Mais da metade da superfície de água do país, 62% do total, está na Amazônia. Em 2023, o bioma apresentou uma área alagada de quase 12 milhões de hectares, uma retração de 3,3 milhões de hectares (27,5%) em relação à média histórica. Com a seca severa no ano passado, de outubro a dezembro foram registradas no bioma as menores superfícies de água da série, que considera dados gerados desde 1985. Este ano, o baixo nível dos rios gera expectativa de uma temporada ainda pior, com previsões de seca antecipada e 150 mil famílias atingidas no estado do Amazonas.
“A perda da superfície de água está relacionada a dois fatores: mudança climática em curso, com eventos extremos mais intensos e com mais frequência na Amazônia, [incluindo] secas que aconteceram em 2005, 2010, 2015, 2016 e agora 2023, relacionadas ao El Niño; e outro processo que leva à redução das águas é o desmatamento. Existe uma interdependência entre floresta e água.” — Carlos Souza Jr., coordenador do MapBiomas Água
Desde 2018, o Pantanal vem apresentando tendência de redução na área de suas águas superficiais, afirma o MapBiomas. O bioma é considerado o que mais secou ao longo da série histórica. A superfície de água anual, que tem pelo menos seis meses com água, em 2023 foi de 382 mil hectares – 61% abaixo da média histórica. O bioma responde por 2% da superfície de água do total nacional.
Uma das razões para este efeito é a diminuição de vegetação nativa no entorno do Pantanal, onde estão as nascentes e cabeceiras dos rios que nutrem a planície alagada. Em 1985, calcula-se que havia cerca de 60% de vegetação nativa na região, projeção que hoje está em torno de 40%. Mesmo havendo épocas de cheia nos rios, estas estão sendo fracas.
“Em 2024, nós não tivemos o pico de cheia. O ano registra um pico de seca, que deve se estender até setembro. O Pantanal em extrema seca já enfrenta incêndios de difícil controle”, ressalta Eduardo Rosa, do MapBiomas. A ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) declarou situação de estresse hídrico devido ao nível dos rios na região, e nesta semana, o estado de Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência em meio às queimadas no bioma.
Em 2023, a superfície de água do Cerrado foi a maior registrada desde 1985, devido à quantidade de reservatórios na região. A alta foi 11% acima da média histórica no bioma, chegando a 1,6 milhão de hectares, ou 9% do total nacional.
Os corpos de água naturais, por sua vez, perderam 696 mil hectares – queda de 53,4%. No ano passado, as águas superficiais naturais ocupavam 608 mil hectares do Cerrado ou 37,5% da cobertura de água do bioma. Os 62,5% restantes ficaram divididos principalmente entre hidrelétricas (828 mil hectares) e reservatórios (181 mil hectares).
Após um longo período de seca, que se estendeu por sete anos, resultando em uma das maiores secas do Nordeste, desde 2018 é possível observar uma tendência de acréscimo na superfície de água na Caatinga, observa o MapBiomas. A região passa por um ciclo mais chuvoso e registrou em 2023 uma superfície de água de quase 975 mil hectares – 6% acima da média histórica e 5% do total nacional. Foi o ano de maior cheia em uma década.
“Todavia, é preciso atentar para a existência de problemas de secas localizadas e que, apesar do ciclo chuvoso, os dados evidenciam uma tendência geral de redução da superfície d’água, mesmo com o crescimento constante de reservatórios artificiais por todo o bioma”, comenta Diêgo Costa, pesquisador que participou do mapeamento.
O bioma mais ao sul do Brasil teve em 2023 a menor superfície de água em reservatórios da série histórica, ficando 40% abaixo da média. “Em 2023, o Pampa teve o primeiro quadrimestre mais seco da série histórica. Os quatro primeiros meses de 2023 estiveram entre os cinco meses mais secos da série”, comenta Schirmbeck. As cheias no Rio Grande do Sul, entre setembro e novembro do ano passado, recuperaram a superfície de água, mas ainda assim ela se manteve 2% abaixo da média histórica.
Entre 1985 e 2023, a Mata Atlântica ganhou 180 mil hectares de águas superficiais, com tendência de aumento nos últimos três anos. Desde 2000, a superfície de água antrópica é maior que a natural no bioma, resultado da construção de hidrelétricas, principalmente no Sul e Sudeste do país. O volume de água foi influenciado pelos eventos extremos de chuva no ano passado em São Sebastião (SP), que causaram pouco mais de 70 hectares de perda de vegetação natural, e também as chuvas no Vale do Taquari entre setembro e novembro, no Rio Grande do Sul, que causaram inundações.
A superfície de água na Mata Atlântica em 2023 ficou 3% acima da média histórica, superando os 2,2 milhões de hectares ou 12% do total nacional.
Fonte: Um Só Planeta