Por Lobo Pasolini (da Redação)
Existe um blog muito instigante chamado Suicide Food, que faz uma análise semiótica de propagandas que usam imagens de animais aparentemente felizes por servirem como comida. Quem nunca viu uma churrascaria de beira de estrada cujo logo inclui um animal sorrindo, como se estivesse saudando do prato os fregueses que o devorarão?
Suicide Food compila imagens dessa natureza enviada por leitores, e as acompanha de textos irônicos que, no entanto, não desviam do propósito de desconstruir a ideologia do carnismo que naturaliza o consumo de corpos de animais. Um detalhe importante: o blog com frequência sublinha a ligação entre carnismo e misoginia, já que muitas imagens explicitamente objetificam as mulheres. Sexo vende, diz o adágio, e geralmente por meio do corpo feminino.
Essa semana um artigo sobre um evento nas Filipinas nos chamou a atenção. Trata-se de uma estória supostamente “bem-humorada” sobre uma festa na cidade de Quezon, onde acontece anualmente um festival de carne de suínos. O ponto alto do evento é a chamada Parada dos Leitões, quando cadáveres assados são fantasiados e exibidos pelas ruas da cidade numa espécie de carnaval macabro.
Em todo o mundo parece ser necessário se criar uma fantasia em relação ao consumo de carne, aplicar uma espécie de maquiagem para se desviar do enorme problema moral que é matar por um prazer gastronômico. Nos Estados Unidos, nós temos porcas prostitutas; nas Filipinas, porcos disfarçados de divas disco e outros arquétipos do gênero; no Brasil, um frango simpático é usado por uma conhecida empresa de exploração de animais; e por aí vai.
O propósito é sempre o mesmo: criar a falsa impressão de que os animais estão alegres por participar do seu próprio sacrifício e, assim, aplicar a anestesia moral necessária naqueles que se recusam a enxergar a face brutal do carnismo.