O uso do solo nas áreas impactadas é principalmente direcionado à agricultura e pecuária, sendo que apenas as pastagens brasileiras ocupam 19,35% do território nacional, ou 165 milhões de hectares, enquanto a agricultura se espalha por 61 milhões de hectares, ou 7,17%. Áreas urbanizadas correspondem a pouco mais de 4 milhões de hectares, um terreno próximo a 0,5% do território nacional, segundo dados de 2023.
Segundo os dados do MapBiomas, a perda histórica de áreas naturais no Brasil até 1985 totalizava 20% do território. Nos 39 anos seguintes (1985-2023), essa perda avançou para outros 13% do território (110 milhões de hectares), totalizando em 2023 a marca de 33%. Metade desse total ocorreu na Amazônia. Ao mesmo tempo, outras regiões registraram ganho de vegetação nativa.
Raio-X do uso do território
- Brasil tem 64,5% do território coberto por vegetação nativa
- Em 1985, essa cobertura era de 76%
- Entre 1985-2023, área de pastagem expandiu 79%, ou 72,5 milhões de hectare
- Área da de agricultura cresceu 228%, ou um acréscimo de 42,4 milhões de hectares
- Em 1985, 48% dos municípios tinham o predomínio da agropecuária
- Em 2023, esse predomínio chegou a 60% dos municípios
- Mais da metade (60%) da perda de vegetação nativa no país está em propriedades privadas
Regiões com aumento de vegetação
Em nível nacional, 18% dos municípios tiveram estabilidade entre 2008 e 2023, período em que dados municipais foram analisados pelo MapBiomas. Em outros 37%, houve ganho de vegetação nativa.
O bioma com maior percentual de municípios onde a área de vegetação nativa cresceu nesses 16 anos foi a Mata Atlântica: 56%.
Os estados com maior proporção de municípios com ganho de vegetação nativa são Paraná (76%), Rio de Janeiro (76%) e São Paulo (72%).
Dos 27 estados da federação, apenas o Rio de Janeiro teve aumento de vegetação nativa no período avaliado, que passou de 30% para 32% de seu território. Os demais 26 estados tiveram redução, sendo que as mais expressivas foram em Rondônia (de 93% em 1985 para 59% em 2023), Maranhão (de 88% para 61%), Mato Grosso (de 87% para 60%) e Tocantins (de 85% para 61%).
Os estados com maior proporção de vegetação nativa são Amapá (95%), Amazonas (95%) e Roraima (93%). Já os estados com menor relação são Sergipe (20%), São Paulo (22%) e Alagoas (23%).
As áreas mais preservadas do Brasil continuam sendo as Terras Indígenas (TIs), que cobrem 13% do território nacional. De 1985 a 2023, elas perderam menos de 1% de sua área de vegetação nativa, enquanto nas áreas privadas foram 28%.
Perda de áreas naturais por município
O bioma com mais municípios com perdas de áreas naturais é o Pantanal, com 82%. O bioma foi afetado não só pelo uso do solo, mas pelo recuo das águas, que compõem as áreas naturais. Em 2023, o recuo dos rios em relação à média histórica foi de 61%, segundo relatório anterior do MapBiomas.
Já os estados com maior proporção de municípios com perda de vegetação são Rondônia (96%), Tocantins (96%) e Maranhão (93%). Quase metade dos municípios brasileiros (45%) perderam vegetação nativa no período.
No caso da região do Matopiba, no Cerrado (área que reúne os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), todos os estados têm pelo menos um município com mais de 30% de perda de vegetação nativa entre 2008 e 2023.
O Pampa é o bioma com a maior proporção de municípios com perdas acentuadas (superior a 15%) de vegetação nativa, com uma queda de 35% desde 1985.
