As carretas chegam e desembarcam as “máquinas”. Socos e choques ajudam a manobrá-las para os boxes… quer dizer: os currais do lado de fora da arena. Isso acontece quatro horas antes de eles começarem a apresentação de oito segundos de salto e rodopios tentando ejetar seu piloto.
Antes da performance, é amarrado um sedém em sua virilha. E é essa tira de lã de cordeiro que gera a maior polêmica do rodeio. Os organizadores falam que o utensílio dá apenas cócegas no bovino para que ele salte em círculos. Para os defensores dos animais, o sedém machuca e é o “aditivo” para tantos saltos na arena. Como boi não dá depoimento, a indústria do peão de boiadeiro segue movimentando milhões (o cálculo oficial fica em R$ 200 milhões).
A virilha do boi e a legislação
Desde 2002 está regulamentada no Brasil a atividade do rodeio, a partir de um projeto de lei do ex-deputado Jair Meneguelli (PT-SP), aprovado no Congresso e sancionado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Mesmo assim, alguns municípios, com menos tradição no evento, como Itu e São José dos Campos, já proibiram rodeios em suas jurisdições.
O imbróglio jurídico foi retomado quando em 2005 foi publicado um código estadual, de autoria do deputado federal Ricardo Trípoli (PSDB-SP), que determinava que “são vedadas provas de rodeio e espetáculos similares que envolvam o uso de instrumentos que visem induzir o animal à realização de atividade que não se produziria naturalmente sem o emprego de artifícios”.
O uso do sedém foi novamente questionado, com direito a pesquisas científicas de ambos os lados. Um estudo de cinco pesquisadores das áreas de veterinária e zoologia da USP (Universidade de São Paulo), Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) e UEL (Universidade Estadual de Londrina-PR) apontou por meio dos sinais fisiológicos e do comportamento dos animais em rodeios, que eles sentem dor ao usar a tira amarrada na virilha, mesmo quando tais sensações não vêm acompanhadas por ferimentos visíveis.
A principal evidência é a constatação fotográfica da dilatação das pupilas dos animais de rodeios, mesmo estando eles em um ambiente muito iluminado – o que levaria à constrição dessa parte dos olhos. Outro indício é a forma de o animal corcovear ao ter o instrumento amarrado ao seu corpo. E a tentativa de o animal se livrar do instrumento é que tornaria o show mais interessante.
Capitaneados por Irvênia Luiza de Santis Prada, titular emérita de neuroanatomia animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnica da USP, os pesquisadores apontam a existência, na virilha dos animais, de estruturas nervosas específicas para captação de estímulos que provocam a dor (os algirreceptores) . Como a pele nessa área é mais fina, a percepção seria ainda mais intensa. Além disso, assim como no ser humano, a virilha dos bichos é particularmente sensível por se relacionar à presença ou vizinhança dos órgãos genitais, fundamentais para a sobrevivência.
Feito sob encomenda e custeado pelo clube “Os Independentes”, organizador da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, um estudo da Unesp de Jaboticabal (SP), sob coordenação do professor de patologia veterinária e sócio honorário do clube “Os Independentes” Orivaldo Tenório Vasconcelos, diz que o sedém é inofensivo. O trabalho que custou R$ 75 mil, defende uma causa diferente para os pulos e rodopios dos bois: cócegas.
*Com informações do UOL
Nota da Redação: Por que os peões não admitem colocar o sédem neles? Por alguns segundos apenas…