Dia 22 de setembro será o último dia do inverno deste ano no Brasil, mas é o calor intenso que marcou esse final do período. Segundo relatório publicado pela agência americana NOAA (Administração Nacional dos Oceanos e da Atmosfera, na tradução do inglês). Nos últimos três meses, o país teve um aumento de temperatura nunca antes registrado para o trimestre entre junho e agosto em partes de quase todas as regiões.
Mapas divulgados nesta quinta-feira (12/09) pela agência mostram que o Brasil teve oscilações de calor até 3ºC acima da média em parte da Amazônia, região de maior alteração segundo a medição americana. Porções de Norte, Centro-Oeste e Sudeste ficaram até 2ºC mais quentes, em geral.
“Chama atenção por estarmos no inverno, com algumas ondas de frio intensas, mas muitas cidades ultrapassando os 40ºC, como Cuiabá e Teresina. Já se pode dizer que será certamente um inverno mais quente que o normal”, afirma Jose Marengo, coordenador-geral de pesquisa e desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), que analisou os mapas da NOAA a pedido de Um Só Planeta.
A análise dos municípios mostra quadros mais extremos, com temperaturas até 4ºC mais altas em relação às médias deste século. De acordo com dados do Cemaden obtidos pela reportagem, 544 cidades brasileiros estiveram ao menos 2ºC mais quentes na última estação.
Minas Gerais domina o top 10, com a cidade de Piauí liderando a lista, tendo registrado temperaturas 4,2ºC acima da média computada desde o ano 2000 pelo governo federal. Ao todo, são 83 municípios mineiros com índices fora da normalidade na estação.
São Paulo foi o estado com o número maior de anomalias de temperatura neste inverno, com 277 municípios mais quentes que a média. O Paraná aparece em segundo lugar (98), seguido pelos estados de Minas Gerais (83) e Ceará (75).
Entre estados integrantes da Amazônia, sete municípios do Amazonas, incluindo Lábrea, um dos epicentros dos atuais incêndios ao sul do bioma, registraram no inverno temperaturas acima da média para o inverno, em relação à media desde o ano 2000. Humaitá, Tapauá, Pauini, Boca do Acre, Mariconé, Nova Aripuanã completam a lista, com oscilações entre 2ºC e 2,3ºC. Em Rondônia, mais sete cidades, incluindo a capital Porto Velho, e também Nova Mamoré, Guajará-Mirim, Governador Jorge Teixeira, Campo Novo de Rondônia, Monte Negro e Buritis.
No Pantanal, a cidade mais alta no ranking do Cemaden é Corumbá (MS), que concentra os incêndios da região. Neste inverno o município teve temperaturas até 3ºC acima da média para a estação. Em Mato Grosso do Sul aparecem ainda os municípios de Ladário (+2,6ºC), Porto Murtinho (+2,5ºC), Miranda (+2,3º), onde incêndios atingiram santuários como o Onçafari e o Instituto Arara Azul, Bonito (+2,2ºC) e outras 17 cidades.
Nos 13 municípios listados no Mato Grosso, estão Cáceres (+2,5ºC) e Poconé (+2,2ºC), dois pontos importantes do Pantanal no estado.
“O incêndio é uma consequência das temperaturas. Choveu pouco na Amazônia e no Pantanal e isso gerou uma ilha de calor nesses biomas, uma situação que vai crescendo e crescendo.” — Jose Marengo, coordenador-geral de pesquisa e desenvolvimento do Cemaden
O perigo de fogo, indicador científico que mede as condições de propagação dos incêndios naturais, é considerado este ano o maior desde 1980 na Amazônia e no Pantanal, segundo o Lasa/UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Em meio à crise ambiental gerada pelos incêndios no país, o governo federal investiga em diferentes frentes a possível ação criminosa, uma vez que não há indícios de ignição natural, gerada por raios, dada a temporada de seca.
América do Sul
De acordo com o monitoramento da NOAA, o ano de 2024 é, até agora, o mais quente já registrado na América do Sul, com temperaturas 1,77°C acima da média do século 20, sendo que as medições começaram no continente em 1910.
No ano passado, a região já havia excedido em 1,61°C a média para o período, até então o mais quente já registrado. Em 2022 e 2021, o calor excedente foi de 0,9ºC acima da média do século anterior.
No último trimestre, as temperaturas no continente ficaram 1,7ºC acima da média, segundo a NOAA, sendo o terceiro inverno mais quente já registrado na região pela medição norte-americana.
A região registrou também frio acima da média no extremo sul, onde animais foram congelados devido às fortes nevascas na Patagônia.
Agosto mais quente globalmente
A temperatura global de agosto foi de 1,27°C acima da média do século 20 (15,6°C), tornando-se o agosto mais quente já registrado, afirma o relatório, que confirma dados divulgados no início de setembro pelo observatório espacial europeu, Copernicus. É o 15º mês consecutivo de temperaturas globais recordes, levando a 97% de chance de que 2024 seja classificado como o ano mais quente da era pós-industrial, aponta a NOAA.
Europa e Oceania tiveram o mês de agosto mais quente já registrado. No caso da América do Sul, o mês passado foi considerado o terceiro com as temperaturas mais altas já catalogadas pela agência americana.
Aproximadamente 10% da superfície do mundo teve uma temperatura recorde para o mês. As temperaturas da superfície do mar estavam acima da média na maioria das áreas, sendo a média global dos oceanos a segunda mais quente já registrada em agosto pela NOAA.
Gelo nos polos
A extensão global do gelo marinho foi a segunda menor no registro de 46 anos da agência, com 8,32 milhões de milhas quadradas, valor que fica 1 milhão abaixo da média de 1991–2020.
No Ártico, a extensão do gelo marinho ficou abaixo da média em 470 mil milhas quadradas, classificando-se em quarto lugar mais baixo já registrado.
Na Antártida, os números também ficaram abaixo da média (em 580 mil milhas quadradas), classificando-se como a segunda medição mais baixa já registrada em agosto.
Fonte: Um Só Planeta