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ESTUDO

Biólogo vive oito meses isolado em ilha remota do Pacifico para testemunhar mudanças climáticas

Com a missão já concluída, ele participa de conferências para contar sua aventura, convencido de que "uma exploração não vale nada se não for compartilhada"

28 de maio de 2025
AFP
4 min. de leitura
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Nukutepipi, no arquipélago de Tuamotu, na Polinésia Francesa. Foto: Mike LEYRAL / AFP

O biólogo marinho Matthieu Juncker viveu quase oito meses completamente sozinho em um atól isolado na Polinésia Francesa. A experiência serviu para conciliar a frieza dos dados científicos sobre os efeitos da mudança climática com sua vivência emocional.

— Os dados são uma coisa, mas ver os corais morrerem diante dos meus olhos provocou uma emoção que eu nunca havia sentido — confessa o cientista francês em entrevista à AFP.

De volta desde o final de fevereiro ao território francês da Nova Caledônia, onde reside, Juncker relata sua aventura em conferências e trabalha na redação de artigos científicos. O primeiro deles abordará o estado de saúde dos recifes de coral nessa parte remota do Pacífico Sul, danificados por uma onda de calor marinho de uma escala inédita nesse oceano.

— Um terço do recife está morto. A temperatura da água se manteve em 30,5 ºC por mais de cinco semanas, mesmo a seis metros de profundidade — explica.

Ele também prepara duas publicações sobre o titi, uma ave endêmica do arquipélago polinésio de Tuamotu, cuja população passou de 185 exemplares em 2003 para cerca de 60 em 2024.

Recifes de corais na lagoa do atol de Toau, a cerca de 400 quilômetros do Taiti. Foto: GREGORY BOISSY / AFP

“Você se sente tão insignificante”

Para o cientista, essa longa estadia permitiu uma observação muito mais precisa, impossível nas missões científicas clássicas, em que o tempo é limitado. Mas, além dos resultados, a expedição representou para ele uma jornada interior.

A duração, o isolamento, o ambiente em constante mudança com tempestades que, em uma única noite, arrastavam enormes quantidades de areia e modificavam completamente a fisionomia do ilhéu. Tudo isso lhe causava uma espécie de vertigem.

— Você se sente tão insignificante no meio da lagoa, à noite, sob o céu estrelado — relata. A solidão às vezes se torna algo violento, — como uma punhalada no ventre —, mas também um forte sentimento de pertencimento à natureza.

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