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IMORAL

Barbárie: marcas de moda retrocedem ao utilizar peles de animais em novas coleções 

Uma designer uruguaia chamou atenção ao usar casacos antigos de pele de vison para criar novas peças em sua coleção, ignorando o peso da crueldade que aquelas roupas carregam

18 de março de 2025
Júlia Zanluchi
4 min. de leitura
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Gucci Inverno 25 — Foto: Getty Images

Desfiles de moda das coleções de Outono/Inverno 2025 trouxeram de volta o uso de peles reais ou sintéticas, em coleções de grandes marcas como Gucci, Prada, Fendi e Valentino. Apesar dos avanços recentes em direção a uma moda mais ética, sustentável e respeitosa, a reintrodução desse material, que só existe por conta dos maus-tratos e exploração, parece cada vez mais próxima, seguindo a onda mundial de conservadorismo.

Até marcas mais novas e vistas como revolucionárias estão se contradizendo, como Luar, Simone Rocha e designer uruguaia Gabriela Hearst, que usou casacos antigos de pele de vison para criar novas peças em sua coleção. A consultora de moda Costanza Pascolato expressou surpresa com o retorno das peles, destacando que, após anos de proibições e campanhas contra o uso de materiais de origem animal, essa tendência parecia ter sido relegada ao passado.

Gabriela Hearst Inverno 25 — Foto: Getty Images

Claudia Castanheira, gestora de comunicação do Fashion Revolution Brasil, vê nessa tendência um reflexo de uma onda conservadora que vai além da moda. “O retorno das peles pode sinalizar um retrocesso em termos de valores sociais e ambientais. A moda não existe no vácuo; ela reflete e reforça os ideais de uma sociedade. Quando resgatamos estéticas do passado sem questionar seus impactos, corremos o risco de normalizar práticas que já deveriam ter sido superadas”, afirmou.

Existe um debate acerca da ideia de que, se o casaco já existe, é mais sustentável que seja usado do que descartado. Entretanto, ONGs defesa protetoras de animais afirmam que há alternativas ainda mais sustentáveis e menos cruéis, como doá-los para espaços de reabilitação de animais selvagens, que usam as peças para aquecer, proteger e trazer conforto a animais feridos ou órfãos.

Uma verdadeira alternativa mais sustentável seriam os biomateriais inovadores, utilizados para produzir peças de pele falsa. A dinamarquesa Ganni, por exemplo, utilizou poliéster reciclado para simular o efeito de pele em sua coleção, enquanto a britânica Stella McCartney apostou no Savian, um biomaterial vegano feito de urtiga, cânhamo e linho. Essas iniciativas mostram que é possível criar peças luxuosas e sofisticadas sem recorrer a práticas cruéis ou insustentáveis.

Stella Mccartney Inverno 25 — Foto: Getty Images

O uso de peles, mesmo vintage, pode perpetuar a demanda por esse material e normalizar sua estética. “O uso de peles, mesmo antigas, pode reforçar a estética e o desejo por um material cuja cadeia produtiva sempre foi problemática, tanto do ponto de vista ético quanto ambiental. Além disso, a longevidade da peça não anula seu impacto”, disse Castanheira.

“A peça mais sustentável é aquela que já existe, mas precisamos nos perguntar: qual mensagem estamos transmitindo ao usar peles, mesmo que antigas? Se queremos uma moda verdadeiramente ética, talvez seja hora de deixar as peles no passado”, ponderou ela.

A produção de peles reais está diretamente ligada à crueldade animal. Animais como raposas, visons e coelhos são criados em condições deploráveis, confinados em pequenas gaiolas, e mortos de forma brutal para atender à demanda da indústria da moda. Além disso, a criação desses animais está ligada a práticas ambientalmente destrutivas, como o desmatamento e o uso intensivo de recursos naturais.

A volta das peles nas passarelas não é apenas uma questão de tendência; é um reflexo de escolhas que têm impactos reais no planeta e na vida de milhões de animais. Enquanto marcas e consumidores continuarem a valorizar o luxo a qualquer custo, a moda seguirá sendo uma indústria problemática. A mudança, no entanto, é possível. A pressão dos consumidores, aliada a iniciativas como o Fashion Revolution, já provou ser capaz de influenciar grandes grifes a adotarem práticas mais éticas e sustentáveis.

Neste momento decisivo, em que a crise climática e a perda de biodiversidade exigem ações urgentes, a moda não pode se dar ao luxo de retroceder. A escolha é clara: continuar perpetuando um sistema que explora animais e destrói o meio ambiente ou abraçar inovações que promovam um futuro mais justo e sustentável. A resposta está nas mãos de designers, marcas e, principalmente, dos consumidores. Afinal, a moda é um reflexo de quem somos.

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