(da Redação)
Um edifício de concreto que já foi um “galinheiro” agora é parte de uma fazenda com um tipo totalmente diferente de “gado” – milhões de baratas são criadas unicamente para a exploração humana.
No interior, se contorcendo, massas de insetos de cor marrom-avermelhada entre folhas de metal e caixas de ovos amarrados para fornecer o tipo de esconderijo escuro que lhes favorece.
Wang Fuming se ajoelha e tira um dos ninhos. Desacostumadas à luz, as baratas correm sobre o seu corpo, algumas indo direto até seu braço em direção à sua camisa de manga curta.
“Não há nada a temer”, disse Wang, aconselhando os visitantes que estão se encolhendo de volta para o corredor, onde as baratas se apegam a um teto que está perigosamente perto deles.
Embora baratas evoquem um medo visceral para a maioria das pessoas, Wang olha para elas “com carinho”, não por suas vidas mas como representação da fortuna que pode extrair as produzindo em massa sob um processo produtivo cruel. As informações são do LA Times.
O empresário é o maior criador de baratas na China (e provavelmente do mundo), com seis fazendas povoadas por um número estimado de 10 milhões de baratas. Da mesma maneira que vacas, bois ou cães, as baratas, que uma vez foram motivo de náuseas, são consideradas objetos da exploração humana, e Wang se aproveita desta situação sem escrúpulos, vendendo esses insetos para produtores de medicina asiática e para empresas de cosméticos que valorizam-nas como uma fonte barata de proteínas, bem como para uso da substância similar à celulose em suas asas.
A raça preferida para esta finalidade é a Periplaneta americana, ou “barata americana”, de cor castanho-avermelhada, que cresce até cerca de 1,6 centímetros de comprimento e, quando adulta, pode voar, ao contrário da menor, mais escura e sem asas, a barata alemã.
Segundo a reportagem, desde que Wang entrou neste negócio em 2010, o preço das baratas secas aumentou dez vezes, de cerca de 2 dólares por libra (450 gramas) para até 20 dólares, com os fabricantes de remédios para a medicina tradicional e de cosméticos passando a utilizar “baratas em pó pulverizadas”.
“Pensei em criar porcos mas, com a agropecuária tradicional, as margens de lucro são muito baixas”, disse Wang. “Com as baratas, você pode investir 20 yuans e ter 150 yuans de retorno”, ou 3,25 dólares para um retorno de 11 dólares.
A China tem cerca de 100 fazendas de baratas, e as novas estão abrindo quase tão rápido quanto a proliferação das raças. Mas, mesmo entre os chineses, a indústria era pouco conhecida até agosto, quando um milhão de baratas escapou de uma fazenda em uma província vizinha de Jiangsu. O fato gerou manchetes pela China e outros países, sendo associado às imagens bíblicas do enxame de gafanhotos.
Essa fuga das baratas, chamada “Great Escape”, ocorreu quando o edifício onde eram criadas foi demolido por irregularidades. Os animais escaparam, e oficiais da área de saúde foram chamados para exterminá-los. As baratas foram criadas para o consumo humano e mortas em grande escala pelo asco humano. O empresário, além disso, foi ressarcido por possíveis danos – ou seja, ele nem mesmo foi responsável por toda essa atividade maquiavélica de criação e genocídio de animais.
De acordo com a reportagem do LA Times, pelo menos cinco empresas farmacêuticas estão usando baratas para a medicina tradicional chinesa.
Nota da Redação: É comum que se deixe de considerar insetos como possuidores de um valor intrínseco que retira qualquer legitimidade de exploração sob seus corpos, entretanto é necessário ter em mente que esta exploração é exatamente a mesma que acontece com o gado. Há uma técnica de criação, reprodução e extermínio dos animais para que sejam vendidos à diversos produtores de alimentos e fármacos. Talvez a repulsa seja um dos motivos para que se desconsidere insetos como detentores de direitos, como seres vivos dignos de exercerem sua própria liberdade, entretanto, o abuso que recebem é exatamente o mesmo que é aplicado à diversos outros animais e a necessidade de ter uma vida respeitada – e não importa se sintam asco ou não – ainda existe.