Em apenas 200 anos, 47 espécies de aves da Região Metropolitana de Belém, no Pará, podem ter sido extintas localmente. É o que mostra o mais recente levantamento em torno do impacto da perda de vegetação sobre a avifauna amazônica. O trabalho, publicado na revista Conservation Biology, avalia a perda regional, mas a história que conta reflete o drama da chegada do desenvolvimento à floresta.
Os pesquisadores ligados a mais de 20 instituições, entre elas Museu Paraense Emílio Goeldi, Embrapa, Universidade de Lancaster e Instituto Ambiental de Estocolmo, se valeram de identificações feitas pelos primeiros naturalistas, que chegaram a Belém no começo dos anos 1800 e do último levantamento das aves da região, de 1970.
Depois eles começaram a avaliar os registros de visualização daquelas aves depois disso e observaram que cerca de 14% das 329 de terra firme (que não são aquáticas nem migratórias) não são vistas desde 1980. Entre elas está a maior espécie de ave brasileira, o gavião-real (Harpia harpyja), e a arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus). Ambas, de acordo com o estudo, devem ter sumido antes mesmo de 1900.
Segundo Nárgila Moura, do Goeldi, a construção de estradas, primeiramente a Real para ligar Belém a São Luís, e depois a rodovia para Bragança, foram os principais motores da perda de hábitat. No caso do gavião e da arara, ela destaca que a caça e o tráfico de animais foram fundamentais para o desaparecimento local das espécies.
O trabalho está sendo usado para alertar as autoridades para a preservação e recuperação de florestas no entorno da cidade. Nárgila explica que as aves ainda existem em um raio de até 300 km de Belém. “Temos muitos parques urbanos e florestas, mas estão ou degradados ou são de mata secundária. Se forem recuperados, as aves podem voltar a colonizar”.
Fonte: Diário do Grande ABC