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POLUIÇÃO SONORA 

Barulhos do trânsito de carros deixam pássaros mais estressados, revela estudo

Aves que vivem perto de estradas movimentadas ficam agressivos quando o tráfego abafa seus cantos territoriais, e podem ter conflitos.

21 de março de 2025
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Foto: Gary Calton/The Observer

Estudo revelou que o ronco dos caminhões, a buzina dos carros e o burburinho das ruas podem deixar os pássaros muito irritados. Pesquisadores descobriram que machos de Toutinegra Amarela, uma espécie de ave que vivem perto de estradas movimentadas nas ilhas Galápagos, se comportam de forma mais agressiva ao ouvirem o canto de outro macho quando há sons de tráfego por perto.

Os pesquisadores sugerem que isso pode ocorrer porque os pássaros percebem que seus próprios cantos, que servem como um aviso para intrusos em seu território, podem ser abafados pelo barulho do tráfego.

“A comunicação geralmente substitui a agressão física, mas, se a comunicação não é possível por causa do barulho, eles podem acabar adotando comportamentos arriscados que levariam a uma luta física”, disse o Dr. Çağlar Akçay, coautor do estudo da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido.

No estudo publicado na revista Animal Behaviour, a equipe relatou como analisou o comportamento de 38 machos em duas ilhas de Galápagos. Enquanto 20 dessas aves viviam perto de estradas, 18 faziam ninhos longe do tráfego.

No território de cada macho, a equipe tocou duas gravações de som em dias diferentes. Uma gravação continha apenas o canto de outro macho da mesma espécie, enquanto a outra incluía também sons de tráfego.

A equipe descobriu que os machos que viviam perto de estradas movimentadas se comportavam de forma mais agressiva no segundo caso, aproximando-se e voando ao redor do alto-falante em busca do intruso. Akçay explicou que, embora uma possibilidade fosse que eles se aproximassem para serem ouvidos, nem todos os machos cantavam ao se aproximar – o que sugere que estavam prontos para uma briga.

“Se houvesse um pássaro real em vez de um alto-falante, isso significaria… um desafio, basicamente, e poderia resultar em uma luta física”, explicou ele.

Em contraste, os machos que viviam longe das estradas mostraram menos agressividade na presença de barulho de tráfego – possivelmente, segundo a equipe, porque estavam assustados com o som desconhecido.

Os cientistas observaram que os machos que viviam na ilha de Santa Cruz, mais populosa, cantavam por mais tempo na presença de sons de tráfego, enquanto o oposto ocorria com os da ilha de Floreana, menos habitada.

No entanto, de forma geral, os machos aumentaram levemente as frequências mínimas de seus cantos quando os sons de tráfego eram reproduzidos – possivelmente para facilitar que outros os ouvissem. E, embora um aumento na frequência máxima tenha sido observado apenas nos machos que viviam longe do tráfego, a equipe sugere que isso pode ocorrer porque os pássaros que viviam perto das estradas já cantavam na frequência máxima ideal.

Akçay disse que é possível que os pássaros mais capazes de lidar com o barulho do tráfego tenham se estabelecido perto das estradas, mas, por outro lado, pode ser que eles tenham se adaptado por viverem próximos ao tráfego.

E, como há poucas pessoas em Floreana, isso levanta outra questão.

“Até mesmo essa pequena exposição [ao tráfego], aparentemente, tem algum efeito”, disse ele. “Precisamos pensar na poluição sonora mesmo em lugares como Galápagos, e no impacto desse tipo de poluição sobre as espécies únicas que vivem lá.”

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