Avanço da agropecuária nos biomas 1985-2023 (porcentagem do território)
- Mata Atlântica: de 63% para 65%
- Cerrado: de 28% para 47%
- Pampa: de 28% para 45%
- Caatinga: de 28% para 38%
- Pantanal: de 5% para 17%
- Amazônia: de 3% para 16%
Para Júlio Esquerdo, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital, que não participou do levantamento do MapBiomas, dados de uso do solo disponíveis apontam que a agricultura tem aproveitado áreas de pastagens para se expandir. Coordenador da plataforma TerraClass, o especialista ponta que na Amazônia e no Cerrado, entre 2018 e 2022, a agricultura anual foi ampliada em 22%, com 94% dessa expansão sobre usos agropecuários já consolidados, principalmente sobre áreas de pastagem.
“Neste período, aproximadamente 1% desta expansão se deu sobre áreas de vegetação natural primária e secundária. Estes resultados dão um sinal de que o crescimento da agricultura nestes dois biomas ocorreu prioritariamente sobre as pastagens, indicando que a agricultura tem se expandido sobre áreas já antropizadas e poupado a necessidade de abertura de novas áreas naturais. A abertura de novas áreas para pastagem continua sendo a principal atividade responsável pela conversão da cobertura vegetal natural”, afirma Esquerdo.
“Com relação a como conciliar a atividade econômica agropecuária e a preservação, nós reforçamos a importância de incentivar a adoção de tecnologias mais sustentáveis, como por exemplo sistemas integrados e a própria recuperação de áreas degradadas, e a promoção de políticas para gestão territorial voltadas à redução da pressão pela abertura de novas áreas de cobertura vegetal natural ou, ainda, outras políticas que restrinjam acesso ao mercado de produtos oriundos de áreas desmatadas.” — Júlio Esquerdo, pesquisador da Embrapa
Perda de áreas naturais por bioma
Em área total, Amazônia e Cerrado são os biomas que mais perderam área de vegetação nativa. Na Amazônia, foram 55 milhões de hectares, área similar à da França, e uma redução de 14% nos últimos 39 anos. Com isso, a grande floresta tropical brasileira tem hoje 81% de sua extensão coberta por florestas e vegetação nativa. A área inclui 8,1 milhões de hectares de vegetação secundária, que cresceu novamente depois de ser desmatada.
O levantamento chama atenção que o quadro amazônico está próximo da margem estimada pelos cientistas para seu ponto de não retorno, estimado entre 80% e 75% de vegetação nativa.
No Cerrado, 38 milhões de hectares de vegetação nativa foram suprimidos entre 1985 e 2023, uma queda de 27%. Hoje 10% do bioma (9,7 milhões de hectares) são cobertos por vegetação secundária.
No Pantanal, a redução mais acentuada foi na superfície de água, que compõe a chamada área natural. Essa área passou de 21% em 1985 para 4% em 2023. Como consequência, as regiões de vegetação herbácea e arbustiva aumentaram de 36% em 1985 para 50% do bioma em 2023. Essa vegetação disponível, em tempo de seca e calor, acaba tornando-se combustível, o que faz a região, assim como a Amazônia, registrarem o maior perigo de fogo desde 1980, segundo dados da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
“Hoje você pode ir de carro até a beira do rio Paraguai, está extremamente seco. Então, esse solo passa a ter condições de uso para o proprietário. Uma situação semelhante ocorreu durante os anos 1960 e agora essa tendência ocorre novamente. É preciso usar o conhecimento existente e manter os corredores dos rios e a pastagem nativa, evitando espécies exógenas.” — Cátia Nunes, professora da Universidade Federal do Mato Grosso
Proporcionalmente em relação ao próprio tamanho, Cerrado e Pampa são os biomas que mais perderam área de vegetação nativa. No caso do Pampa, a perda entre 1985 e 2023 foi de 28% (3,3 milhões de campos de futebol). Destaca-se ainda o fato de que um quarto da vegetação nativa remanescente do Pampa é secundária.
A Caatinga perdeu 14% de vegetação nativa (8,6 milhões de hectares) entre 1985 e 2023, enquanto quase um quarto do bioma (11,5 milhões de hectares) já são de vegetação secundária.
A perda de vegetação nativa na Mata Atlântica foi de 10%, ou 3,7 milhões de hectares em 39 anos. Com isso, as formações florestais decresceram de 28% para 26% no bioma. As atividades agropecuárias, por sua vez, passaram de 63% para 65%.
Fonte: Um Só Planeta