomas, no Cerrado, foram 88,5 milhões de hectares queimados, o que representa 44% do total nacional. Na Amazônia, queimaram 82,7 milhões de hectares (42%). “Apesar das queimadas fazerem parte da ecologia de alguns biomas, o aumento da área queimada e a recorrência do fogo em vegetação nativa devem ser vistos com muita preocupação na proteção do território, da biodiversidade, dos recursos hídricos e das populações do Brasil”, analisa Daniel Silva, especialista de conservação do WWF-Brasil.

Cerrado, bioma mais atingido

Além de ter registrado a maior área queimada no período do levantamento, o Cerrado teve quase metade (44%) de sua área, afetada por queimadas ao menos uma vez, sendo que o MapBiomas aponta o bioma como o que teve a maior quantidade de área queimada repetidamente, ano após ano.

“O Cerrado tem sofrido com as altas taxas de desmatamento, que acabam por refletir no aumento das queimadas e no risco dessas virarem incêndios. Essas mudanças impactam negativamente o equilíbrio ecológico, uma vez que o fogo, que é um componente natural do Cerrado, está ocorrendo com uma frequência e intensidade que a vegetação não pode suportar”, explica Vera Arruda, coordenadora técnica do MapBiomas Fogo e pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), que participa do mapeamento.

O bioma possui um regime de fogo natural, que ocorre espontaneamente, porém esta dinâmica vem sendo “drasticamente alterada” pela mudança climática, que impõe temperaturas mais altas à região, avalia a pesquisadora, além do dano causado pelo uso indiscriminado do fogo.

“Cerrado e Pantanal também tiveram aumento da incidência do fogo por causa da seca. Mas, além disso, a tendência de aumento do desmatamento dos últimos anos também contribui para as queimadas”, afirma o especialista do WWF-Brasil.

Um quinto dos incêndios no bioma chegam a áreas entre 1.000 e 5.000 hectares. A cidade de Formosa do Rio Preto (BA), no Cerrado, é o terceiro município brasileiro com o maior número de queimadas registradas pelo MapBiomas entre 1085 e 2023.

Amazônia mais vulnerável ao fogo

“A Amazônia enfrenta um risco elevado com a ocorrência de incêndios devido à vegetação não adaptada ao fogo, agravando o nível de degradação ambiental e ameaçando a biodiversidade local, enquanto a seca histórica e as chuvas insuficientes para reabastecer o lençol freático intensificam a vulnerabilidade da região”, explica Ane Alencar, coordenadora do MapBiomas Fogo e diretora de ciências do IPAM.

Entre 1985 e 2023, foram 82,7 milhões de hectares queimados no bioma. O fogo é causado principalmente pelo desmatamento e práticas agrícolas, afirmam os pesquisadores. Na “cicatriz” das queimadas, como classifica o levantamento, predominam áreas entre 100 e 500 hectares, que representam um quinto dos incêndios registrados no bioma.

“As queimadas na Amazônia são essencialmente relacionadas a atividades humanas, e costumam ocorrer em áreas recentemente desmatadas, para limpeza, e para renovação das pastagens. Porém, as queimadas estão atingindo cada vez mais áreas de vegetação nativas, por conta da crise climática que aumenta a seca nas florestas e torna-as mais vulneráveis”, aponta Silva.

“Quando a gente olha o que aumentou na área queimada, não foi a área de pastagem [desmatamento], que reduziu. Foi a área relacionada a incêndios florestais [de causa natural], que aumentou absurdamente, em uma região que não é foco de desmatamento: o norte da Amazônia, a mais impactada pela seca.” — Ane Alencar, coordenadora do MapBiomas Fogo e diretora de ciências do IPAM

A Amazônia contribui com metade (49%) das emissões líquidas do Brasil, segundo pesquisa do SEEG/OC (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima), sendo o controle do desmatamento na região uma estratégia vital para o Brasil manter seu compromisso internacional de redução na emissão de gases estufa até 2030.

O município de São Felix do Xingú (PA) foi o segundo com mais ocorrências de incêndios no período pesquisado pelo mapeamento.

Pantanal foi quase 60% queimado

Corumbá (MS), no Pantanal, é o município brasileiro com maior número de queimadas registradas no levantamento. O bioma possui a maior “cicatriz” do fogo, com incêndios que se espalham entre 10 mil e 50 mil hectares em um quarto da extensão da região, que em 2024 enfrenta alarmante estado de seca, o que aumenta a chance de o fogo se alastrar, afirmam pesquisadores.

Com essas características, o Pantanal é ainda o bioma que mais queimou proporcionalmente em relação à sua área: foram 9 milhões de hectares, 59,2% do bioma. Apenas em 2023 foram mais de 600 mil hectares queimados no Pantanal, 97% dos quais ocorreram entre setembro e dezembro.

“Um ponto a destacar é a situação crítica do Pantanal, que teve aumento em mais de 900% da sua área queimada em relação ao ano passado. Nesse bioma, a incidência relativa do fogo é muito alta, ou seja, a área queimada em relação a área do bioma é muito grande. Isso significa uma pressão ainda maior para a sua biodiversidade e suas populações.” — Daniel Silva, especialista de conservação do WWF-Brasil

Os incêndios florestais podem ser intensificados por eventos climáticos atípicos. “Desde maio do ano passado o fenômeno El Niño esteve atuante e dessa forma contribuiu para o aumento da temperatura sobre a região”, explica a pesquisadora Marília Guedes Nascimento, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

No início deste mês, em razão do Dia Mundial do Meio Ambiente, a ministra Marina Silva, que lidera o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, alertou para o risco elevado de incêndios no bioma.

Veja mais dados da pesquisa:

  • 46% da área queimada está nos estados de Mato Grosso, Pará e Maranhão
  • A cada ano, uma média de 18,3 milhões de hectares (2,2% do país) são queimados
  • 68,4% das áreas atingidas pelo fogo foi de vegetação nativa
  • Área queimada na Caatinga foi de quase 11 milhões de hectares
  • Na Mata Atlântica, foram cerca de 7,5 milhões de hectares incendiados
  • Pampa teve 518 mil hectares atingidos por queimadas

Fonte: Um Só Planeta

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