A bióloga Juliana Machado Ferreira, pesquisadora e defensora dos animais, mostra em palestra do TED 2010 como o seu trabalho tem ajudado a salvar pássaros e outros animais roubados da natureza no Brasil e como o problema persiste mesmo após a apreensão dos traficantes.
Ela alerta que muitas vezes esses animais são interceptados pela polícia, mas que isso não significa o fim dos problemas. “Aos olhos de muitas pessoas, depois que os animais são apreendidos, eles dizem, ‘Ehh, a justiça foi feita. Os mocinhos chegaram e libertaram os lindos animaizinhos maltratados das mãos dos malvados traficantes e todos viveram felizes para sempre’ Mas será mesmo? Na verdade não. E é aqui que muitos dos nossos problemas começam”, alerta a pesquisadora.
Ela conta que esses animais são geralmente enviados para instalações governamentais que, em muitos casos, possuem condições tão ruins quanto os locais onde os animais estavam. “Em 2002, esses centros receberam 45 mil animais, dos quais 37 mil eram pássaros. Alguns sortudos vão para centros de reabilitação depois disso. E nesses lugares eles são tratados, treinam seus vôos, aprendem a reconhecer os alimentos que encontrarão na natureza. E eles são capazes de socializar com outros da mesma espécie”, conta.
A questão, segundo Juliana, é que a Sociedade Brasileira de Ornitologia alega que existem poucos conhecimentos sobre as espécies na natureza e que, por isso, seria muito arriscado soltá-las, tanto para o animal solto quanto para as populações naturais. Outro problema seriam os altos custos gastos com a reabilitação das aves.
“Seguindo este argumento, eles sugerem que todas as aves apreendidas de espécies não ameaçadas deveriam ser sacrificadas. No entanto, isso significaria ter matado 26.267 aves, apenas no estado de São Paulo, apenas em 2006”, afirma.
Porém, alguns pesquisadores, bem como ONGs e membros do governo, defendem que os animais que cumprirem certos critérios relativos à sua saúde, comportamento, origem presumida, entre outros fatores, devem ser soltos obedecendo a técnicas pré-estabelecidas.
“Estaremos retornando genes a essas populações, que poderiam ser importantes para elas ao enfrentar os desafios ambientais. E também poderíamos retornar potenciais dispersores de sementes, predadores, presas, etc”, conta.
Ela mostra alguns exemplos de animais que foram soltos e que logo se adaptaram ao novo habitat. “No entanto, estes registros ainda são uma minoria se comparados com a falta de conhecimento. Então eu digo, vamos estudar mais, vamos esclarecer esta questão, vamos fazer tudo o que pudermos”, pede a bióloga.
Ela termina a palestra convocando todos a fazerem sua parte. “Fale com seu vizinho, ensine seus filhos. Precisamos agir, e agir agora”, conclui.
Fonte: Terra