Dados do Sistema de Informação de Manejo de Fauna (Simaf), operado pelo Ibama, revelam que o Brasil registrou 511.466 javalis mortos apenas até agosto deste ano, o maior número já contabilizado. Os abates declarados no sistema cresceram 465% desde 2020, quando foram informadas 90.528 mortes. No total, 1,71 milhão de animais foram oficialmente assassinados desde então.
Segundo o professor Paulo Bezerra, coordenador de capivaras e javalis da USP/ESALQ-LOG, os números reais podem ser até cinco vezes maiores. Ele afirma que os relatórios são apenas declaratórios e subnotificados pelos próprios caçadores. “Eles abatem 10, 20, 30, 50 animais, mas não têm coragem, nem tempo, nem paciência para preencher o relatório no Simaf. Então registram só 1 ou 2”, explica.
A caça como método de controle é ineficiente, cruel e apresenta riscos ambientais, mas mesmo assim se tornou a principal política pública para lidar com a espécie no país.
Os javalis, introduzidos no Brasil por ação humana e hoje classificados como espécie exótica invasora, se expandem principalmente no Centro-Sul. A ausência de predadores naturais e a alta taxa de reprodução são fatores conhecidos, mas o extermínio não resolve o problema, apenas tenta mascarar uma crise criada pela própria ação humana.
Os recursos públicos e esforços devem ser direcionados para o investimento em pesquisa de métodos contraceptivos eficazes e de longo prazo para controle populacional ético e estudos aprofundados sobre ecologia da espécie para desenvolver estratégias de manejo baseadas em evidência científica, não apenas em matança.
Na Câmara, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) propôs um projeto que entrega aos estados e municípios a responsabilidade pelo combate e flexibiliza o uso de produtos para controle. A iniciativa é uma institucionalização do extermínio, com grande risco de estimular práticas cruéis e descontroladas.
É um erro transformar um questão ambiental em justificativa para expandir a caça no país. O Brasil está reproduzindo uma política ultrapassada, violenta e ineficaz.