O visual não é de uma praia paradisíaca. Mas a localização é privilegiada. A Baía do Araçá fica no centro de São Sebastião, em São Paulo, bem ao lado do porto. E foi escolhida para receber a ampliação do terminal marítimo.
Uma construção de cerca de 1 milhão de metros quadrados sobre a baía. A área, que parece morta, é cheia de riquezas. “Eu vejo uma altíssima diversidade tanto de espécies vegetais como de animais”, disse a bióloga, Célia Amaral.
Cecília é pesquisadora da Unicamp. Assim como ela, muitos biólogos usam o Araçá como sala de aula. A areia, que tem cara de lama, é na verdade um dos solos mais propícios à vida marinha. Os rastros de diferentes formatos são marcas de pequenos moluscos. Só neste local já foram registradas 25 espécies, e em mais nenhum outro lugar do mundo.
Pesquisadores ficaram preocupados com o projeto inicial de ampliação do porto. Ele previa o aterro total do Araçá. Protestos da comunidade local fizeram a companhia docas alterar a forma de construção. Agora, o porto deve ficar suspenso, com a água correndo entre pilares.
A areia descoberta vai permanecer numa faixa de cem metros, no contorno da praia. “Creio que encontramos uma solução própria e inovadora que concilia economia e meio ambiente”, falou o presidente da companhia docas de São Sebastião, Frederico Bussinger.
Nas ruas o projeto divide opiniões. “Pode ser que sim, pode ser que não. Depende de quem vai administrar”, disse um morador. “Quanto maior o desenvolvimento, maior são as conseqüências”, alertou a pedagoga, Monica Schubert.
Para o prefeito da cidade Ernani Primazzi, os impactos ao meio ambiente e à fauna não merecem a devida atenção: “É evidente que vai trazer alguns problemas, sem dúvida. Mas na média nós vamos ter mais vantagens do que desvantagens”, disse. Para “compensar” os danos ambientais, o governo considera suficiente investir no tratamento de esgoto na cidade e na reparação de áreas degradadas.
A intensa movimentação marítima também preocupa o Cebimar, Centro de Biologia Marinha da USP. Segundo o diretor Álvaro Migotto, microorganismos resistentes que matam espécies tradicionais do litoral brasileiro podem vir de outros países. Como é o caso do Coral Sol, que é do oceano pacífico. O microorganismo pode ter vindo para região grudado no casco de um navio. “O Coral Sol é um caso que nos preocupa bastante”, disse o diretor. “Você tem que saber balancear isso e avalizar o que é mais importante para a região. Como elas podem conviver, se é que podem conviver ou não”, completou.
Com informações do VNews