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Belugas exploradas como entretenimento vivem em condições miseráveis

27 de setembro de 2017
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Tom e Una recebem instruções de adestrador/
Tom e Una recebem instruções de adestrador/ Foto: Save Dolphins

“Eu me senti impotente. Sabia que queria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para ajudá-las”, disse Fedorova, fundadora da Save Dolphins, uma organização russa que ajuda os animais marinhos.

Um cidadão local fotografou as duas belugas (chamadas Tom e Una) na cidade russa de Krasnoyarsk, que se apresentavam em um circo itinerante cujo pode ser traduzido como “Dolphinarium itinerante russo”.

“Elas pareciam muito estressadas, deveriam ter vidas completamente diferentes, percorrendo o oceano com sua família e amigos”, adicionou.

A vida de Tom e Una no Dolphinarium  russo começou há aproximadamente cinco anos quando elas foram capturadas no Mar de Okhotsk, ao largo da costa da Rússia, explicou Fedorova.

Desde então, elas foram forçadas a viajar de cidade em cidade para se apresentarem em shows do SeaWorld, juntamente com focas e golfinhos. “Elas fazem coisas bem básicas, como pular para tocar uma bola, acenar para o público ou carregar um treinador”, continuou Fedorova.

Em outros casos, as belugas podem receber um pincel para pintar uma tela ou ir até a borda da piscina para “beijar” os visitantes e tirar fotos. Em uma imagem, uma foca é vista em cima de uma beluga.

Além do Dolphinarium russo, outra empresa itinerante opera na Rússia, de acordo com Fedorova: o Dolphinarium de Moscou. Porém, a Rússia também possui instalações permanentes que revelam as cruéis condições desses locais.

“Visitei uma instalação em Moscou que era semelhante no design – possuía um tanque assim – acima do solo e revestido de plástico. Ainda que inicialmente fosse algo temporário, tornou-se permanente; estava há dois anos quando eu estava lá em 2013 e acredito que ainda existe. Não era um show itinerante, mas parecia um”, disse Naomi Rose, cientista de mamíferos marinhos do Animal Welfare Institute, ao The Dodo.

Foca é carregada por beluga diante do público
Foca é carregada por beluga diante do público/Foto: Save Dolphins

As piscinas dos shows geralmente não possuem mais de 10 metros de profundidade e cerca de 50 pés de largura, de acordo com Fedorova. Na natureza, as belugas estão acostumadas a mergulhar a profundidades de 131 pés e podem viajar muitos quilômetros diariamente.

“É como viver na banheira.  Não é surpreendente que suas vidas não durem muito – qualquer confinamento para mamíferos marinhos leva ao estresse, não importa o quão grande seja o tanque, é um espaço confinado, que é simplesmente repugnante à natureza deles”, destacou Fedorova.

Infelizmente, a qualidade da água dentro dessas piscinas também é extremamente precária, de acordo com ela. “Eles afirmam ter sistemas de filtração, mas há não muito tempo, durante a inspeção no Dolphinarium da mesma empresa, foram encontrados altos níveis de bactéria E.coli na água”, relatou ela, que teme que a água insalubre mate Tom e Una.

Rose expressou preocupações semelhantes sobre o bem-estar das belugas dentro dessas piscinas e observou que os Dolphinariuns itinerantes não permitem a entrada da luz natural e que diferentes espécies marinhas são frequentemente mantidas na mesma piscina, o que é estressante para os animais.

“A Rússia possui vários recintos temporários – que não são mais do que piscinas de quintal – às vezes com belugas e golfinhos no mesmo espaço, o que significa que a temperatura da água é muito inadequada para uma espécie ou outra ou para ambas”, disse.

Quando os Dolphinariums itinerantes se deslocam de cidade em cidade na Rússia, as belugas são retiradas das piscinas e colocadas em locais de transporte semelhantes a caixões. Muitas vezes, elas passam de cinco a oito dias dentro desses tanques sem nunca poderem nadar, alerta Fedorova.

Beluga executa truque na piscina
Beluga executa truque na piscina/Foto: Save Dolphins

“Não há filtração nesse tanque e a equipe apenas bombeia água fresca uma vez a cada dois dias. Na maioria das vezes, os animais são deixados sem vigilância”, revela Fedorova.

Embora não existam vídeos de Tom e Una dentro dos tanques de transporte, há filmagens de Storm and Calm, duas belugas que foram exploradas no Dolphinarium russo até morrerem em 2016.

“Este vídeo foi feito alguns meses antes da morte. Acredito que a parte mais estressante é que esses animais gigantes, que podem ter de quatro a cinco metros [13 a 16 pés] de comprimento, são mantidos nos tanques de 4,5 metros [15 pés] e isso ser legalizado. Isto é a crueldade animal em seu extremo, mas continua ocorrendo e continuamos testemunhando as mortes de animais repetidamente”, declarou Fedorova.

Ela acredita que as condições de vida precárias mataram Storm and Calm. “O cativeiro as matou e as terríveis condições em que foram mantidas – os pequenos tanques, a qualidade da água, a qualidade dos alimentos, o transporte. Quando descobrimos que Storm e Calm morreram, eu me senti culpada e que falhamos. Como não existem leis que protegem os golfinhos [e as baleias] e nem mesmo os padrões básicos existem, não conseguiríamos fazer nada”, destacou.

Se nada mudar, Fedorova teme que Tom e Una terão o mesmo destino trágico. “O estresse que elas passam diariamente é gigantesco. Os proprietários dos Dolphinariums nem sequer seguem padrões sanitários simples, que frequentemente causam contaminação bacteriana na água. Raramente, as belugas nessas instalações duram mais de 10 anos. Elas simplesmente são substituídas”, esclareceu.

Belugas são forçadas a carregar treinador
Belugas são forçadas a carregar treinador/ Foto: Save Dolphins

As belugas vivem uma média de 35 a 50 anos na natureza. Infelizmente, a ausência de leis de proteção animal na Rússia não facilitará o resgate de Tom e de Una. Além disso, elas foram capturadas por meio de licenças legalizadas, de acordo com Fedorova, e os adestradores não têm a obrigação de desistir delas.

Fedorova espera que o governo russo aprove uma nova lei que proíba permanentemente os Dolphinariums itinerantes. Segundo ela, a única maneira de fazer isso é por meio da educação e da conscientização do público.

“Acredito que apenas as pessoas na Rússia têm o poder de acabar com os Dolphinariums itinerantes e qualquer outro show com mamíferos marinhos e, claro, sequestros na natureza, mas precisamos de apoio do resto do mundo. O governo russo ouvirá um protesto público e reagirá a ele, mas é preciso que venha de cidadãos russos”, declarou.

Ela diz que é igualmente importante acabar com a captura de belugas e de outros animais do Mar de Okhotsk. Enquanto alguns animais são mantidos na Rússia, outros são vendidos para diferentes países, incluindo os EUA.

O SeaWorld e o Georgia Aquarium tentaram, em conjunto, importar 18 belugas capturadas no Mar de Okhotsk, mas foram impedidos por um juiz e abandonaram o plano em 2015 devido à crescente indignação do público. “A captura é extremamente cruel e pode ser facilmente comparada com Taiji. A única diferença é que eles não matam belugas na Rússia, apenas as comercializam. A maior compradora é a China, depois da própria Rússia”, concluiu.

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