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CRISE CLIMÁTICA

Brasil registrou 10 eventos climáticos extremos em 2024, sendo 3 'sem precedentes', aponta OMM

Chuvas, ondas de calor e seca atingiram o Brasil de forma inédita no ano passado, mostra levantamento da Organização Meteorológica Mundial

21 de março de 2025
Marco Britto
7 min. de leitura
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Pessoas caminham sobre bancos de areia no leito do Rio Madeira para buscar água em meio à seca mais severa em quase 60 anos na Amazônia, em 2024. Foto: Michael Dantas/AFP

O relatório State of the Global Climate 2024divulgado nesta terça-feira (18/03) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), aponta que o Brasil houve registrou, no ano passado, três eventos climáticos extremos sem precedentes : as chuvas no Rio Grande do Sul entre abril e maio, a seca na Amazônia, com ápice em julho e a onda de calor que atingiu o Mato Grosso em agosto.

Outros sete eventos extremos foram considerados incomuns, e atingiram comunidades de Norte a Sul do país. Espalhados por dez meses do ano, o cenário reportado pela agência mostra que, em apenas dois meses de 2024, junho e novembro, o Brasil não registrou evento climático de grande impacto.

mudança climática gerada pelo aquecimento da atmosfera, algo que ocorre em grande parte devido à queima de combustíveis fósseis, tem como impacto a desconfiguração do clima como a sociedade se habitou a conviver, apontam cientistas. O aumento da temperatura média do planeta já vem causando chuvas, secas e ondas de calor mais fortes e imprevisíveis, conforme diversos alertas científicos, como o do IPCC, painel científico da ONU. Veja abaixo os fenômenos destacados pelo documento da OMM para o Brasil, mês a mês.

Janeiro – chuva

Chuvas na Baixada Fluminense em janeiro causaram a morte de 12 pessoas e deixaram pelo menos 600 desabrigados, além de alagamentos e diversos danos materiais no Rio de Janeiro. Duque de Caxias (RJ) foi a cidade com mais chuva no Brasil naquele mês, com total de 488 milímetros (mm), sendo 162 mm registrados em apenas 24 horas, no dia 14 de janeiro.

Fevereiro – chuva

No Ceará, choveu um total de 484,5 mm em Fortaleza, com a média histórica sendo de 204,6 mm. Em São João do Piauí, no estado do Piauí, choveu um total de 307,4 mm por mês, com a média sendo de 129 mm, e, somente no dia 19 de setembro, choveu 121 mm.

As fortes chuvas no centro-norte do Brasil ocorreram principalmente devido à combinação de calor e alta umidade, além da Zona de Convergência Intertropical, aponta a OMM.

Março – onda de calor

Uma onda de calor foi resultado de um bloqueio atmosférico que impediu o avanço de frentes frias pelo país, permitindo a permanência de ar quente no centro do Brasil. Além disso, houve a influência do El Niño desde o início do ano. As temperaturas máximas ultrapassaram os 40°C, principalmente em áreas dos estados do Ceará, Roraima e Paraná. Destaque para as estações meteorológicas de Itapioca (CE) que atingiram a temperatura máxima de 43,4°C no dia 20 de março, 41,6°C em Boa Vista (RR) e Paranapoema (PR) com 40,1°C.

Abril – chuva e enchente sem precedentes

No final do mês de abril, a partir do dia 30, iniciaram-se as chuvas que causaram a maior tragédia climática já registrada no Brasil. O corredor de umidade da Amazônia e as correntes de vento ajudaram a formar nuvens de tempestade com chuva intensa no Rio Grande do Sul, especialmente nas cidades de Bento Gonçalves e Rio Pardo. Mas o maior volume registrado no mês ocorreu em Santa Maria, com 408,3 mm.

Maio – chuva e enchente sem precedentes

O Rio Grande do Sul foi atingido por chuvas persistentes e intensas entre os dias 1º e 2º de maio. Santa Maria (213,6 mm no dia 1º) e Soledade (249,4 mm no dia 2) foram inicialmente mais atingidas, ao mesmo tempo em que a água começou a invadir a capital, Porto Alegre, que acabou severamente impactada.

As enchentes no Rio Grande do Sul entre abril e maio causaram prejuízos de aproximadamente R$ 3,7 bilhões para a agricultura do estado, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM). O aeroporto da capital ficou cinco meses fechado.

Julho – seca sem precedentes

Chuvas abaixo da média desde abril no centro-norte do país intensificaram a seca em diversas regiões, incluindo os estados do Amazonas, Mato Grosso, Tocantins, Pará, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Como resultado, em julho o estado do Amazonas bateu recorde de focos de incêndio e viu uma redução drástica nos níveis dos rios.

Além disso, o Pantanal viveu sua pior seca dos últimos 70 anos, segundo o governo do Mato Grosso do Sul. As condições climáticas secas, a baixa umidade e as altas temperaturas da região favoreceram incêndios florestais, afirmou a OMM.

Agosto – onda de calor sem precedentes

Agosto foi marcado por uma onda de calor intensa entre os dias 16 e 23 de agosto, com temperaturas ultrapassando 41°C em várias partes do Brasil. A maior temperatura foi registrada em Cuiabá, com 42,2°C no dia 18, seguida por Porto Nacional (TO) com 41,1°C, ambas quebrando recordes anteriores.

Setembro – temperatura acima da média

“Em todos os meses de 2024, as temperaturas ficaram acima da média [no Brasil], principalmente na região centro-norte do país. O destaque foi o mês de setembro, onde a temperatura média ficou 1,7ºC acima da média. Se analisarmos nacionalmente, foi o setembro mais quente desde 1961 [quando iniciou-se os registros nacionais]”, observou a OMM.

Outubro – ciclone

Na Região Sul, formou-se no dia 23/10 do ano passado um ciclone extratropical, que rapidamente se deslocou para o oceano, acompanhado de uma frente fria. Esse sistema provocou condições atmosféricas adversas na Região Sul, avançando em direção a áreas da Região Sudeste. Foram registradas rajadas de vento de 126 km/h em Ourinhos (SP), 122,4 km/h em Erechim (RS) e 100 km/h em Laguna (SC). Ventos acima de 100 km/h causam estragos no Rio Grande do Sul, e 51 municípios relatam impactos.

Dezembro – ciclone

A tempestade subtropical Biguá entrou no Rio Grande do Sul no dia 15, causando chuvas intensas e ventos fortes no centro-leste do estado. Rajadas de vento de até 84 km/h foram registradas em Canguçu, 83 km/h em Caçapava do Sul e 81 km/h em Pelotas.

Fonte: Um Só Planeta

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