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CONDENADOS

Brasil reconhece legalidade da matança de jumentos mesmo com espécie à beira do colapso populacional

Impulsionado pela demanda chinesa pelo ejiao, o colágeno extraído da pele dos jumentos, o avanço desse mercado tem acelerado o extermínio da espécie no Brasil e em outros países.

19 de novembro de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: Reprodução

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região reconheceu a legalidade da matança de jumentos realizada em frigoríficos certificados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), no Brasil. A decisão é mais um golpe para uma espécie que já enfrenta um declínio populacional catastrófico, com uma queda de 94% no número de jumentos entre 1996 e 2025, passando de cerca de 1,37 milhão para pouco mais de 78 mil indivíduos.

A decisão afastou de vez o entendimento de que a prática seria inconstitucional, fortalecendo os interesses da cadeia produtiva voltada à exportação de carne e pele, sobretudo para atender à demanda crescente da China, hoje principal destino das peles utilizadas na fabricação do ejiao, colágeno usado na medicina tradicional chinesa.

Legalizando a matança, o TRF-1 mostra que mesmo diante de um colapso populacional sem precedentes, a vida dos jumentos continua pesando menos que seu valor econômico.

Em sua decisão, o TRF-1 afirmou que não foram comprovadas irregularidades em transporte, fiscalização ou mortes, e que a suspensão anterior da atividade teria causado prejuízos sociais e econômicos a criadores e trabalhadores. A argumentação se repete em instâncias estaduais e superiores: em outubro de 2025, o Tribunal de Justiça da Bahia negou pedido de suspensão dos assassinatos, citando impactos financeiros para famílias envolvidas na atividade. No fim de 2024, tanto STJ quanto STF já haviam afastado recursos contrários a matança.

Enquanto isso, a exploração comercial intensificada, especialmente para suprir a demanda chinesa, é apontada como principal motor do desaparecimento dos jumentos no país. Apesar de representantes do setor afirmarem que faltam dados consolidados para comprovar o impacto da matança na redução populacional, o Brasil perdeu a maior parte de seus jumentos em menos de três décadas.

A narrativa de que a atividade seria uma solução para o abandono de animais no Nordeste é uma tentativa de legitimar um modelo que transforma uma espécie já fragilizada em mero recurso exportável. O argumento de “revalorização produtiva” apenas mascara o risco de transformar os últimos jumentos brasileiros em matéria-prima antes que haja tempo de recuperar a espécie.

O Brasil precisa seguir o caminho de outras nações que já proibiram o extermínio de jumentos devido ao risco de extinção global. É inaceitável que um ser senciente que hoje já se encontra à beira do desaparecimento seja tratado como excedente descartável para atender a interesses comerciais.

A liberação da matança não só ignora o colapso populacional como coloca o Brasil no centro de um mercado internacional responsável por dizimar populações de jumentos em vários continentes. Se nada mudar, será apenas uma questão de tempo até que a perda se torne irreversível.

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