Sete biguás (Phalacrocorax brasilianus) foram encontrados mortos na orla do Guaíba, em Porto Alegre (RS), pelo historiador Cássio Rabuske da Silva, no final da tarde de sábado (20). “Estávamos eu e minha companheira em nosso passeio diário pela orla, quando percebemos a ausência dos típicos pássaros que dão ainda mais magia ao famoso pôr-do-sol do Guaíba. Foi então que vimos os sete biguás mortos. E é provável que existam mais, pois o rio estava mais turbulento que o normal, devido às chuvas. Como o sol já havia se posto, tornou-se difícil uma boa visualização. O odor advindo do rio também estava mais intenso que o comum”, conta o historiador, que fotografou as aves mortas.
No dia seguinte, os dois retornaram ao local e também encontraram peixes mortos, alguns de grande porte, inclusive. “Avistamos somente dois biguás vivos, voando de um lado ao outro do rio”, diz Cássio. Teve início então uma mal-sucedida – até agora – peregrinação por órgãos ambientais, na procura de alguém que investigue o que está acontecendo com os pássaros. O biólogo Christiano Rovedder, informado pelo amigo historiador, procurou a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), onde recebeu a resposta de que o assunto seria da competência da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smam), por se tratar de área urbana da capital.
“Me passaram para quatro funcionários diferentes quando liguei para SMAM”, conta o biólogo, que só conseguiu fazer a denúncia quando telefonou para o celular de uma colega que trabalha na secretaria. “Caso não conhecesse ninguém do órgão, a denúncia não teria sido realizada”, lamenta Rovedder, que aguarda uma resposta ao seu pedido de investigação do caso.
O fato serve para alertar sobre a dificuldade que é ser atendido nos órgãos ambientais para uma denúncia ou uma emergência. Cássio conta que meses atrás fez contato com a Fepam para noticiar o aparecimento de filhotes de um animal nativo que tinha sobrevivido ao ataque de um cão. Como o caso ocorreu em Viamão, cidade vizinha a Porto Alegre, disseram que o assunto deveria ser encamihado à Secretaria de Meio Ambiente de Viamão. Nem telefone da secretaria eles encontraram, apenas uma nota no site da prefeitura de Viamão informando a existência da SMA.
Ligaram novamente para a Fepam e então foram aconselhados a procurar o Ibama, na capital, que repassou o problema ao Instituto Palmira Gobbi (de proteção aos animais) que estava lotado. Cássio relata que quando falou em “Lobo Guará” para a telefonista do Ibama, ao ligar novamente, ouviu dela um “que bicho é esse?”…. Também desta vez, somente através de contatos conhecidos dentro do órgão, adquiridos com alunos do curso de Biologia da PUCRS, conseguiram dar prosseguimento ao caso.
“É precária a situação para aqueles que visam fazer alguma denúncia de casos envolvendo animais nativos em nosso Estado. Nossos órgãos de meio ambiente não estão nem um pouco conectados, não dialogam, e sempre procuram tirar o corpo fora”, desabafa Cássio.
No caso dos biguás, ele alerta que o número de pássaros mortos é muito alto para que o motivo dos óbitos tenha sido algum objeto brilhante ingerido, como acontece às vezes. Uma suspeita é o envenenamento por algum produto despejado na água. “Algum órgão de proteção ao meio ambiente deve avaliar imediatamente o caso, e o quanto antes. Os animais ainda estão lá”,avisa o historiador.
Fonte: EcoAgência