As populações de botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), um dos símbolos da Amazônia, diminuem pela metade a cada dez anos e têm como principal ameça a pesca e comercialização da piracatinga, que usa o maior golfinho de água doce do mundo como isca. No dia 2 de julho, vence uma moratória federal de 2015 que proíbe essas atividades ligadas a piracatinga. Para ambientalistas, o fim da medida representa novo risco de extinção dos botos. O Instituto Sea Shepherd Brasil, ONG de preservação dos ecossistemas marinhos brasileiros, lidera uma campanha para pressionar o governo federal a estender por prazo indeterminado a proibição.
Nathalie Gil, presidente da ONG, diz que “as próximas semanas serão cruciais” para uma posição do governo federal. A preocupação é de que em poucas décadas os botos possam desaparecer.
Pescadores usam a carne dos botos como isca para capturar a piracatinga, um peixe bagre que não é de consumo típico de amazonense por ser um necrófobo com altas concentrações de mercúrio e outros elementos tóxicos.
“Se liberar a moratória, perde-se o controle da caça de botos e jacarés. Tem que ser fiscalizado esse comércio (da piracatinga) , seja na exportação para a Colômbia ou na venda com nome errado no Brasil”, afirma Nathalie, acrescentando que em São Paulo e Brasília o peixo de água doce é vendido como “douradinha”, e em Manaus como “surubinha”.
A morte intencional de botos é um ato ilegal desde 1988, assim como a de jacarés, também caçados para serem usados como isca. De acordo com a presidente do Instituto Sea Shepherd Brasil, “é preciso no mínimo 13 anos para estudar o real impacto de uma lei vigente na proteção destas espécies”.
“O ideal é que a moratória seja permanente, e até que haja um projeto de lei no futuro, mas o mínimo para a saúde dos botos são 13 anos (de proteção). Assim dá para saber se, a partir de 2015, a moratória contribuiu para aumentar a população dos botos. A estimativa é de que pelo menos 1,5 mil sejam mortos por ano ilegalmente, mesmo com a moratória, já que no último governo não havia fiscalização”, diz Nathalie Gil.
Os botos-cor-de-rosa são animais de reprodução lenta, com um ano de gestação, sendo que geralmente com apenas um filhote em cada. A amamentação leva três anos, e esses animais só se tornam reprodutivos no sétimo ano de vida. Pesquisas indicam que a espécie deveria constar na lista de risco crítico de extinção pela International Union for Conservation of Nature (IUCN), para receber a proteção ambiental devida na região. O assunto ganhou destaque por organizações sociais e privadas durante movimento de exigência da moratória da piracatinga, no dia 30 de maio, chamado de “Não deixe o boto virar lenda”.
Os ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente ainda não se posicionaram sobre a moratória. Ainda este mês serão encaminhados por ONGs aos órgãos federais um abaixo-assinado pedindo a prorrogação da medida.
Fonte: O Globo