O programa “Brasil Sustentável”, da TV 247 entrevista a bióloga Paula Ferro, que lutou por anos contra a caça amadora na maior área de proteção de Moçambique, na Reserva do Niassa. Porém, após muitos esforços frustrados, Paula sofreu um esgotamento que a mergulhou em uma profunda depressão. Foi nesse momento difícil que o crochê apareceu como uma terapia, uma forma de encontrar paz. Pouco a pouco, essa atividade se transformou em uma ponte entre Paula e a comunidade local.
Segundo a bióloga, a relação com os animais na África é marcada por um distanciamento e muitas vezes o pavor da comunidade. Essa percepção ficou evidente na experiência pessoal vivida por ela em Moçambique. “Quando cheguei pela primeira vez, as pessoas me perguntavam: ‘Por que você gosta de elefantes? Não entendemos. O que você faz na Colômbia com os elefantes para viver melhor?’. Quando expliquei que na Colômbia não há elefantes, eles se surpreenderam ainda mais.”
Os moradores locais destacavam o impacto negativo desses animais em suas vidas. “Eles me diziam que os elefantes matam, destroem suas plantações e os deixam sem comida por um ano. Não conseguiam entender por que alguém gostava deles”, explica a bióloga sobre o questionamento dos nativos.
Somado a esse contexto, a caça de animais silvestres é uma realidade preocupante na África. Os animais são mortos por causa das presas de elefante, de onde se extrai o marfim, das peles de leopardo, de leões e outros recursos que são comercializados. Para ela, o choque cultural foi intenso.
“A relação das pessoas com os animais e a presença da caça amadora fora do controle foi um contraste muito forte na minha chegada à África. Tudo o que a reserva fazia era visto como uma barreira para a vida da comunidade, que dependia dos recursos naturais. “Foi nesse contexto de desespero que o crochê entrou na minha vida”, conta.
Atualmente, o Yao Crochet é uma cooperativa composta por mulheres, que encontram no artesanato uma fonte de renda sustentável e uma nova forma de enxergar os animais da reserva. Os bonecos de crochê que elas produzem, representando principalmente a fauna local, são comercializados e geram renda para a comunidade. O projeto ajudou a ressignificar a relação dos moradores com os elefantes e outros animais que antes eram vistos apenas como ameaças ou fontes de recursos.
“Não fomos nós que ajudamos a combater a caça amadora diretamente – isso foi uma decisão política do governo. O que o Yao Crochet fez foi mudar a forma como a comunidade valoriza esses animais. Sem eles e sem a reserva, essas mulheres não possuem uma fonte de renda”, destaca.
Com o tempo, o projeto se tornou a principal fonte de renda das mulheres da cooperativa, especialmente em uma região devastada por desafios como ciclones e conflitos armados. “A arte pode mudar percepções, criar novas relações e até resolver conflitos entre pessoas e animais”, enfatiza.
Fonte: Brasil 247